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Comportamento

A viagem pelo mundo começou com um carrinho de cachorro-quente

Ângela Kempfer | 23/04/2012 10:22
Gogliardo em 79, ao lado do carrinho comprado com os amigos.
Gogliardo em 79, ao lado do carrinho comprado com os amigos.

Hoje ele é um arquiteto “de nome” em Campo Grande. Nunca foi pobre, mas as aventuras pelo mundo só aconteceram graças ao desprendimento, que muitas vezes falta até para quem tem muito dinheiro ou sobra aos mais corajosos e "quebrados". As experiências em grandes metrópoles e lugarejos pelo mundo fizeram de Gogliardo Maragno um homem diferente. Como o Lado B quer sempre inspirar pessoas, achei a história boa de contar.

A caminhada continental começou com um carrinho de cachorro-quente, em Londrina, no Paraná. O nome: Jocaligo, as sílabas iniciais dos nomes dos sócios, José, "Cavalo" (Mário), Lizandro e Gogliardo.

Os quatro amigos resolveram montar a pequeníssima empresa ambulante para conseguir dinheiro em um ano, logo depois do grupo estrear na primeira viagem da trupe masculina, pelo litoral brasileiro.

Recém aprovado no vestibular de Arquitetura e com a CNH fresquinha em mãos, ele e os outros 3 foram de carro até Jericoacoara (CE). “Passamos por Porto Seguro quando não existia nada por lá”, conta. Era 1979.

Para o ano seguinte, os planos ficaram maiores, conhecer a Argentina e o Chile, também em um Corcel II.

Gogliardo, Mário, Lizandro e Zé seguiram por onde havia estrada e assim os quatro continuaram por diferentes roteiros até a última viagem anual do grupo, em 81.

A faculdade acabou, um concluiu Ciências da Computação, outro virou engenheiro, outro advogado e os amigos passaram a morar em estados diferentes, mas até hoje é possível ver a amizade forte em mensagens trocadas via Facebook.

Gogliardo, que estudava em Curitiba, se mudou para Campo Grande, mas continua um viajante.

Em 94, recém-casado, partiu para uma bolsa de estudos em Tóquio. Em 2009, passou por Pequim.

Os quatro e a neve.
Os quatro e a neve.

Durante dois anos morou na Espanha e quando estava prestes a retornar, resolveu fazer a viagem que tornou-se a mais significativa até o momento.

“Terminei o doutorado em 2010 e ainda tinha um tempo na Espanha antes de fazer a defesa. Pensei um pouco e decidi fazer o Caminho de Santiago. Em uma semana planejei tudo e parti”, lembra.

Em 28 dias, andou 740 quilômetros por “incrível paisagem” em uma “experiência de desapego”.

A velocidade passou a ser a do seu passo, longe do ritmo do trabalho, dos carros e aviões. A carga virou a da necessidade. “Andava com 3 meias na mochila e pensava que só precisava de duas. Me livrei da outra”, diz.

A gentileza ao longo do percurso é lição para vida toda. Ele terminou a viagem cumprimentando e agradecendo mais. “Lembro que um dia estava morrendo de fome e ao entrar em um lugarejo uma senhora veio e me ofereceu panquecas. Em outra vez, tive um problema no pé e na hora fui parar em um alojamento com médico voluntário”.

A consciência de que os planos só dependem das próprias pernas veio durante o Caminho de Santiago, mas isso, Gogliardo e os amigos já deviam saber desde o carrinho de cachorro-quente. “Viajar é para qualquer um”, resume.

Mas apesar de tantas idas, as vindas sempre foram especiais para o arquiteto. “Adoro viajar, mas é como um elástico. Todo mundo diz que Campo Grande não tem nada de muito especial, mas é minha casa. Quando fico muito tempo fora, dá saudade até daquele buraco da rua”, brinca.

Pai de duas meninas, dia desses teve de enfrentar a primeira mudança da mais velha, que foi estudar fora. Meio contrariado, acabou ouvindo da esposa a pergunta certeira. “Você não fez igual?”

O Caminho de Santiago.
O Caminho de Santiago.
A família mochileira.
A família mochileira.
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