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Comportamento

Todo mundo pode usar salão de candomblé no Pioneiros, em resposta à intolerância

Paula Maciulevicius | 16/11/2016 06:54
Líder da casa, Edson explica o que é a senzala e como a religião está aberta para a comunidade. (Foto: Alcides Neto)
Líder da casa, Edson explica o que é a senzala e como a religião está aberta para a comunidade. (Foto: Alcides Neto)

Como resposta à intolerância religiosa, o candomblé abriu as portas da "senzala". O anexo à casa "Egbe omo o ni ode" funciona no outro lado da rua, no bairro Pioneiros, em Campo Grande e pode ser usado pela comunidade do bairro para festas e confraternizações. Numa primeira impressão, o nome pode soar grosseiro, mas a explicação do babalorixá, líder religioso da casa, é a prova do quanto se julga a religião alheia sem conhecer.

Desde 1985, a Rua Joaquim Alves Pereira é sede de uma casa de candomblé, a mesma que levou cerca de 300 pessoas do Pioneiros até o Lago do Amor no último domingo, em comemoração ao Candomblé de Oxum. Um evento como este, nas palavras da liderança da casa, traz gente do Brasil todo, daí a necessidade de acomodá-los.

"A senzala é um espaço que a gente acomoda, hospeda as pessoas. É a extensão profana da casa", explica o babalorixá, Edson Fernandes, de 45 anos. Dentro do terreiro não acontecem festividades que não estejam ligadas aos eventos religiosos, o que houver de "profano" na programação, como recepção e jantares, é feito na senzala. 

Caminhada em comemoração ao Candomblé de Oxum, realizada no último domingo, até o Lago do Amor.
Caminhada em comemoração ao Candomblé de Oxum, realizada no último domingo, até o Lago do Amor.

O nome dado ao espaço é "Senzala Pioneiros", que remete à tradição do candomblé. "Antigamente os negros se reuniram na senzala, apesar de ficarem aprisionados, era ali que eles se confraternizavam, brincavam e enganavam seus senhores com relação ao culto", conta o babalorixá Edson.

Nas senzalas ficavam os altares com imagens presentes na Igreja Católica, religião do senhorio e abaixo deles, os objetos sagrados, pertinentes ao culto aos orixás. "Então festividades, a capoeira, tudo acontecia na senzala. Quem não se aprofunda na história, pode pensar que é uma expressão agressiva, mas não. Todas as casas tradicionais na Bahia, por exemplo, a gente chega e já pergunta: onde é a senzala?", exemplifica o líder. 

A Senzala ainda está no acabamento final, mas já recebeu festas. São 160m² que abrem as portas também como resposta à intolerância religiosa. "É um espaço para a comunidade, uma forma de apaziguar a intolerância. Nessa quadra aqui, todos sabem desse espaço", explica o babalorixá. 

Estrutura ainda está em fase de acabamento, mas já recebe festividades. (Foto: Alcides Neto)
Estrutura ainda está em fase de acabamento, mas já recebe festividades. (Foto: Alcides Neto)

O salão têm quartos, banheiros, cozinha e em breve receberá a cobertura. Tudo para mostrar, a quem não frequenta o terreiro, que o crença é do bem. "Nós cedemos a estrutura, traz seu botijão de gás, tem freezer aqui. Lógico que é uma questão de consciência, porque se paga água, luz, esgoto. Então se quiser contribuir, mas é para a comunidade", enfatiza o líder.

A preocupação do babalorixá é com os tempos de perseguição que a religião já começa a viver. "Estamos numa fase complicada. A Lei do Silêncio, por exemplo, vem para nos sufocar. Temos que ter muito cuidado nos nossos cultos, não temos nenhum tipo de defesa contra isso e infelizmente estão vindo muitos evangélicos radicais, não são todos, mas têm", contextualiza o líder.

As casas de candomblé, segundo o babalorixá, já estão sendo retiradas dos morros cariocas. "Estão sendo expurgadas, porque os bandidos são evangélicos. O culto familiar é o mais perseguido, a gente teme hoje", reforça.

No bairro, os moradores já sabem que podem contar com a hospitalidade da senzala. "Tem aniversário e não tem espaço? Está aqui", oferece Edson.

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