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Comportamento

Vida sacrificada já fez dona Nalzira mudar de nome duas vezes

Ângela Kempfer | 03/09/2013 06:08
O azul da cortina é o contraste com a vida dura de 73 anos. (Fotos: Cleber Gellio)
O azul da cortina é o contraste com a vida dura de 73 anos. (Fotos: Cleber Gellio)

De Universina, ela mudou de nome duas vezes até se chamar Nalzira. O que não falta para a senhora de 73 anos é detalhes nessa história que começou no “meio do mato”, em Rio Brilhante, conta a mulher que também coleciona pais. São 3 ao longo da vida e nenhum ao mesmo tempo.

Cada vez que ela mudava de casa, um novo “batismo” acontecia. Não, nunca houve o sacramento católico propriamente dito, apenas a mudança de acordo com a vontade que quem estava no controle. 

A mãe abandonou Universina muito pequena, para viver com o novo marido. “Me deixou no mato sozinha. Daí, um dia, meu tio foi caçar e me encontrou”, detalha sobre o que parece inacreditável.

“Eu era só pele e osso. Meu tio me cuidou, mas também era muito pobre. Eu comia arroz puro, no mesmo prato da minha prima Clotilde. Mas como eu era muito lerda, ela comia tudo antes de mim”, lembra.

Meses depois, acabou adotada por uma família turca, e de Universina passou a se chamar Nazira - Pessoa distinta na origem grega.

“Até no barbeiro tiveram de me levar para tirar os bichos da cabeça. Depois, fui morar na cidade, ali na rua 14 de Julho, perto da estação ferroviária”, diz a senhora que lembra de todos os nomes, endereços e passagens de uma vida complicada.

Dona Nalzira em casa, no bairro Parati.
Dona Nalzira em casa, no bairro Parati.

Na casa da nova família, passou a fazer todo trabalho doméstico. Diz que até chegou a frequentar a escola. “Apanhava muito na cabeça, mas nunca aprendi nada. Só revolta”, reclama.

Cresceu servido, lavando, passando e depois cuidando dos filhos da irmã postiça. “Quando me perguntam quem são meus pais, digo que sou filha do vento. Nunca tive um de verdade.”

Aos 16 anos resolveu dar um basta se casando com um sapateiro. Surgiu então o 3º nome, desta vez o oficial, o primeiro documentado em cartório. Desde então, ela se chama Nalzira.

“O homem do cartório errou, colocou um ‘L’ no meio. Pode parecer pouco, mas faz uma diferença danada na hora das pessoas falarem”, comenta.

O que não mudou foi o sacrifício. E o passado voltou a se repetir. Entre idas e vindas com o marido, teve 8 filhos. Um deles, “motivo da maior dor”, segundo ela, acabou entregue à madrinha porque nasceu de 7 meses. “Dei para ela cuidar porque eu não tinha condições, mas ela não quis mais me devolver”, justifica.

Dos 8, ficaram 7, mas um morreu em acidente de moto. “Perdi o Silvio, ele era lindo”.

Dura na relação com filhos e netos, Nalzira tenta uma explicação para a forma como “criou” a família. “Só queria que nenhum deles passasse perto do que eu passei”, diz, pedindo perdão aos filhos Andreza, Dione, Wilson, Betânia, Mara, Eder e Edilson.

“Tem horas que eu fico triste, as pessoas dizem que eu sou carente. Devo ser mesmo. Mas daí eu penso, nunca tive nada de bom para dar para eles, mas também nunca foi numa cadeia ver um filho. Não tenho porque ser triste. Não dá mais para reclamar do que passou”, ensina.

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