ACOMPANHE-NOS     Campo Grande News no Facebook Campo Grande News no Twitter Campo Grande News no Instagram
ABRIL, SEXTA  19    CAMPO GRANDE 29º

Comportamento

Da vergonha e medo ao paraíso de ser Moreninhas, contam moradores

Paula Vitorino | 04/11/2011 08:37

Bairro completa 30 anos no próximo mês e quem acompanhou o desenvolvimento da região comemora o fim da “vergonha” causada pelo estigma da violência e agora sente orgulho em ser Moreninhas

Com tranquilidade nas ruas, moradores tem orgulho em ser Moreninhas. (Fotos: João Garrigó)
Com tranquilidade nas ruas, moradores tem orgulho em ser Moreninhas. (Fotos: João Garrigó)

Completando 30 anos neste ano, as Moreninhas já passou por momentos difíceis e outros de conquistas. Os moradores hoje chamam o bairro de paraíso, e garantem não trocar por qualquer outra região, mas contam que o começo foi difícil, marcado pela violência e o isolamento.

Dizer que era morador das Moreninhas há cerca de uma década era “motivo de vergonha”, contam os mais antigos. A região era conhecida pelo “resto” da cidade por sua violência e distância.

“Logo que mudei para cá as pessoas tinham vergonha de falar que moravam nas Moreninhas, tanto na hora de procurar um emprego ou fazer o cadastro em uma loja”, lembra o presidente do Conselho de Segurança da região, Milton Emidio de Souza.

O comerciante Edson Remido de Assis, de 69 anos, tem orgulho de ter sido um dos primeiros moradores do bairro, mas lembra que o estigma de violência da região envergonhava toda a população.

“Teve uma época que dava problema, vergonha, falar que morava aqui no emprego porque já era tratado como bandido. O bairro sempre saía na imprensa com essa imagem, mas os moradores lutaram para mudar isso e mostrar que aqui tem muita gente de bem. Hoje morar aqui não é motivo de vergonha”, diz.

O morador há 25 anos, Zoracildo Aquigno Severino, de 47 anos, conhecido como “Nego”, conta que a criminalidade era tanta que as roupas não amanheciam no varal.

“Você não podia deixar a roupa no varal porque não amanhecia mais lá. Quase todo dia morria um assassinado”, diz.

O balconista José Jacinto de Lima Neto, de 41 anos, mais conhecido no bairro por “Zé da Farmácia”, ainda diz que o bairro era precário não só na segurança, mas também na saúde.

“As pessoas dependiam das farmácias para comprar os remédios quando passavam mal porque não tinha posto de saúde aqui”, diz.

Morador afirma que Moreninhas é o paraíso.
Morador afirma que Moreninhas é o paraíso.

Paraíso - Mas quem acompanhou o desenvolvimento da região, que se multiplicou até chegar a mais recente Moreninhas 4, garante que as três décadas foram bem vividas e são motivo de triunfo.

“Do que era antes e hoje se tornou, é um triunfo para as Moreninhas. Quem mudou na época difícil hoje se arrepende, até os imóveis valorizaram muito”, diz Nego.

O Seo Zé também comemora e se orgulha em ser Moreninhas desde 1988. Ele garante que hoje o bairro é o “paraíso” e “nada me tira daqui”. “Foi onde criei meus filhos, é onde ganho meu sustento”, diz.

O caminho - O caminho até a redução da violência passou pelo combate as gangues, conta o presidente do Conselho de Segurança.

Ele diz que principalmente na década de 90 os grupos de criminosos causavam medo na população com assaltos e assassinatos. “Não tinha muito policiamento e eram vários os grupos rivais. Acontecia morte frequentemente e aí a região ficava conhecida pelos marginais”, frisa.

Milton afirma que o problema foi reduzido nos últimos anos com o trabalho da polícia e que hoje o maior transtorno do bairro são os adolescentes infratores, que também são usuários de drogas.

“Hoje o que mais acontece são pequenos furtos, que é feito pelo jovem usuário de drogas para manter o seu vício”, diz.

Conselho de Segurança diz que maior problema hoje são os adolescentes infratores e usuários de drogas.
Conselho de Segurança diz que maior problema hoje são os adolescentes infratores e usuários de drogas.

Mas o presidente do Conselho ressalta que apesar da violência ter diminuído na região, ainda falta policiamento no bairro. A comunidade conta com uma Delegacia da Polícia Civil e pelotão da Polícia Militar, mas o efetivo é responsável por todos os bairros da região das Bandeiras e Anhanduí.

Milton diz que os moradores querem a instalação de uma base comunitária da PM para aumentar a ronda e o efetivo policial, que segundo ele só conta com 1 viatura, além de aproximar a Polícia da comunidade.

“A ronda policial em todo bairro já iria coibir a pratica de crimes e uso de drogas”, justifica.

Ação - De acordo com o sub-comandante do 10º Batalhão da PM, major Adilson Macedo, a região das Moreninhas “é uma das mais tranqüilas a nível de Campo Grande, em relação ao índice de ocorrências”.

Ele esclarece que o pelotão das Moreninhas conta com 2 viaturas e 4 motocicletas, que se dividem entre o policiamento na região e no Jardim Itamaracá. Segundo ele, o número de policiais consegue atender todas as ocorrências tranquilamente, mas pontua que é “sempre válido o reforço no efetivo”.

O major também explica que o pelotão no bairro já funciona como uma base comunitária, pois os policiais são preparados para esse tipo de abordagem e o prédio está sempre aberto as solicitações da comunidade. Segundo ele, o que falta é a maior interação da comunidade, apresentando os problemas e convocando para reuniões.

Pelotão nas Moreninhas é responsável por região e Jardim Itamaracá.
Pelotão nas Moreninhas é responsável por região e Jardim Itamaracá.

“Criar uma base comunitária seria abrir mais um prédio só, porque o trabalho da Pm comunitária já é feito no bairro. O que ainda falta é a maior procura da população, fazendo com que a PM participe constantemente das ações no bairro”, diz.

Ele também afirma que a PM tem a intenção de montar um projeto social com os jovens da região. Segundo o comandante, uma sala do pelotão já está disponível, mas falta parcerias para iniciar as atividades.

Jovens - Já a Polícia Civil desenvolve desde 2009 dois projetos no bairro: mediação de conflitos com baixo potencial ofensivo e diminuição da evasão escolar. Nos três anos, foram realizados mais de 550 atendimentos.

O investigador Francisco de Melo afirma que só neste ano foram 221 atendimentos e 90% desses tiveram êxito sem precisar do registro de ocorrência.

“Diminui o trabalho da Polícia e do Judiciário, fora que aquele trabalhador não suja o nome por causa de um incidente isolado. A reincidência também é praticamente nula. Isso funciona com o cidadão de bem, agora o bandido tem que ir para a cadeia”, frisa.

O trabalho contra a evasão escolar conta com a parceria das escolas, que por meio da diretoria informam a Polícia quando algum aluno está com muitas faltas. Os investigadores vão até as residências para saber o que está acontecendo e os pais se comprometem em ficar atentos ao desempenho dos filhos na escolas, com um termo de responsabilidade.

Em alguns casos, de ameaças, vias de fato e bullying, a Polícia Civil também vai até a escola para realizar mediações e palestras.

Nos siga no Google Notícias