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Comportamento

Simone Tebet e os "códigos" para lidar com homens e dinheiro

Ângela Kempfer | 11/01/2012 09:00
Flores decoram o gabinete da vice-governadora Simone Tebet, no Parque dos Poderes. (Foto: João Garrigó)
Flores decoram o gabinete da vice-governadora Simone Tebet, no Parque dos Poderes. (Foto: João Garrigó)

A sala mudou bastante depois que Simone Tebet assumiu o posto de vice-governadora de Mato Grosso do Sul. As paredes, que na verdade são divisórias de diferentes cores, ganharam um revestimento em tecido, idéia do primo e arquiteto Luis Pedro Scalise.

“Não gastei um centavo de dinheiro público. Sei que isso não era prioridade, então fiz por conta própria, com tecido barato”, faz questão de esclarecer a mulher de maior destaque hoje na política sul-mato-grossense, algo que nem a oposição pode negar.

No gabinete, os móveis foram doados pela mãe ou trazidos da casa antiga em Três Lagoas. A relíquia é a mesa principal, enorme, feita de madeira a pedido do pai, o ex-senador Ramez Tebet. “Foi do primeiro escritório de advocacia dele aqui em Campo Grande”, conta a filha que aos 9 anos passou a viver na Capital com os pais.

Aquele tal toque feminino clichê está na decoração interna, no pequeno jardim da sacada, mas, principalmente na forma de tratar as pessoas que entram e saem do gabinete da vice-governadora.

Gentil, sorridente, de fala serena, Simone – a mais velha, foi a única dos 4 filhos de Ramez a enfrentar a vida política. “Todos nós crescemos pensando que o único político da família era meu pai”.

Advogada formada no Rio de Janerio, professora de Direito Administrativo em 5 instituições até mudar de caminho, a história política do pai pesou há dez anos. “Ele me convenceu a ser candidata, achava que tinha capacidade técnica e moral para isso. Desde 75, quando meu pai foi nomeado prefeito de Três Lagoas, eu vivia isso. Não conheço outra vida”.

Ao se eleger pela primeira vez em 2002 como deputada estadual pelo PMDB, Simone já tinha coordenado campanha de Ramez ao Senado e trabalhado como consultora técnica da Assembleia Legislativa.

Sabe o regimento do Legislativo de cor, mais um ponto no currículo que tem um peso grande da sorte, admite. "Para mim tudo foi mais fácil por causa do meu pai, sei disso. Mas consegui o respeito pela minha capacidade"

Ao assumir o primeiro cargo eletivo, o maior susto foi descobrir o real tamanho da corrupção, revela.

“Sabia que existia. Suspeitava de algumas pessoas, mas nunca pensei que fosse algo tão grande”. Como líder da oposição na Assembleia, Simone virou a porta-voz contra o governo Zeca do PT, um endereço para dossiês com acusações contra o PT.

Agora, é uma das principais fichas do governador André Puccinelli. “Faço tudo que ele pedir (Puccinelli), até o momento que me prejudique”, comenta. No entanto, por duas vezes ela diz ter ultrapassado até mesmo esta única restrição.

“Primeiro quando tive de renunciar à prefeitura de Três Lagoas e a segunda vez quando mudei meu domicilio eleitoral para Campo Grande”, admite lembrando que teve medo da reação das pessoas em Três Lagoas com a centralização dos planos políticos na Capital.

A relação entre os dois é de admiração explícita. Puccinelli teve apoio fundamental de Ramez no início de carreira e atualmente não economiza nos elogios à Simone.

A confiança é notória. Puccinelli já deixou 3 vezes o governo nas mãos de Simone, atualmente porque está de férias. São experiências curtas, mas significantes diante da personalidade desconfiada do chefe.

“André sabe que pode contar com 3 qualidades minhas: ser verdadeira, fiel e amiga. Com a morte do meu pai, transferi para ele a admiração política”.

Retratos das filhas Maria Fernanda e Maria Eduarda e do esposo Eduardo Rocha, deputado estadual, presentes no trabalho. (Foto: João Garrigó)
Retratos das filhas Maria Fernanda e Maria Eduarda e do esposo Eduardo Rocha, deputado estadual, presentes no trabalho. (Foto: João Garrigó)

Cuidados - Sobre um dos armários do escritório, a vice-governadora tem algumas fotos, uma delas de Puccinelli ao lado de Ramez, em uma das tantas caminhadas de ambos pelo Estado.

Na outra ponta do móvel, Simone mostra a foto das duas filhas – Maria Fernanda e Maria Eduarda, e do esposo Eduardo Rocha – deputado estadual.

À família nunca faltou dinheiro e ainda hoje a vida da advogada é bastante confortável em um apartamento na rua das Garças, em Campo Grande.

Mas não há jóias ou roupas aparentemente caras na rotina pública de Simone. “Dinheiro não é para ostentar, nem para gastar sem critério”, justifica.

De “chique” apenas o perfume Flower by Kenzo. “Digo que só não troco de perfume e de marido”, brinca.

A vontade de preservar a vida privada, de evitar comentários sobre pequenos luxos, significa algumas reservas. “As meninas foram as últimas da escola a ganhar celular. Só viajaram para a Disney porque foi presente de aniversário, depois que todas as amiguinhas já tinham viajado.”

As meninas de 11 e 14 anos são compreensivas, garante a mãe. “Uma noite, quando ainda era prefeita (Três Lagoas), minha filha reclamou que não tinha mais casa. Levei 3 equipes diferentes para trabalhar em casa naquele dia e ela, de pijama, não conseguia chegar a cozinha”, lembra.

Hoje, com horário melhor definido, a mãe consegue passar as noites ao lado das filhas, mas ainda deixa de fora algumas "coisas de mulher". Salão de beleza, por exemplo, é só quando dá e atividade física é prioridade para 2012, promete. "Eu adoraria, por exemplo, ir ao Ponto Mix do Shopping, mas não dá. Muita gente acaba me parando para conversar".

O assédio obrigou Simone a estabelecer um código de conduta particular. Bonita, tem tratamento diferenciado para om os homens, por exemplo. "Mulheres eu beijo, abraço, mas os homens é só aperto de mãos".

O mais surpreendente na rotina, avalia a vice-governadora de 42 anos, é de onde vem a maioria dos assédios masculinos. "Cantadas" que com delicadeza ela chama de "abordagens". "São engraçadas algumas abordagens, porque a maioria é da moçada, porque é gente mais descontraída. Mas é tudo muito sutil", comenta.

Simone Tebet com a mesa herdada do pai. (Foto: João Garrigó)
Simone Tebet com a mesa herdada do pai. (Foto: João Garrigó)
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