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Comportamento

Depois da careca e do câncer, a menina volta sorridente como funcionária da AACC

Ângela Kempfer | 28/03/2012 15:55
Aline, dez anos depois da leucemia. (Fotos: Marlon Ganassin)
Aline, dez anos depois da leucemia. (Fotos: Marlon Ganassin)

A garota é linda, faceira. Tem um sorriso quase permanente e longos cabelos negros. Aline Santa Cruz, aos 22 anos, é um presente na recepção da AACC (Associação dos Amigos das Crianças de Câncer) para mães de meninos e meninas que vem de outras cidades para combater uma doença que desmonta emocionalmente qualquer família.

Sem querer, Aline ganhou importância ali, já na porta de entrada, porque há 10 anos também estava internada e careca por conta das sessões de quimioterapia.

Ela lembra que na época do diagnóstico do câncer sentia dores muito fortes no joelho. “O médico disse que tinha quebrado e quando fui engessar, o outro médico falou que não tinha nada fraturado e mandou procurar um especialista”.

Com leucemia, a menina de 12 anos teve de sair de Ponta Porã para o tratamento na Capital. Veio com a mãe e permaneceu por dois anos e meio na rotina de medicação pesada e insegurança.

“Eu não sabia muito bem a dimensão da doença. Um dia muito quente, fui tomar banho e arranquei todo o meu cabelo no chuveiro, com a mão. Sai do banheiro rindo, porque antes eu estava com muito calor. Quando a minha mãe viu, se desesperou e começou a gritar. Foi ai que a ficha caiu, depois que eu olhei no espelho”, conta.

Ariel e um sorriso.
Ariel e um sorriso.
Juliane espera transplante, marcado para o dia 25.
Juliane espera transplante, marcado para o dia 25.

A AACC dá o apoio primordial nesta hora, tentando o equilíbrio emocional não só de quem enfrenta a quimioterapia, mas da família que tem de suportar tudo sofrendo duas vezes. “A mãe sofre pelo filho e por ela mesma. No caso da Aline, o otimismo foi importante.Veja, ela está sempre sorrindo”, explica a psicóloga Silvia Luiza Perez.

A jovem lembra que a tranqüilidade só existia quando estava “protegida” na AACC. “Quando voltava para casa, não saia. Ficava escondida até quando chegava visita. Aqui não, todo mundo era igual”.

Hoje as crianças se espantam ao saber que Aline já foi careca também e percebem que, se ela conseguiu, também podem vencer o câncer e recuperar a cabeleira.

“Vi a foto dela carequinha com um boneco na mão. Achei bonita, mas agora é mais”, diz Ariel, um menino de 8 anos que aproveita ao máximo o tempo e a disposição para jogar vídeo game na sala de jogos da AACC. Ele também veio de Ponta Porã, com leucemia e o bom humor mostra o principal aliado das crianças na briga contra tamanho bicho papão.

A recepcionista também abraça Juliane, uma menina de 13 anos, carinhosa, com cara de danada, mas tímida a primeira conversa. É a Aline de ontem, com a história muito parecida. Aos 12 anos, Ju também recebeu a notícia sobre a leucemia e passou a viver na AACC com a mãe.

Psicóloga Silvia diz que otimismo é fundamental durante o tratamento.
Psicóloga Silvia diz que otimismo é fundamental durante o tratamento.

O período do dia mais esperado pela paciente Aline era a tarde, por causa das aulas. Ju também diz que adora as tardes, porque é a hora dos cursos de artes, mais uma semelhança com Aline. “Na minha época eu era mais amiga das mães porque tinha mais meninos aqui. Nas aulas de artesanato para as mães, eu sempre me enfiava”, lembra Aline.

A mãe de Ju, Maria Gomes, de 39 anos, se lembra da data do diagnóstico da leucemia: 24 de janeiro de 2011. Ver Aline hoje, recuperada, para Maria “é uma vitória de todo mundo. É fortalecer a fé”. No dia 24 de abril a filha será submetida ao transplante de medula óssea, em São Paulo. Teve a sorte da compatibilidade com a irmã de 9 anos.

Aline não precisou da cirurgia, venceu a doença e voltou para a Associação depois de outra notícia desagradável. No último ano do curso de Letras, perdeu emprego que já considerava certo porque ainda não tinha o diploma. Ao passar em frente a AACC, resolveu parar e saiu da visita empregada. “Você vê né, perde uma coisa, mas ganha outra muito melhor. É uma situação muito especial para mim, porque por muito tempo aqui foi a minha casa”.

Aline há 10 anos e hoje.
Aline há 10 anos e hoje.
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