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Comportamento

Um condomínio em pé de guerra: “Ditadura da Chica X Gangue do Amorim”

Ângela Kempfer e Francisco Júnior | 16/04/2012 12:29
Um condomínio em pé de guerra: “Ditadura da Chica X Gangue do Amorim”
Síndica em foto de 2009.
Síndica em foto de 2009.
Amorim encabeça a oposição.
Amorim encabeça a oposição.

A briga dura anos e, conforme o tempo passa, mais tensa fica. No condomínio Eudes Costa, um dos maiores e mais antigos de Campo Grande, assembleia já rendeu até arma no pescoço da síndica, odiada por um grupo que desde 2004 tenta tirá-la do cargo.

Na sexta-feira, Francisca Assis Santos tentou tomar posse mais uma vez, pelo 12º ano consecutivo, em uma assembléia com muito bate-boca, que acabou suspensa depois de dedo em riste na cara e gritaria.

Já de saída, antes de qualquer deliberação, os dois principais adversários dentro do condomínio escancararam mais uma vez o conflito que dura 8 anos em uma discussão sobre a composição da mesa para a prestação de contas dos últimos meses, um dos itens na pauta da noite e o que mais provoca discórdia.

De um lado Francisca, representante da “Ditadura da Chica”, conforme os inimigos. Do outro, Inocêncio Amorim, que encabeça a “Gangue do Amorim”, como é tratado o grupo contrário à síndica.

Uma equipe do 1º BPM (Batalhão da Polícia Militar) ficou o tempo todo do lado de fora, para evitar mais um “incidente”, como o que aconteceu no mês passado, quando uma moradora sacou arma durante a assembléia e partiu para cima de Francisca.

A moradora, Franscisca Francinete Leite, 60 anos, diz que queria só assustar a síndica que tenta tirar a lanchonete que mantém há anos no Eudes Costa, por conta de uma dívida que tenta renegociar, sem sucesso.

Motivos para tantos barracos não faltam, garante a oposição. Já a defesa de Francisca assegura que muito tem sido feito pelo Eudes Costa e o que incomoda é a linha dura para evitar abusos de moradores folgados.

Luzi Jorge dos Reis Vergani, ex-subsíndica, é o braço direito de Francisca, só deixou o cargo este ano, depois de muito tempo ao lado da amiga na administração. “O que era o Eudes Costa há 12 anos? O condomínio está muito melhor agora, organizado”, afirma lembrando que a atual administração já conseguiu reduzir valores do IPTU e travou brigas pelo bem dos moradores, mas é a única a falar em defesa. Francisca não dá entrevista ao lado B.

Já os contrários à administração não poupam ataques. Apresentam um dossiê contra “Chica”, com processos por danos morais, além de relatórios de dívidas do condomínio com as empresas de saneamento e energia, referentes a 2007 e 2008.

Franscisca Francinete Leite, 60 anos, foi presa após tentar matar a síndica do condomínio e mostra fotos do comércio que mantém no local, motivo da briga.
Franscisca Francinete Leite, 60 anos, foi presa após tentar matar a síndica do condomínio e mostra fotos do comércio que mantém no local, motivo da briga.

A acusação mais grave já foi parar no Ministério Público Estadual, sobre indícios de enriquecimento ilícito e má aplicação dos recursos. “No muro levantado este ano entorno do condomínio a gente pagou quase 1 milhão e ainda falta uma parte”, reclama Amorim. São 22 prestações de R$ 70,00 para cada um dos 560 apartamentos.

Outra denúncia é de que Francisca conseguiu aposentadoria por invalidez em 1998, apesar de receber mais de R$ 2,4 mil por mês para administrar o condomínio, o que, segundo ela mesma “dá muito trabalho”.

O clima é tão tenso que dois seguranças também foram contratados pela síndica para a assembleia da última sexta, que também teve a presença do advogado dela, Luiz Henrique Volpe Camargo. O pobre homem foi tão atacado que acabou abandonando a reunião repetindo a frase: “Eu não preciso disso. Eu não preciso disso”.

Além da falta de documentos que convençam sobre os gastos no Eudes Costa, alguns moradores se levantam contra o processo eleitoral, realizado no dia 31 de março.

A chapa articulada por Amorim foi indeferida um dia antes da eleição. “Ela (Francisca) disse que a candidata a presidente não era dona do apartamento e nem casada com o proprietário. Desrespeitou a regra que aceita a união estável como comprovação de vínculo”, explica Amorim.

Segundo moradores, a comissão eleitoral que impugnou o registro da candidatura da chapa concorrente foi formada por pessoas escolhidas pela própria sindica.

A dona de casa Ellen Regina Queiroz, 43 anos, era outra das integrantes da chapa contrária à Francisca e também teve a candidatura impugnada porque o apartamento onde mora está no nome do filho, de 7 anos, e por isso ela não aparece como proprietária. “Essa mulher é a uma tirana. Ela comanda aqui como Fidel Castro. Ela manda e desmanda e nada acontece”, diz revoltada.

“A mesma regra não valeu para a chapa da síndica, que também tinha pessoas que não são proprietários de apartamentos”, ataca Amorim.

A briga entre os dois grupos já levou o Eudes Costa a eleições em 2004 e 2006, mas nos 2 casos a oposição teve as chapas impugnadas. “Fiquei desgostoso e então só voltei a entrar na briga neste ano, porque não aguento mais”, justifica Amorim.

Do lado da turma do contra, o advogado Guilherme Vieira de Barros encabeçou o maior questionamento que já dura anos, a prestação de contas. Apresentando documentos, o grupo disse que tentou por três vezes este ano ter acesso aos documentos de prestação de contas do condomínio, o que sempre foi negado pela síndica.

Como o barraco instalado impediu a evolução da conversa, agora a prestação de contas será feita em juízo.

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