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Comportamento

O depoimento de quem conseguiu trocar o cigarro por mais anos de vida

Paula Maciulevicius | 31/05/2012 08:07
No grupo, o incentivo é fundamental. A cada passo dado para diminuir um cigarro, os colegas aplaudem. (Foto: João Garrigó)
No grupo, o incentivo é fundamental. A cada passo dado para diminuir um cigarro, os colegas aplaudem. (Foto: João Garrigó)

A conversa estava rolando solta num grupinho de homens. Parecia que estavam colocando o papo em dia. Questionados pela equipe de reportagem se eram do grupo de tratamento do tabagismo, "seo" Ramão foi um dos que categoricamente afirmou que sim. Aos 58 anos, 40 como fumante, ele agora conta em meses quantos dias está sem a nicotina. "São 16 meses", responde feliz, no Dia Mundial de Combate ao Tabagismo.

Ramão José Ferriol trabalha como jardineiro e a cada "carpida" se sente bem. Ele conta que respira e dorme melhor. "No começo me vinha a lembrança do cigarro, hoje eu não suporto mais, para você ver como são as coisas". Tudo isso mesmo convivendo com a esposa fumante.

Ele chegou a consumir, em apenas um dia, 5 carteiras de cigarro em média. Hoje, a sensação é de que largar o vício da nicotina seria mais difícil. E a vitória de Ramão é dupla. "Há 20 anos, com a ajuda do AA, eu parei de beber. Deu medo de não conseguir o cigarro, mas graças a Deus, consegui".

As 10 primeiras reuniões, ele relata que foram difíceis, mas que agora tira de letra. "Parei com o uso do adesivo e com as sessões aqui do grupo. Sou novo agora, graças a Deus, converso com o patrão, com a patroa, gente da alta já sem vergonha, porque larguei do cigarro", comemora.

Ramão é um dos que continua no programa de Tratamento do Tabagismo, agora com sessões uma vez por mês. O grupo funciona na Santa Casa, todas as quartas-feiras, desde 2009. O primeiro horário da tarde é destinado à triagem, as cinco primeiras semanas constituem a primeira fase do tratamento, onde segundo a coordenadora, pneumologista Ana Maria Campos Marques, 80% deixam de fumar.

O jardineiro dorme, respira e vive melhor. Sem a nicotina, perdeu a vergonha de falar com o patrão e a patroa. (Foto: João Garrigó)
O jardineiro dorme, respira e vive melhor. Sem a nicotina, perdeu a vergonha de falar com o patrão e a patroa. (Foto: João Garrigó)

A orientação é para que o paciente frequente o grupo por um ano. "Aí ele já parou de tomar remédio, de fumar, é só para reforçar mesmo. Esse primeiro ano é fundamental para a parada prolongada", explica.

A médica conta à equipe o que explica aos pacientes nas primeiras consultas, de que o cigarro foi instituído socialmente no pós-guerra, quando fumar significava ser adulto, estava ligado ao glamour e ninguém acreditava que pudesse fazer mal. No grupo a maioria é composta de gente mais velha, acima dos 30 e bem acima também, pessoas com 50 e 60 anos, que segundo a médica, fumam desde os 15.

O tabagismo, explica Ana Maria, forma três dependências. A psíquica, a comportamental e a física. A dependência física é dada pela nicotina, que dá a vontade. A comportamental é no dia-a-dia "fumo depois do almoço, do café, enquanto converso ao telefone", completa. E a psíquica é aquela "eu preciso do cigarro quando estou alegre, triste, nervoso, ansioso". As três dependências são difíceis de tratar e geralmente caracterizam os fumantes em geral.

Tratamento - Os medicamentos voltados ao combate do tabagismo são antidepressivos, remédios específicos para reposição nicotínica e os adesivos e pastilhas. A escolha do medicamento vai de acordo com o grau de dependência do fumante.

De 20 anos para hoje, conforme a pneumologista, o Brasil caiu para 15% o número de fumantes, o percentual já chegou a mais de 30%. "O importante é tratar aquele que fuma e trabalhar junto com aqueles que ainda não iniciaram", acredita a médica.

Já vivendo com os malefícios de cada tragada, de envelhecimento precoce, doenças cardíacas e os riscos para doenças crônicas não infecciosas, um grupo de 20 pessoas fazia sessão na tarde desta quarta-feira. O incentivo ajuda. A quem relata que de quatro passou a fumar uma carteira de cigarro, recebe as palmas dos colegas.

Dona Laudete resolveu depois do ultimato do neto que vai parar de fumar. Chegou ao grupo decidida e recebeu apoio. (Foto: João Garrigó)
Dona Laudete resolveu depois do ultimato do neto que vai parar de fumar. Chegou ao grupo decidida e recebeu apoio. (Foto: João Garrigó)

A equipe profissional do grupo é composta, além da médica pneumologista, por um psiquiatra e a psicóloga Rafaela Lima. É ela quem ouve dos pacientes o relato da semana, quanto fumou e o porquê e dá dicas para iniciar uma nova semana contra a nicotina.

"Se o senhor fuma na sala, deixe o cigarro na cozinha e continue fumando na sala. Tente deixar o mais longe que conseguir que vai dar preguiça de pegar", orienta um dos pacientes. Dona Laudete Vidor, 60 anos de idade, fuma desde os 18.

Na sessão ela chegou falando que precisava parar, que estava preparada para isso e queria a receita do adesivo. "Eu quero parar, dessa vez é de vez", dizia em alto e bom som. Do outro lado da sala ouviu de um colega "e vai conseguir, eu estou com o adesivo e estou conseguindo", incentiva.

Laudete conta que esta é a segunda vez que tenta parar, mas a primeira com seriedade. "Eu não tenho mais condições de ficar fumando, uma que eu estou começando a ficar doente, outra que o dinheiro está começando a me fazer falta", relata. Ao deixar o neto na escola recebeu mais uma bronca, a que ela considerou como última. "Ele me disse vó larga esse cigarro, para de fumar. Agora sou obrigada a fazer isso", completa.

E em comemoração ao Dia Mundial Sem Tabaco, o grupo realiza a palestra "Respire Vida. Pare de Fumar", às 14h, no setor de Psiquiatria da Santa Casa. O evento é aberto ao público e a entrada é pela avenida Mato Grosso. Ainda na tarde de hoje, das 16h às 20h, equipes da Secretaria Municipal de Saúde vão dar orientações e medir a quantidade de monóxido de carbono no organismo dos fumantes, no Comper da Tamandaré.

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