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ABRIL, QUARTA  17    CAMPO GRANDE 21º

Comportamento

As estratégias do garapeiro que conquista a clientela na base da conversa

Elverson Cardozo | 04/07/2012 09:15
Radicado em Campo Grande, o paranaense Sebastião Soares trabalha como garapeiro há 16 anos. (Foto: Rodrigo Pazinato)
Radicado em Campo Grande, o paranaense Sebastião Soares trabalha como garapeiro há 16 anos. (Foto: Rodrigo Pazinato)
Tião trabalha como filho, mas ele mesmo faz questão de servir os clientes. (Foto: Rodrigo Pazinato)
Tião trabalha como filho, mas ele mesmo faz questão de servir os clientes. (Foto: Rodrigo Pazinato)

Saí às ruas de Campo Grande para falar sobre a gripe suína e minha primeira pergunta foi sobre o que fazer para evitar a possibilidade de um novo surto da doença, mas um dos meus entrevistados, seu Tião, muito esperto, parecia especialista em merchandising e conseguia incluir, a cada resposta, a propaganda do próprio negócio.

"As pessoas têm que cuidar da alimentação e tomar muita garapa", respondeu, antes de servir mais um dos seus vários clientes e depois de dar muitas dicas - envolvendo, claro, a iguaria - para prevenir a doença.

Há 12 anos no mesmo local, o homem - de sorriso aberto e boa conversa - nunca investiu sequer um centavo em publicidade, mas se tornou tradição em Campo Grande e hoje é um dos garapeiros mais conhecidos, com uma freguesia daquelas de causar inveja.

A antiga praça Aquidauana, na rua Barão do Rio Branco, região central da cidade, é sua segunda casa. É ali que ele passa a maior parte do tempo, de segunda a sábado, vendendo o "Caldo de Cana do Tião" a R$ 2,50 o copo.

Tem para todos os gostos: O tradicional, com limão, abacaxi, o "mix", que leva as duas frutas, e o caldo com gengibre. "Mas esse é para os velhinhos", brinca. Quem compra também acaba levando para casa o bom humor do senhor que nasceu em Toledo, no Paraná, mas "adotou" Campo Grande há mais de 20 anos.

Filho do garapeiro, Daniel Fernandes, de 17 anos, diz que pai é espelho e o sucesso está relacionado à qualidade do serviço e bom atendimento.(Foto: Rodrigo Pazinato)
Filho do garapeiro, Daniel Fernandes, de 17 anos, diz que pai é espelho e o sucesso está relacionado à qualidade do serviço e bom atendimento.(Foto: Rodrigo Pazinato)

"Aqui eu encontrei a felicidade", comenta, acrescentando que o melhor da cidade é o povo. "Eles que me fizeram dessa maneira, feliz", completa.

Sebastião Soares dos Santos, de 50 anos, o Tião, já foi operador de máquinas em fazendas, borracheiro e chegou a trabalhar por cinco anos em um posto de combustíveis.

Por fim, decidiu ser garapeiro "com muito orgulho", como ele mesmo diz. Vocação que descobriu em um momento difícil, quando estava desempregado, mas que depois virou paixão.

Depois de tentar a sorte no Paraná, resolveu tocar a vida em Campo Grande. A primeira garaparia foi arrendada e ficava na rua Antônio Maria Coelho, centro da cidade.

Mas ele não ficou lá por muito tempo. O dono vendeu. Três meses depois, Tião voltou e arrendou o espaço, por mais um trimestre, com o novo proprietário. Acabou virando dono. Foi aí que tudo começou, em 1994.

A freguesia demorou cerca de 4 anos para ser formada. Foi aos poucos, mas se tornou fiel. Com o tempo, Tião levou a garaparia para praça Aquidauana, onde trabalha na companhia do filho, Daniel Fernandes, de 17 anos.

O sucesso do pai, garante o rapaz, está relacionado à qualidade do serviço, o esforço e a persistência. O marketing da garaparia, afirmou, são os clientes, que a recomendam de boca em boca. Estratégia que funciona há 12 anos.

Cliente fixo, o psquiatra Felisberto Mora prefere o caldo com gengibre e diz que a garaparia deveria estar na rota turística de Campo Grande. (Foto: Rodrigo Pazinato)
Cliente fixo, o psquiatra Felisberto Mora prefere o caldo com gengibre e diz que a garaparia deveria estar na rota turística de Campo Grande. (Foto: Rodrigo Pazinato)

"A gente não precisa do freguês só uma vez", disse, mencionando a preocupação em atender da melhor forma possível e oferecer uma garapa de qualidade.

E é por conta dessa qualidade e do atendimento que a enfermeira Vera Lurdes de Almeida Ribeiro, de 47 anos e o marido, o aposentando Alexandre Fernandes, de 60 anos, sempre dão uma "passadinha" pelo Caldo de Cana do Tião. Moram no bairro Piratininga, mas fazem questão de se deslocar ao centro.

O psiquiatra Felisberto Mora, de 75 anos, é outro cliente. Reside no interior de São Paulo, mas tem parentes em Campo Grande e sempre que está na cidade vai à garaparia do Tião.

Para o médico - que prefere o caldo com gengibre porque não encontra a bebida com o complemento em "nenhum lugar do Brasil" - passou da hora da garaparia ser incluída na rota de destinos turísticos da cidade.

Minha conversa com seu Tião provou que propaganda é, sim, a "alma do negócio", mas não precisa necessariamente estampar outdoors, virar jingle, ser veiculada em revistas ou jornais de grande circulação e muito menos aparecer no horário nobre da televisão. Pode ser sorte, mas seu Tião ganha os fregueses na conversa.

Garaparia do Tião, há 12 anos no mesmo local, já é tradição em Campo Grande. (Foto: Rodrigo Pazinato)
Garaparia do Tião, há 12 anos no mesmo local, já é tradição em Campo Grande. (Foto: Rodrigo Pazinato)
Proprietário nunca gastou com marketing. Propaganda é boca a boca. (Foto: Rodrigo Pazinato)
Proprietário nunca gastou com marketing. Propaganda é boca a boca. (Foto: Rodrigo Pazinato)
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