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Comportamento

Os ensinamentos de um ranzinza sobre felicidade no trabalho

Ângela Kempfer | 04/03/2012 07:28
Simão, em um dia de trabalho. (Fotos: João Garrigó)
Simão, em um dia de trabalho. (Fotos: João Garrigó)

Ser feliz no trabalho ou em qualquer outro lugar exige uma coisa: fé nas pessoas. A lição aprendi com um amigo japonês de apelido engraçado: Tofu. A prática? Isso são outros quinhentos, mas nada impossível.

Pois bem, como é muito chato falar sempre de nós mesmos, uso o dia do aniversário desta redação para tentar mostrar o que aprendemos na rotina louca do jornalismo e quem sabe ajudar.

Na hora lembro do nosso maior ranzinza: Simão Nogueira, nosso paizão e motorista. Há 9 anos ele tem a mesma rotina. O horário estabelecido pela empresa é 7h, mas ele chega todos os dias às 6h, sai às 5h do Aero Rancho, onde mora e depois só volta para casa às 18h, isso quando dá.

Antes, quando a sede deste site tinha um generoso estacionamento, o chato ainda arrumava tempo para cultivar hortaliças em um cantinho da empresa para o almoço fresco da equipe.

Pense numa pessoa ranzinza...é o Simão. Pense em um homem doce...é o Simão. Nosso motorista é várias coisas em um só, assim como a maioria dos seres humanos e dos colegas de trabalho.

A fé tem de aparecer justamente nesta hora, acreditar que as críticas da pessoa ao lado não são para derrubar e os desabafos não são para ferir.

Quando o Simão dá broncas em bom som, reclama ou destrata, não dá nem para ficar chateada. A fé nos leva a crer que aquele ranheta só quer ajudar, fazer um trabalho melhor, ensinar. “A gente não sabe fazer, mas sabe como se faz, né?”, argumenta o nosso principal poeta, uma mescla de Patativa do Assaré e Jô Soares.

Sem pensar duas vezes, porque tudo passou a ser flashback, depois de anos no jornalismo, ele pega a câmera para fazer fotos na falta do profissional responsável e traz para casa a imagem perfeita, sem cobrar reconhecimento por isso.

Sem pensar duas vezes, estaciona o carro de surpresa e pede para o repórter descer e registrar algo que julga ser importante para a cidade. É assim quase todos os dias. “Algumas vezes tem uns que acham que porque tem ensino superior sabem mais, mas eu insisto”, ensina.

Os jornalistas, a maioria com menos de 30 anos, no início acham ruim, mas depois de alguns acertos do motorista Simão, descobrem um grande aliado.

O caçula, nosso fotógrafo João Garrigó, trata o velho como um grande amigo. Respeita e aprende. Quando começou, aos 18 anos, nem carteira de motorista tinha. Nunca havia fotografado algo que não fosse publicitário. Agora, aos 20 anos, não cansa de receber elogios como um cara de sensibilidade e iniciativa.

Apesar da pouca idade, Garrigó também aprendeu a cuidar. Paula Maciulevicius lembra de João já no primeiro dia de trabalho. “Foi no bairro Los Angeles, onde uma senhora de bicicleta havia sido atingida por um carro. O fotógrafo João Garrigó quis me proteger, acho que ele pensou que eu era muito novinha e me mandou ficar longe e não olhar. Falou isso até bravo. Mas eu vi de perto. Vi de longe e vi muitas outras vezes. Não me acostumei e acho que nunca vou me acostumar”.

A outra "novinha" da turma, Viviane Oliveira, recebeu inúmeras broncas do Simão, também como cuidado que demora a ser compreendido. Chorou, reclamou, e hoje é uma das mais amadas por ele.

Ana Paula Carvalho, a chefe de reportagem, sofre na mão dele, mas retribui as broncas com firmeza. Não baixa a cabeça por questão de hierarquia indispensável a um bom relacionamento em qualquer empresa, mas não sabe como viveria sem um bom profissional como ele na rua.

Pelas mãos do super motorista já passaram “focas’ como Marina Miranda, que por cinco anos foi a garota gentileza da redação. “Comecei ainda estudante e saí formada. Com certeza, a transformação não foi somente na carteira de trabalho. Cresci muito profissionalmente e pessoalmente. Nas reuniões com amigos e colegas de profissão, nos momentos nostalgia, é do site que me lembro: dos “apuros” atrás da informação. Das crises em hospitais, ataque/rebelião em presídio, passando pelas enchentes e acidentes nas rodovias de partir o coração”, lembra, hoje trabalhando em uma empresa de assessoria de imprensa em São Paulo.

A menina mudou-se junto com o marido, Afonso Benites, outro guri que começou com Simão também no Campo Grande News e agora é um talentoso jornalista da Folha de São Paulo. “Ainda hoje o Campo Grande News é um dos veículos que acompanho de MS. Tenho um carinho, respeito e admiração por esse veículo que me acolheu, primeiro como pauteiro, e, depois, como repórter.”

Os dois convidaram Simão para a cerimônia de casamento, em Campo Grande há um ano, como convidado de honra, mas como bom ranzinza, ele nunca vai a festas.

Simão tem aquela dedicação de pai que trabalha duro para levar o filho à faculdade. Com 9 milhões de acessos ao mês, acho que ele já conseguiu cumprir a meta com o Campo Grande News. “Desde o início eu sabia que ia ser grande, porque tem estrutura, tem cuidado”, diz o paizão orgulhoso.

Simão em um dia de abraço, à caçula Paula.
Simão em um dia de abraço, à caçula Paula.
Um jornal e muitas equipes...de hoje
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e de ontem...
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obrigada.
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