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Consumo

Boteco inaugurado na década de 60 tem cachaça encalhada há 50 anos

Ângela Kempfer | 09/10/2013 06:18
O proprietário que há 50 anos abriu bar no Manoel Taveira. (Fotos: Marcos Ermínio)
O proprietário que há 50 anos abriu bar no Manoel Taveira. (Fotos: Marcos Ermínio)

Quem passar pela rua Terlita Garcia, no bairro Manoel Taveira, em horário comercial, com certeza verá o proprietário sentado na porta do “Bar do Jorge”. Na cadeira de cordas, com cachecol no pescoço (mesmo com um calor danado), o senhor de 86 anos não tira os olhos do movimento.

Não há ser humano com um pouquinho de curiosidade que siga o caminho sem entrar. Lá dentro, no teto, os baldes e vassouras à venda têm a poeira de, pelo menos, uns 20 anos. Mas é a cachaça o item mais antigo, conta o dono, Jorge da Silva.

Um carregamento da legitima bebida brasileira foi comprado para a inauguração do bar, há 50 anos. Algumas garrafas estão lá desde então. O rotulo da Caninha Oncinha chega a estar duro de tão sujo. O valor é reajustado como qualquer outra bebida e hoje custa R$ 12,00.

Tão velhos, só os baleiros de tampas surradas, amassados como se já tivessem caído ao chão milhares de vezes, desde 1962.

Jorge nasceu em Pernambuco e desde os 7 anos vive longe dos pais. Foi parar na Amazônia, virou militar do Exército e depois decidiu apostar o que tinha em Campo Grande.

Chegou quando não havia nada na região, na saída de Rochedo. “Era só terra e eu”, lembra o senhor de fala lenta. “Os muros da escola, ajudei a construir como muita casa aqui”, conta.

Fachada já em queda.
Fachada já em queda.

Depois de casar duas vezes e ficar viúvo também na mesma conta, hoje ele vive sozinho no bar que já não tem clientela. “Tem dia que entra alguém para comprar bala ou uma pinga”, diz.

Os filhos ganharam o mundo e agora ele quer fazer o mesmo caminho. O trabalho ali já rendeu 8 assaltos, o último no dia 12 de setembro. Agora, ele anda com um porrete ao alcance da mão e uma atenção incrível para quem já passou dos 80.
O ar desconfiado, de quem fala sem querer dizer, só desaparece quando seu Jorge começa a planejar o futuro.

De repente, após muitas palavras arrancadas praticamente na marra, ele engata uma conversa animada e pede para a reportagem fazer o anúncio: “Diz que eu coloquei o bar à venda. Tenho dois lotes aqui. Quero me desfazer para ir morar com a minha filha em Andradina (SP)”.

Na árvore em frente ao bar, por falta de uma, são 3 placas anunciando a venda: “Vendo dois lotes por R$ 70 mil cada, sem desconto”.

Os imóveis estão em terrenos de tamanho 12X30. Foram comprados quando poucos se aventuravam na região. “Tô vendendo barato. Tem gente que diz que vale R$ 120 mil cada um”, garante o proprietário.

Para quem duvida do justo valor, ele acrescenta: “Aqui só se usa a verdade. Se for para eu mentir, vou deixar de ser homem”.

Para os interessados nos terrenos, seu Jorge pede para divulgar o número do telefone: 91719187.

Produtos no teto têm a poeira de décadas.
Produtos no teto têm a poeira de décadas.
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