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Comportamento

Paixão de Cristo é encenada com estrutura de espetáculo

Mariana Lopes | 06/04/2012 22:13

Paróquias investem em som, iluminação, cenários, figurinos e trilha sonora para atrair e emocionar público

(Foto: Mariana Lopes)
(Foto: Mariana Lopes)

Considerada a passagem bíblica mais importante para os católicos, a Paixão de Cristo já ganhou as telas de cinema e, em Campo Grande, a cada ano as paróquias aprimoram mais as encenações, transformando-as em verdadeiros espetáculos teatrais.

A maioria delas é organizada pelos grupos de jovens das igrejas, que não medem esforços para terem o melhor resultado. Para atrair o público, vale investir em cenário, som, iluminação, efeitos especiais, figurino, trilha sonora e, inclusive, levar as apresentações a espaços alternativos, como ruas, praças e até ginásio.

Sem contar o empenho das equipes, que, em verdadeiro gesto de doação, passaram meses se dedicando a ensaios, confecções do cenário e correndo atrás de doações para produzir tudo. “A gente tenta chegar o mais próximo do que Cristo viveu, para passar a emoção para quem assiste”, diz Thalis Hamed Vasconcelos, 26 anos, coordenador do grupo de jovens da paróquia Sagrado Coração de Jesus.

Bastidores: a subida do anjo Gabriel, cena improvisada no roteiro, contou com a ajuda de militares do Corpo de Bombeiros, (Foto: Mariana Lopes)
Bastidores: a subida do anjo Gabriel, cena improvisada no roteiro, contou com a ajuda de militares do Corpo de Bombeiros, (Foto: Mariana Lopes)
Ponto de apoioi: a casa de um dos integrantes do grupo de jovens da Sagrado Coração de Jesus seviu de camarim para o elenco se preparar  (Foto: Mariana Lopes)
Ponto de apoioi: a casa de um dos integrantes do grupo de jovens da Sagrado Coração de Jesus seviu de camarim para o elenco se preparar (Foto: Mariana Lopes)

A encenação de lá, pelo segundo ano consecutivo, aconteceu na Praça da Bolívia, no bairro Coophafé, e contou com elenco de 50 pessoas, entre personagens bíblicos e figurantes. Com as luzes da praça todas apagadas, a iluminação foi improvisada por tochas e holofotes espalhados no local.

Saindo um pouco do roteiro original, a antepenúltima cena da apresentação teve a participação do anjo Gabriel, que, amarrado por cordas, subiu até o topo de uma árvore e anunciou Jesus ressuscitado. “Por que procuras entre os mortos aquele que está vivo?”, disse, apontando Cristo saindo do meio dos fiéis.

União de paróquias – O espetáculo que o público, de aproximadamente duas mil pessoas, conferiu na noite desta Sexta-feira Santa (6), no ginásio Guanandizão, foi resultado da união de várias paróquias de Campo Grande.

Na entrada do ginásio, integrantes das Pastorais da Criança ficaram responsáveis por acolher e recolher os alimentos de quem chegava para assistir à encenação. Com um lado das arquibancadas lotado, o espetáculo durou cerca de uma hora e 40 minutos.

O cenário, todo montado na quadra, teve investimento de materiais recicláveis, metalão, tecidos, além da iluminação e sonoplastia. “Nosso foco é a evangelização, e acredito que com algo bem produzido a gente consegue atrair mais fiéis”, pontua Andréia Nascimento, coordenadora da encenação.

Ela participa desta encenação desde 2006, quando ainda era realizada no pátio da capela Santo Agostinho, comunidade da paróquia Nossa Senhora do Perpétuo Socorro. “Começou pequena e fomos aprimorando. Em 2009, fizemos na Praça Elias Gadia, e em 2010 arriscamos mais alto, foi o primeiro ano realizado aqui no Guanandizão”, lembra Andréia.

Mas para conseguir levar um público tão massivo, o grupo trabalhou duro desde o início da quaresma. E para deixar tudo redondo para a apresentação acontecer, a equipe toda ficou desde ontem à noite para montar o cenário e ajustar os últimos detalhes.

Encenação emocionou público de duas mil pessoas no Guanandizão (Foto: Mariana Lopes)
Encenação emocionou público de duas mil pessoas no Guanandizão (Foto: Mariana Lopes)

Recompensa - Se valeu a pena? As lágrimas emocionadas da coordenadora responderam a essa pergunta, quando interrompeu a entrevista para admirar todos no ginásio em pé, de mãos dadas, rezando o Pai Nosso junto com o elenco, que apresentava uma das cenas do roteiro.

A mesma pergunta foi respondida por Aparecida Barbosa Dogher, 41 anos, que interpretou Maria Verônica. Para ela, que abriu mão de finais de semana e horas de folga que tinha para se dedicar aos ensaios, até a quaresma teve um sentido diferente este ano. “Fiquei mais recolhida nesse tempo, vivi a flagelação de Jesus, hoje enxergo a Paixão de Cristo de outra forma”, reflete.

Da arquibancada com a família, a funcionária pública Elizangela da Silva, 33 anos, assiste pela primeira vez a encenação e aprova o teatro. “Estou achando tudo lindo. É como reviver toda a história”, diz.

Tradicional – Para os moradores dos bairros Moreninhas e Cidade Morena, a encenação da Paixão de Cristo se tornou tradicional. Há 25 anos, na Sexta-feira Santa, ela é apresentada durante o percurso que passa pelas ruas entre as igrejas São Pedro e São Paulo até a Nossa Senhora Aparecida.

Em frente à igreja São Pedro e São Paulo, nas Moreninhas, a tradicional encenação da Paixão de Cristo aconteceu em cima do caminhão (Foto: Simão Nogueira)
Em frente à igreja São Pedro e São Paulo, nas Moreninhas, a tradicional encenação da Paixão de Cristo aconteceu em cima do caminhão (Foto: Simão Nogueira)
Nem a chuva que caia no início da apresentação impediu os fiéis de acompanharem a Via Sacra (Foto: Simão Nogueira)
Nem a chuva que caia no início da apresentação impediu os fiéis de acompanharem a Via Sacra (Foto: Simão Nogueira)

Os atores vão em cima de um caminhão e arrastam centenas de fiéis junto, mesmo debaixo da chuva, que, segundo a organização, insiste em cair todo ano. Para eles também não há tempo ruim, e para fazer o público se aproximar mais da história, entram nas cenas para valer.

Interpretando Jesus, Luan Torres dos Santos, 21 anos, sentiu na pele um pouco da flagelação vivida por Cristo. “Até nos ensaios apanhei de verdade”, conta. Para incorporar o protagonista da encenação, o jovem diz que estudou muito sobre a história. “É muita responsabilidade pegar este papel, tive que ler, assistir filmes”.

Orgulhoso por fazer parte desde a primeira encenação realizada pela Nossa Senhora Aparecida, em 1987, o coordenador da apresentação, João Marcolino da Silva, conta que a equipe este ano tem aproximadamente 100 pessoas, entre atores, figurantes e equipe de apoio.

Sobre a estrutura, ele conta que cada estação da Via Sacra é feita em casas de moradores do bairro, que preparam um momento especial para os fiéis refletirem e depois seguem em procissão atrás do caminhão.

“Jesus sofreu tanto por nós, é importante relembrar isso. A apresentação melhorou muito, está bonito de ver”, elogia a dona de casa Maria Laene Almeida, 67 anos, que desde o primeiro ano acompanha, fielmente, a encenação.

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