ACOMPANHE-NOS     Campo Grande News no Facebook Campo Grande News no Twitter Campo Grande News no Instagram
MARÇO, SEXTA  29    CAMPO GRANDE 29º

Comportamento

Ser “patrimônio” da cidade para o engraxate significa algumas regalias

Ângela Kempfer | 23/07/2012 15:27
Assis, o engraxate mais antigo do Centro de Campo Grande. (Fotos: Minamar Júnior)
Assis, o engraxate mais antigo do Centro de Campo Grande. (Fotos: Minamar Júnior)

Guardados em um espaço sob a cadeira, o engraxate Assis Antunes guarda os presentes que ganha dos amigos. “Já tive mais de 70 cintos, por exemplo. São coisas que dão e que vou guardando”, conta o senhor de 74 anos, em uma manhã normal de serviço na rua Cândido Mariano, no Centro de Campo Grande.

A própria cadeira de ferro para atender a clientela foi presente do vizinho, dono da lotérica. Quando a casa de apostas ficava em outro ponto da Cândido Mariano, seo Assis trabalhava com uma enorme estrutura de madeira. A lotérica mudou de endereço e o engraxate foi junto.

“Aquela cadeira estava caindo aos pedaços, então resolvi ajudar e dei essa de presente”, lembra o comerciante Osvaldo Gregório Júnior. “Todo mundo aqui sabe que ele (Assis) é um patrimônio de Campo Grande.

Dos clientes fiéis, também ganha roupas para ele e para a esposa. “Me dão de tudo, nem preciso comprar roupa ou presente para a patroa”.

Mas quem ganha, também compartilha. Ao abrir o pequeno armário sob a cadeira, retira um cinto preto e um vermelho e oferece. “Leva um, se não for para você, para seus meninos”, recomenda.

Como um dos últimos engraxates de Campo Grande, o mais antigo na profissão, o senhor bem arrumadinho só perde o sorriso quando olha para o fotógrafo de tênis. “Essa rapaziada agora só anda assim, com pano nos pés. Não dá para entender”, reclama.

Por R$ 5,00, ele engraxa e ainda conta histórias. “Adoro mentir”, brinca.

Seo Assim mostra cera azul, aberta para cliente especial, uma vez em 3 anos. (Fotos: Minamar Júnior)
Seo Assim mostra cera azul, aberta para cliente especial, uma vez em 3 anos. (Fotos: Minamar Júnior)

Depois de 34 anos como capataz de fazenda no Pantanal, ele resolveu morar na cidade e a única função que encontrou foi a de engraxate. “mas nunca andei com caixinha nas costas não. Sempre fui de freguesia chique”, garante.

Quando a lida era no campo, a vida dura só não era mais pesada por conta do bom humor do capataz. “Era uma época que matava por um pedaço de terra. Eu, graças a Deus, nunca matei índio, só mosquito”, fala com simplicidade.

Lá se vão quase 40 anos desde que saiu do Pantanal e veio para Campo Grande com 8 filhos e a esposa.

Chegou no tempo de vai e vem agitado de personalidades no Centro da cidade. “Atendi muito político e ainda atendo juiz”.

Hoje ele diz que até pensa em parar, mas gosta de jogar conversa fora nas manhãs do Centro e a aposentadoria miúda também não deixa.

Na mesma quadra, um rapaz bem mais jovem também oferece os serviços, uma concorrência que parece não intimidar seo Assis. “Chegou para trabalhar cedinho, ele não. Meus clientes são como eu. Tem dia que antes mesmo do almoço já fui para casa e ele fica aí, engraxando o que aparece”.

Pelo respeito ao serviço, ele diz fazer sacrifícios. “Há 3 anos, o deputado Akira Otsubo veio aqui e ficou de boca aberta quando disse que ia encerar o sapato azul dele. Abri a cera só para isso e nunca mais usei”, conta, mostrando a cera seca dentro da lata.

Nos siga no Google Notícias