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Comportamento

Viva o "Trago Longo", bar famoso pela casquinha de siri e canja na madrugada

Naiane Mesquita | 24/08/2015 10:25
Os irmãos Gil e Paulo Afonso Ourives visitaram o espaço que foi o bar Trago Longo durante dez anos (Foto: Fernando Antunes)
Os irmãos Gil e Paulo Afonso Ourives visitaram o espaço que foi o bar Trago Longo durante dez anos (Foto: Fernando Antunes)

Nos anos 80, um bar fez a cabeça de muito campo-grandense, unindo três ingredientes de sucesso: bebida, música e comida boa. Na lista de bares que marcaram gerações, o Trago Longo era conhecido como o point das casquinhas de siri e de um canja de galinha servida nas madrugadas de Carnaval.

Quem cruzava a avenida Mato Grosso, próximo ao Colégio Auxiliadora, tinha a opção para passar os finais da tarde até a madrugada no espaço. A festa corria solta de terça a sábado, comandada pelos irmãos Ourives e ao som de figurinhas carimbadas de Campo Grande, como os membros da família Espíndola.

Logo do velhinho embriagado que Paulo trouxe do Rio de Janeiro.
Logo do velhinho embriagado que Paulo trouxe do Rio de Janeiro.

Boêmios de carteirinha, os irmãos Durval Jr e Gil Ouvires decidiram tocar o Trago Longo em 1983. “A gente frequentava muito bar. Decidimos parar de dar dinheiro para os outros. Vendi um carro, um Opala que eu tinha, e montei com o meu irmão o Trago Longo”, lembra Gil.

Na época, com 19 anos, ele conta que no início o negócio andava mais na base da brincadeira. “Compramos duas garrafas de gim, de Martini, de tequila e abrimos assim. Trabalhamos duas semanas e ficamos cansados. Deixamos tudo e fomos para Bonito descansar”, ri. A vida mansa só foi acabar quando o terceiro irmão, o mais velho, resolveu entrar na sociedade.

Com 40 anos, 20 destes morando no Rio Janeiro, Paulo Afonso resolveu assumir a responsabilidade do bar e deixar de lado a advocacia por um tempo. “Eu era advogado, quando eu resolvi voltar e falei que era com a condição de ganhar dinheiro. E a gente ganhou bastante. Sempre fui bom de bar, mas do lado de fora do balcão, agora eu quero ser do lado de dentro”, brinca.

Loja de pesca onde hoje funcionava o bar.
Loja de pesca onde hoje funcionava o bar.

As portas foram fechadas por quatro meses para uma reforma e só em 1984 reabriram.

Hoje no local funciona o Tião Pesca. No número 629 só os portais de madeira se mantêm como no início. “Fizeram até uma garagem Gil”, comenta Paulo Afonso.

O advogado lembra que o bar tinha de 10 a 14 mesas espalhadas pela calçada. “Lá dentro já era mais formal, com ar condicionado e não era proibido fumar. Aqui (aponta para a placa atual da venda de isca e pesca) ficava o toldo com o logotipo do velhinho embriagado. Eu trouxe do Rio de Janeiro toda a arte pronta”, explica.

Paulo Afonso diz que o bar quase se chamou Mel, por causa de um LP da Maria Bethânia. “Andando pelo Rio de Janeiro eu vi um bar com esse nome e tive a ideia. Liguei e já decidimos que seria esse, preparei tudo. Cheguei na quarta-feira santa de 1984”, conta.

Os irmãos criaram o bar ao lado de Durval Jr e as casquinhas de siri quem fazia era a mãe
Os irmãos criaram o bar ao lado de Durval Jr e as casquinhas de siri quem fazia era a mãe
Registros antigos do bar foram guardados pelos dois
Registros antigos do bar foram guardados pelos dois

Com música ao vivo, Gil também cantava. O bar atraiu professores, jornalistas, músicos e artistas. “Campo Grande tinha uma noite muito boa, os Espíndolas sempre cantavam aqui. Eu cantava também na época, Almir Sater, Celito, Valdir Prates”, cita.

Os irmãos lembram que o sucesso foi tão grande que a apresentadora Marilu Guimarães recepcionou as candidatas ao MISS MS no Trago Longo. “Eu lembro porque foi quando conheci minha primeira mulher”, diz Gil, entre uma gargalhada.

Vale lembrar que parte desse boom foi devido a comida, incluída no cardápio apenas em 1987. “Tinham petiscos de todo jeito e casquinha de siri, que minha mãe Joana preparava. Chegava toda semana de Recife. Lembro de uma história engraçada. Um dia um senhor chegou em um caminhão. O cara desceu, olhou o cardápio. Casquinha de siri, eu quero uma, ai chegou a casquinha, ele mordeu, começou a mastigar.. mordeu com a casca e tudo, não sabia que era para comer só a carne, machucou a boca e quebrou o siri. O garçom teve que chegar e avisar ele como que era o jeito certo”, diz Gil.

Paulo Afonso afirma que, após o sucesso da casquinha, eles incluíram um cardápio com 12 tipos de filés, o bacalhau aos domingos e a canja de Carnaval. “Essa canja fez o maior sucesso. Eu entregava panfleto em frente as festas de Carnaval do Rádio Clube, Surian, Libanês e o pessoal vinha 4 horas, 5 horas da manhã comer a canja. Teve um um dia que a canja acabou. Juntou um monte de gente em frente ao bar e começaram a gritar 'queremos canja, queremos canja', quase me bateram”, diz, afirmando que vendia até 300 canjas por noite.

Quando questiono o que os clientes mais bebiam no bar, Paulo é categórico. “Tudo, menos água”.

O bar Trago Longo fechou as portas em 1993. “Fechou porque foi desfalecendo em meio à concorrência. Também estava cansado. Durou dez anos, não teve bar que durou tanto aqui. Foram as melhores épocas da minha vida, você fazer o que gosta, amigos, colegas de álcool, vadiagem. Quase rasguei meu diploma, só deixei como plano B”, brinca Paulo, que tocou o bar sozinho sem os irmãos de 1987 a 1993.

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