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Comportamento

Uma infância marcada por sanfona, violão e vagões de trem em Porto Esperança

Lenilde Ramos | 04/01/2015 07:56
Ponte velha, inaugurada em 1947, com o nome Ponte Barão do Rio Branco, depois rebatizada como Ponta Eurico Gaspar Dutra. Para mim é a ponte dos passeios de minha infância em Porto Esperança.
Ponte velha, inaugurada em 1947, com o nome Ponte Barão do Rio Branco, depois rebatizada como Ponta Eurico Gaspar Dutra. Para mim é a ponte dos passeios de minha infância em Porto Esperança.

Em vez de bonecas e carrinhos, minha infância foi marcada por brinquedos diferentes: sanfona, violão e vagões de trem. Em casa, eu escalava o armário para admirar o violão do meu pai, um instrumento de 1926, com detalhes de madrepérola.

A sanfona de minha mãe era pesada e a brincadeira tinha que ser compartilhada com minha irmã: uma puxava o fole e a outra viajava nas teclas.

Um dia, vesti aquele brinquedo, tropecei e fui pro chão com a sanfona. Quando pensei que ia levar uma surra, meu pai comprou uma pra mim. Aí eu ligava o rádio e tentava encontrar o botão que combinava com a música.

Em Aquidauana, a aventura era com os vagões dos trens de carga, pular de um para o outro, admirando os engates enormes, as pesadas rodas de ferro e o vapor de óleo exalando daquele brinquedo fabuloso.

Em Porto Esperança, a brincadeira extrapolava qualquer dimensão e a aventura era subir os degraus da ponte velha e, lá de cima, admirar a majestade do Rio Paraguai, prazer que reencontrei uma vida inteira depois, tocando para os turistas do Pantanal Park Hotel.

Quando fui escriba no gabinete do Governador Wilson Barbosa Martins, recebi uma incumbência tão fabulosa que guardo para contar aos netos.

A ponte velha foi abandonada e a travessia do Rio Paraguai passou a ser feita de balsa. Quem não se lembra? Muito se falava sobre a construção de uma nova ponte, até que, no trabalho, me incumbiram de redigir ofícios ao Fonplata, Fundo Latinoamericano de Investimentos, justificando a importância de se construir uma nova ponte.

Minha cabeça ia longe lembrando de meu pai e de tantos heróis anônimos da Estrada de Ferro Noroeste do Brasil e eu escrevia com a alma.

Ofícios, debates, e contatos se estenderam até que a nova ponte começasse a ser erguida. Toda vez que viajava a Corumbá e atravessava o rio de balsa, eu acompanhava a evolução das obras e, naquela engenharia, colocava um pedaço de minha história.

Quando Zeca do PT assumiu o governo, a obra estava praticamente pronta. Nessa época tive oportunidade de acompanhar uma inspeção à ponte, com o privilégio de fazer todo o percurso à pé e, ainda, um super voo de helicóptero.

Chamei o fotógrafo e subimos. Foi mágico, até eu dizer ao colega: "Cara... e aí... não vai fotografar?". Ele, me olhou constrangido e respondeu:"Desculpe Lenilde, esqueci os filmes lá embaixo!

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