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Comportamento

Uma crise daquelas e um blog para jogar sujo e falar mal da Dona Ansiedade

Elverson Cardozo | 12/04/2015 07:45
Levei a Dona Ansiedade para a terapia e, hoje, consigo enxergar o que faz a tremer nas bases e o que me deixa mais forte diante dos ataques. (Foto: Arquivo Pessoal)
Levei a Dona Ansiedade para a terapia e, hoje, consigo enxergar o que faz a tremer nas bases e o que me deixa mais forte diante dos ataques. (Foto: Arquivo Pessoal)

Antes de criar um blog para falar das minhas crises, tentei manter um sobre a vida de repórter. Abandonei. Tempos depois, mais animado, montei outro, desta vez sobre jornalismo de TV. Estruturei tudo, mas desisti antes mesmo de lançar. Teve a fase em que resolvi focar no regime, já que estava imenso, e fiz o terceiro, sobre dieta. Seria uma espécie de diário, se estivesse levado adiante e saído do primeiro post, claro. Eu escrevi, mas apaguei, e a página também se foi.

A sorte é que, mesmo sem diário, consegui emagrecer depois de muita persistência e de uma severa reeducação alimentar. Ponto positivo para alguém que sempre desistiu das coisas, porque nunca teve a mínima paciência de esperar os resultados.

Desisti de todos esses blogs, e de vários outros projetos pessoais, porque não sei (ou não sabia) esperar o tempo certo de nada e porque luto, desde a adolescência, contra uma inimiga cruel, a Dona Ansiedade, senhora antipática, de nome estranho, que se achou no direito de invadir a minha vida com 16 anos e, hoje, toma conta da minha mente como se estivesse na própria casa.

Nossa relação nunca foi das melhores. Vivo em crise. Nunca estou preparado para recebê-la, mas ela, abusada, não avisa o dia da visita. Sossego que é bom, nada. Estou nessa rotina enlouquecedora há anos e, por mais que tente, ainda não consegui fugir da encrenca e nem me livrar do que os médicos psiquiatras e os psicólogos chamam de TAG (Transtorno de Ansiedade Generalizada).

Bem que me esforcei. Fiz de tudo para botar a desgraçada porta afora. Confesso que tentei matá-la com remédios fortes, aqueles que a gente só compra com receita e, quando toma, fica meio aéreo. Não adianta. A infeliz não cai fácil. Resolvi usar a inteligência. Parti para a negociação. Tentei o diálogo. Levei a Dona Ansiedade para a terapia e, hoje, consigo enxergar o que a faz tremer nas bases e o que me deixa mais forte diante dos ataques.

Já que a malvada não me larga e eu ainda não consigo arranjar forças para expulsá-la sozinho, resolvi brincar um pouco, jogar sujo com ela, no bom sentindo, se é que alguém me entende. Em Dezembro do ano passado, no auge de uma crise daquelas, tive uma ideia.

Criei um blog, mais um, mas este último, eu prometi para mim mesmo, foi para falar mal da sem-vergonha. Ela não me fez desistir dos outros? Agora aguenta! Toda vez que a maluca tenta me atrapalhar eu vou lá e revelo o plano. Conto tudo. Mostro quem ela é. Acabo ganhando aliados com isso, sabe? Todo mundo fica do meu lado, até eu. Ninguém gosta dela mesmo...

Acho que a cretina está ficando incomodada com tudo isso. Se bem conheço a peça, sei que ainda terei de travar algumas brigas, mas sinto que a criatura pode ir embora mais rápido do que espero. Não vejo a hora. Se isso acontecer, não pense ela que vou desistir do blog. Isso aqui se chama vingança.

*Elverson Cardozo é jornalista e autor do blog Eu Ansioso.

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