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Comportamento

Eles encontraram motivo para passar todos os dias pela biblioteca pública

Ângela Kempfer | 02/09/2011 11:22
Jonir Figueiredo lê jornais. “Venho todos os dias", explica ele sobre a rotina “sagrada”.
Jonir Figueiredo lê jornais. “Venho todos os dias", explica ele sobre a rotina “sagrada”.

Já é rotina passar uma vez ao dia pela biblioteca pública Isaias Paim, da Fundação de Cultura do Estado, na avenida Fernando Correa da Costa. Pela manhã, entre dezenas de cadeiras vazias, uma é ocupada pela auxiliar de limpeza Rosana Alves Ramos, de 35 anos.

Pouco antes do meio-dia ela chega, senta em frente a um dos computadores e passa o horário de almoço acessando sites de relacionamento. “A folga de uma hora eu gasto aqui, todos os dias”, informa.

Em outro canto, está o aquicultor Jorge Luis da Silva de Jesus, de 56 anos. Ao lado de um dos computadores disponibilizados ao público, ele liga o notebook próprio e explica. “As máquinas daqui são muito obsoletas, mas venho só pela tranquilidade”.

O cenário não é realmente dos mais modernos, os computadores são dos mais antigos, as cadeiras são velhas, as prateleiras também e há mesas empilhadas em um espaço pequeno, dedicado aos escritores de MS e MT.

Apesar da internet também oferecida gratuitamente, ele faz a conexão via smartphone. “Aqui, vários sites estão bloqueados, como o da revista Veja e preciso para pesquisar”, reclama.

Com 4 faculdades concluídas – Engenharia, Economia, Administração e Aquicultura, ele diz que não para de estudar, mas o amor mais recente, a netinha de 3 anos, impede a dedicação à pesquisa em casa, no Jardim dos Estados. “Lá é muito barulhento, ela não desgruda”, sorri.

No dia da reportagem, a coincidência. Jorge chegou momentos antes de uma turma de crianças convidada para ouvir histórias, um dos projetos abrigados pela biblioteca. Sem se abalar, ele coloca os fones de ouvido e continua a ler.

Jorge Luis da Silva de Jesus, de 56 anos. Ao lado de um dos computadores disponibilizados ao público, ele liga o notebook próprio.
Jorge Luis da Silva de Jesus, de 56 anos. Ao lado de um dos computadores disponibilizados ao público, ele liga o notebook próprio.
Escritor Augusto Cesar Proença mostra uma de suas obras.
Escritor Augusto Cesar Proença mostra uma de suas obras.

Depois da passagem da garotada pelo local, o espaço volta a ficar silencioso e, com andar rápido, chega o artista Jonir Figueiredo. “Venho todos os dias para ler jornais”, explica ele sobre a rotina “sagrada”.

Avesso a internet, diz que os amigos olham os e-mails para ele. “Não tenho paciência. Eles olham e me contam”. Sem o interesse pela internet, a qualidade dos equipamentos e de conexão não importam.

Com 41 anos de carreira, o que Jonir quer e ler as notícias e as revistas nacionais, que também estão nas estantes da biblioteca. Mas entre uma leitura e outra, o artista plástico aproveita para manter contato com os colegas. “Sou como Manoel de Barros, quero ficar dentro do meu caracol, mas aqui encontro as pessoas”.

Na biblioteca, ele emenda uma conversa com o escritor Augusto Cesar Proença, de 74 anos.

Autor de livros que contam a história de Mato Grosso do Sul e outros de ficção ele se prepara para a segunda edição de “Snackbar”, publicado na década de 70, mas não encontra na biblioteca a primeira. “Deve estar muito bem escondido”, brinca.

O corumbaense diz gostar de passar o tempo ali, no espaço da literatura regional, “lendo o que os escritores têm a dizer”.

Eles encontraram motivo para passar todos os dias pela biblioteca pública
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