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Comportamento

Um ano após a 1ª entrevista, Ana Carolina virou símbolo contra o aborto

Paula Maciulevicius | 10/02/2016 06:34
Ana Carolina na formatura em Jornalismo. (Foto: Marcos Ermínio)
Ana Carolina na formatura em Jornalismo. (Foto: Marcos Ermínio)

Era novembro de 2014, quando nem se imaginava que a microcefalia voltaria à tona, pela relação entre o mosquito Aedes Aegypti, o Zika Vírus e a má formação fetal, quando o livro de Ana Carolina Cáceres - "Selfie: em meu autorretrato, a microcefalia é diferença e motivação" - surgiu na redação. Carol estava se formando em Jornalismo e resolveu escrever sobre si, como uma selfie, sobre o convívio há anos com o que é notícia hoje.

Na época contamos sua história aqui no Lado B e no ano seguinte à entrega do TCC (Trabalho de Conclusão de Curso), Ana Carolina virou personagem até para veículos internacionais. A menina que tinha o diagnóstico médico ao nascer, de que nem conseguiria andar, hoje ergue a bandeira contra o aborto. A discussão da interrupção da gravidez em casos de microcefalia foi vista com ofensa pelos olhos de Carol. Ela não estaria aqui e nem teria contado sua história até para o Washington Post, se sua mãe tivesse abortado. 

A microcefalia é uma síndrome caracterizada pelo fechamento prematuro das fissuras do crânio, que pode trazer danos ao desenvolvimento cerebral da criança, ocasionando sequelas cognitivas e/ou motoras, além de outras síndromes associadas como a paralisia cerebral.

Foi essa a explicação de Carolina para a má formação à época da primeira entrevista ao Lado B. Carol nasceu em março de 1991, quando nenhum dos exames feitos pela mãe durante a gestação indicavam qualquer problema.

"Selfie: em meu autorretrato, a microcefalia é diferença e motivação", foi título do TCC de Carol.
"Selfie: em meu autorretrato, a microcefalia é diferença e motivação", foi título do TCC de Carol.

"Quando a microcefalia veio à tona, eu levei um susto. Principalmente depois que os repórteres locais começaram a me procurar para falar sobre. E mesmo que a minha história não seja como estas com relação ao Zika, por ser uma microcefalia com causas genéticas, eu me senti na obrigação de, com o máximo de informações que eu pudesse dar, falar de algo tão pouco falado como a microcefalia".

As primeiras reportagens começaram no fim de 2015, mas a coisa foi maior depois de um comentário que ela fez na página da BBC, opinando contra o aborto e contando o porquê. "Um jornalista da BBC viu tal comentário e ele entrou em contato comigo. Depois que tal matéria foi para rede eu dei entrevista para tudo que é canto. Desde jornais argentinos até mesmo americanos", descreve a jornalista.

Até ao vivo em rádio, falando espanhol para veículos de Colômbia, Argentina e Equador, a menina encarou. Menina porque aos olhos do Lado B, Carol e toda sua paixão pelo violino e por seu muso inspirador Marcelo Tas, sempre farão dela uma garota.

Uma das gravações em casa, sobre a história de Carol. (Foto: Arquivo Pessoal)
Uma das gravações em casa, sobre a história de Carol. (Foto: Arquivo Pessoal)

Formada em Jornalismo, ao mesmo tempo em que o telefone celular tocava para entrevistas, ela batia às portas das redações pedindo emprego. "Apesar de estar buscando emprego e tudo mais, quando levantei essa bandeira foi porque muitos desses pais de crianças portadoras da microcefalia me nomearam porta voz para defender está causa. E eu como jornalista e por ter vivido com isso, não tive como recusar. E defendo piamente que sim, crianças com microcefalia tem direito à vida e a um tratamento digno de acordo com suas necessidades".

A profissão exigiu dela, no início da faculdade e no dia a dia, que para se contar boas histórias, é preciso saber ouvir. Uma que ela saiba de cor então, é a certeza de que o texto encontrou seu autor. As palavras têm encontrado Ana Carolina e vice-e-versa nos relatos surpreendentes, de casos do dia a dia, que ela tem procurado ou que chegam até ela.

"A microcefalia está aí no nosso dia a dia. Sempre esteve porque ela já não é de hoje e a partir desse princípio, vou defendendo a causa de tantas crianças que estão por vir. Mas isso eu defenderia por conhecer tão de perto a situação de qualquer forma. Eu sou assim, de defender o que acredito. A profissão que escolhi só reforçou este sentimento que sempre existiu", explica.

Ana também é voz, ao lado das irmãs Adriana e Patrícia, que também tem microcefalia. (Foto: Marcos Ermínio)
Ana também é voz, ao lado das irmãs Adriana e Patrícia, que também tem microcefalia. (Foto: Marcos Ermínio)

Carol sempre foi contra o aborto, antes mesmo de se tornar a voz de tantas mães e filhos. "Interromper a gravidez? Sou contra, porque tem um corpo ali dentro, uma vida começando, alguém que independente de como for vai ficar neste mundo depois que você for. Logo, sou contra sim o aborto em todos os casos, exceto de crianças anencéfalas, que estas, infelizmente, morrem logo após o parto em todos os casos".

A luta não para por aí. As entrevistas podem até ficar para trás, mas Carol vai continuar, por si, escrevendo o que precisa ser lido. Dizendo o que precisa ser dito. "Eu vou continuar a batalha com um blog e uma página que criei esta semana. Enquanto eu não estiver trabalhando vou procurar alimentar os dois com histórias de outros casos de famílias com portadores de Microcefalia, diariamente. Assim eu pratico o jornalismo, que essa profissão que escolhi por amor e ainda ajudo tantas outras famílias a conhecer através dessas histórias reais a microcefalia".

O endereço do blog de Carol é: https://microcefaliadiaadia.wordpress.com/ e a página no Facebook, Microcefalia dia a dia.

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