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Comportamento

Velório do tio "Milagroso" foi como ele pediu: churrasco e cerveja por 2 dias

Paula Maciulevicius | 05/10/2015 06:34
Na calçada da funerária, amigos e familiares vestiam a camisa de Milagroso e bebiam por ele. (Foto: Arquivo Pessoal)
Na calçada da funerária, amigos e familiares vestiam a camisa de Milagroso e bebiam por ele. (Foto: Arquivo Pessoal)

Nas brincadeiras, quando a morte era assunto, seu Antônio Alencar já dava o recado, não queria ninguém triste em seu velório. Para a família, ainda pedia que tocasse "Boate Azul" e que todo mundo bebesse. Foi assim por anos até que chegou a hora de realizar o desejo. Na calçada da funerária, por quase dois dias, teve cerveja, carne, mandioca e carro de som, tocando a música pedida.

Seu Antônio, conhecido como "tio Milagroso" morreu no último dia 24, de infarto, aos 69 anos. E deixou um legado de história e saudade. Assim que a notícia se espalhou, os familiares foram se achegando na casa da filha do tio, com um fardo de cerveja. O velório foi da noite de quinta até a manhã de sábado. A "demora" tinha justificativa e não era por conta da festa. O filho de Milagroso mora em Aracaju, no Sergipe e não conseguiu chegar antes.

Na noite de quinta, ainda eram poucos os que encaravam a cerveja. Os amigos de longa data ficavam até meio desconcertados. Na sexta, todos entraram no ritmo para fazer a justa homenagem. "Depois do horário comercial, onde todo mundo tinha condições de poder beber, começou rolar cervejada", descreve o sobrinho de Milagroso, Osmar Cozzatti, de 28 anos.

Isopores acondicionavam a cerveja que ficava na calçada. (Foto: Arquivo Pessoal)
Isopores acondicionavam a cerveja que ficava na calçada. (Foto: Arquivo Pessoal)
Até carne assada e mandioca apareceram na despedida. (Foto: Arquivo Pessoal)
Até carne assada e mandioca apareceram na despedida. (Foto: Arquivo Pessoal)

O isopor esvaziou e em cinco minutos, o chapéu do irmão do velado conseguiu arrecadar mais de R$ 200,00. "Acredito que a empresa onde foi o velório viu que tinha muita gente, acho que não tinha clima para velório de mais ninguém. Ficamos só nós", completa Osmar.

É a primeira vez que se tem notícia de um velório de festa na porta da funerária. "A gente fez o que ele realmente queria e o que era para ser um momento triste, virou uma descontração", conta o sobrinho. Um dos irmãos de Milagroso foi para casa na sexta-feira, assou carne e voltou com pedacinhos, acompanhado de mandioca, num tupperware. No carro de Osmar, só tocava a playlist do tio: Boate Azul e Asa Branca.

O sobrinho que chegou até a chamar amigos para fazer um "esquenta" no velório, diz que essa foi a forma de retribuir, com felicidade, a vida de seu Antônio.

Os presentes brindaram a vida de Milagroso ao invés de chorar sua morte. (Foto: Arquivo Pessoal)
Os presentes brindaram a vida de Milagroso ao invés de chorar sua morte. (Foto: Arquivo Pessoal)

"Meu tio era uma pessoa humilde, ele podia ter dinheiro, ter construído uma casa melhor, mas ele nunca ligou para essas coisas. Isso que era o mais admirável nele", descreve.

A humildade e o fato de ser extremamente prestativo, além de encarar a vida no bom humor, levou a família a atender o pedido. "Foi bem da maneira dele mesmo, o que ele deixou dito, que quando morresse, a gente fizesse uma festa, seguimos à risca", reforça o irmão Alberto Alencar.

Foi no velório que Alberto comemorou 50 anos. "A gente comemorou junto com ele, numa cervejada lá dentro do velório e numa roda com amigos", conta Alberto. Uma coisa atípica, para um ser querido. Milagroso ganhou esse apelido numa brincadeira do pai, seu Vergnaud Arnaldo de Alencar, conhecido por aqui como "Ceguinho".

"Quando o Antônio nasceu, tinha um padre em Minas Gerais que se dizia milagroso. Papai era uma pessoa bem humorada e falou que meu irmão tinha sido tocado pelo padre milagroso, então o menino era milagroso. Aí ficou", explica Alberto.

Desprendido de tudo, sempre sorridente, o tio Milagroso ganhou até camiseta no velório. Para quem não tinha tempo ruim, como conta a família, ele merecia uma despedida à altura. Cláudia, a filha de Antônio, relata que foi algo inacreditável. Longe de faltar com respeito, em vez da morte, se comemorou a vida dele.

"Ele teve muitos amigos, tinha um jeito irreverente e aquela imagem de que era imortal. Todo mundo ficou bebendo e ouvindo a música. Assim, tentamos fazer a vontade dele e ele ficaria muito feliz se tivesse visto isso", acredita a filha, Cláudia da Silva Alencar Motta, de 46 anos.

Milagroso deixou a mulher, dois filhos, quatro netos e grandes admiradores. Uma história bonita de vida, de quem agora passou para o outro lado.

Milagroso e o irmão Alberto. Foto mostra como era espirituoso seu Antônio. (Foto: Arquivo Pessoal)
Milagroso e o irmão Alberto. Foto mostra como era espirituoso seu Antônio. (Foto: Arquivo Pessoal)
Em entrevista ao Lado B no ano passado, seu Antônio era figura. (Foto: Arquivo/Marcos Ermínio)
Em entrevista ao Lado B no ano passado, seu Antônio era figura. (Foto: Arquivo/Marcos Ermínio)
Sobrinho levou os amigos para um "esquenta" no velório. (Foto: Arquivo Pessoal)
Sobrinho levou os amigos para um "esquenta" no velório. (Foto: Arquivo Pessoal)
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