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Comportamento

Contagiados pelo Natal, leitores levam esperança para Cidade de Deus

Paula Vitorino | 23/12/2011 17:35
Famílias da Cidade de Deus e residencial José Teruel foram atendidas. (Foto: João Garrigó)
Famílias da Cidade de Deus e residencial José Teruel foram atendidas. (Foto: João Garrigó)

Mais que proporcionar um sorriso no rosto ou ser Papai Noel por um dia. Um grupo de leitores do Campo Grande News decidiu abrir os olhos para as necessidades dos moradores da favela Cidade de Deus e compartilhar com eles a alegria de um Natal “gordo”, com dispensa cheia e brinquedos novos para as crianças.

A iniciativa natalina foi despertada por uma matéria publicada no dia 14 de dezembro pelo Campo Grande News. Na ocasião, a reportagem foi até os barracos aos pés do lixão para mostrar os sonhos de crianças e as necessidades de adultos, que mesmo sem ter o que comer, não perdiam a fé no poder do Natal e na solidariedade das pessoas, disfarçadas de bom velhinho.

“Li a matéria, comentei e vi que muitas pessoas também fizeram comentários dizendo que queriam ajudar, aí a Fernanda disse que já tinha uma ideia e, então, resolvi reunir os leitores para nos unirmos na mesma campanha. Cada um foi ajudando do jeito que podia”, conta o leitor Luiz Otávio Anunciação, de 47 anos.

Em cerca de 10 dias, o grupo juntou forças com 16 voluntários, que se uniram para arrecadar alimentos, materiais de higiene e brinquedos. Na manhã de hoje, os voluntários do Amizade Solidária fizeram a entrega dos kits, na base da Polícia Militar do bairro Dom Antônio Barbosa.

Crianças ganharam brinquedos.
Crianças ganharam brinquedos.
Grávida, moradora mostra panela vazia e pede roupa para os filhos e marido, que não tem calça para ir nem a Igreja.
Grávida, moradora mostra panela vazia e pede roupa para os filhos e marido, que não tem calça para ir nem a Igreja.

Cerca de 44 famílias receberam as cestas de alimentos e higiene pessoal, e 400 brinquedos foram distribuídos para as crianças do bairro. Foram atendidas as 22 famílias que ainda moram em barracos montados ao lado do lixão, na Cidade de Deus, e do residencial José Teruel, para onde foram removidos mais de 300 moradores que viviam na área da favela.

Para a idealizadora da ação, Fernanda Barros, de 29 anos, a sensação é de “dever cumprido” e novas amizades. “Acabamos fazendo novas amizades, tanto por conta do grupo como dos moradores da Cidade de Deus. São famílias que criei um carinho e quero estar sempre contato”, afirma.

A partir da iniciativa, o grupo já pensa em continuar as ações no próximo ano e criar grupos de leitura e palestras na região.

Alegria de criança - As crianças correm de um lado para o outro atrás de presentes durante a distribuição. Como na tradição, as meninas querem bonecas e os meninos pedem carrinhos de controle remoto, mas qualquer brinquedo na mão deles vira diversão.

As pipas coloridas distribuídas, principalmente, para os meninos foram um dos motivos de orgulho. “Olha minha pipa que legal”, mostravam.

A sorridente Yasmin, de 6 anos, que a reportagem mostrou a história da família na primeira reportagem, mostra o conjunto para brincar de casinha e as pulseiras que ganhou. Mas ressalta que ainda quer uma boneca.

O serelepe Bruno, de 7 anos, exibe orgulhoso os presentes de Natal: um carrinho e uma pipa. Já a mãe, Néia Mascarenhas, de 25 anos, fica feliz em saber que terá comida para cozinhar pelo menos durante o Natal e Ano Novo.

“Graças a Deus é uma boa ajuda. Os meninos gostam de comer arroz e feijão”, diz.

Barraco de Néia.
Barraco de Néia.

A Cidade de fé - No local com o nome de Cidade de Deus o que não falta são moradores com fé. É gente com fé que a vida melhorar, que terão uma casa e que a solidariedade das pessoas não vai acabar.

“O pouco que cada um doa é muito pra gente e, assim, nunca falta o básico”, diz Juliana de Almeida, de 18 anos, com a filha de 9 meses no colo.

Néia nos leva para conhecer seu barraco, e grávida de 5 meses, diz que seu maior desejo é sair do fogão de lenha. “Não posso ficar perto com esse barrigão, meu marido que tem que ficar parado em casa pra cozinhar”, diz.

Ela mostra a panela vazia e afirma que a falta de comida não é novidade. No fogão eles preparam uma carne cozida que, segundo ela, veio do lixão.

Mãe de 4 filhos, sendo que um está na barriga, ela pede doações para eles. “Preciso de roupinha pra criança, não tenho nada pro meu bebê, fralda, banheira, nada”, pede.

Ela conta que perdeu outros quatro em abortos espontâneos e só agora conseguiu o direito de fazer a cirurgia para não ter mais filhos. “Não posso usar anticoncepcional e meu marido não usa camisinha”, conta.

Mas, apesar do barraco precário e das moscas ao redor da comida, ela ressalta a fé em Deus e faz um pedido tão simples quanto a sua morada: uma calça para o marido.

“Eu vou sempre à Igreja, tenho muita fé em Deus. Mas meu marido nem tá podendo ir mais porque não tem calça. Fica feio ir de bermuda na igreja, né?!”, diz.

Ela e a família afirmam que moram na favela há 3 anos. Néia diz que não conseguiram ser contemplados pela casa devido a falta de documentação do marido. Quem quiser fazer doações para a família pode procurar pelo barraco 149 na favela, que fica no bairro Dom Antônio Barbosa, ao lado do lixão.

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