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Consumo

Novas criações tem vestidos para noivas muçulmanas e looks provençais

Elverson Cardozo | 21/11/2014 06:23
Coordenadora do curso de Moda diz que faculdade permite criações de peças conceituais, mas as comerciais tem mais chances de emplacar no mercado. (Foto: Marcelo Calazans)
Coordenadora do curso de Moda diz que faculdade permite criações de peças conceituais, mas as comerciais tem mais chances de emplacar no mercado. (Foto: Marcelo Calazans)

A última semana e o início desta foram de apreensão para 43 alunos do curso de Tecnologia em Design de Moda, da Universidade Anhanguera-Uniderp, em Campo Grande. A turma, que está deixando a faculdade depois de 2 anos e meio de estudos, teve de apresentar o trabalho final, o que chamam de “portfólio de moda”.

Os acadêmicos tiveram dois meses para elaborar coleções completas e apresentá-las à banca examinadora. O resultado surpreendeu a professora Carolina Debus, que coordena o curso.

Traje típico da Miss MS, Érika Moura, foi criado pela estudante Thayná Knapp. (Foto: Divulgação)
Traje típico da Miss MS, Érika Moura, foi criado pela estudante Thayná Knapp. (Foto: Divulgação)

Alguns se destacaram, como foi o caso da acadêmica Thayná Knapp que, em menos de uma semana, desenhou e confeccionou o traje típico da Miss Mato Grosso do Sul, Érika Moura, para a disputa nacional que ocorreu em setembro.

O vestido amarelo, composto por uma saia longa sobreposta ao um body de renda bordado, faz parte da “Coleção Ipê”, inspirada na árvore que virou marca registrada da cidade.

A faculdade, afirma Carolina, proporciona a liberdade de se fazer peças conceituais, tanto é que alguns acadêmicos apresentaram projetos nessa linhas, mas os mais comerciais, como o de Thayná, tem mais chances de emplacar no mercado. O portfólio de conclusão de curso é, portanto, uma boa oportunidade de sair da graduação trabalhando.

“É o que eu sempre falo: moda tem que gerar renda. Moda é o segundo setor que mais emprega no País. Roupa é o item que mais vende pela internet. É um mercado muito grande. Não dá para ficar de brincadeira”, diz.

Além de Thayná, outros alunos também podem se dar bem, cada um com o seu conceito. O Lado B foi conferir o trabalho de cinco que, segundo a professora, podem ver a produção ir direto para as araras das lojas.

Coleção de Bruna foi pensada para a mulher negra. (Foto: Marcelo Calazans)
Coleção de Bruna foi pensada para a mulher negra. (Foto: Marcelo Calazans)

Para mulheres negras - Bruna Fonseca, de 25 anos, fez uma coleção para mulheres negras de 40 a 50 anos, que gostam de badalar e que não se deixam levar pela idade.

O trabalho é inspirado na tribo africana Dinka, do Sudão, e uma homenagem à mãe e às mulheres da própria família. “Eu queria peças que trouxessem essa alegria, essa jovialidade toda que elas tem, apesar da idade, e que valorizassem a cor da pele delas. Então eu fiz peças divertidas, bem coloridas, mas que são para o trabalho e happy hour”, destaca.

Ela entrou no curso de moda depois de tentar dois anos de arquitetura. No projeto de conclusão, criou um macacão vinho com calça pantalona, em tecido crepe de seda, que pode ser utilizado com um blazer amarelo de sarja acetinada.

Também fez dois vestidos floridos e um conjunto composto por saia lápis amarela e uma blusa peplum floral. Todas as peças tem detalhes em couro porque a tribo, diz, tem forte ligação com o gado.

Noivas muçulmanas - Marinete Oliveira, de 43 anos, desenvolveu uma coleção exclusiva de vestidos para noivas muçulmanas. Desenhou 15 modelos, mas levou à apresentação apenas dois.

Marinete trabalha com vestidos de noivas desde os 14 anos e se encantou com os modelos muçulmanos. (Foto: Marcelo Calazans)
Marinete trabalha com vestidos de noivas desde os 14 anos e se encantou com os modelos muçulmanos. (Foto: Marcelo Calazans)

Um deles é um vermelho, feito com 32 metros de gazar de seda, com renda tule bordada, paetês e cristais, além de um véu de tule ilusione. O modelo tem babados em camadas estruturadas com auxílio de linha de pesca.

O segundo é um branco, com 12 metros de gazar, cetim italiano, renda chantilly e bordado com pedras leitosas importadas.

A peça tem um bolero e, por isso, pode ser usada com as mangas compridas ou como tomara-que-caia.

Marinete resolveu fazer vestidos de noiva primeiro porque tem loja e trabalha com isso desde os 14 anos. Depois, porque a beleza dos casamentos muçulmanos a encantou.

Vestido vermelho teve babados estruturados com linha de pesca. (Foto: Marcelo Calazans)
Vestido vermelho teve babados estruturados com linha de pesca. (Foto: Marcelo Calazans)
Branco tem 12 metros de gazar, cetim italiano, renda chantilly e bordado. (Foto: Marcelo Calazans)
Branco tem 12 metros de gazar, cetim italiano, renda chantilly e bordado. (Foto: Marcelo Calazans)

“A riqueza, o brilho, tudo é muito mágico quando você começa a pesquisar. [] Comecei com a idade de fazer vestidos de noiva com penas, mas quando comecei a encaixar não era isso”, revela.

Hippie chique - Natural de Minas Gerais, Luane Sales, de 21 anos, fez uma coleção “hippie chique” inspirada na religiosidade da cidade histórica de Ouro Preto.

Luana deu destaque à religiosidade de Ouro Preto. (Foto: Marcelo Calazans)
Luana deu destaque à religiosidade de Ouro Preto. (Foto: Marcelo Calazans)

“Foi lá que ocorreram as primeiras manifestações do Barroco. Sou totalmente apaixonada pelo Barroco. Desde que vi aquela novela, Coração de Estudante, eu fiquei a apaixonada e passei a pesquisar sobre ela. Gosto de evidenciar a cultura do Brasil. Eu não gosto de ir para fora buscar referência, por isso fui nas minhas origens. Como a religiosidade é muito bonito, uma coisa do brasileiro, e o mineiro tem a religião como uma coisa muito séria, e traz uma carga carga grande de cultura, eu resolvi fazer sobre esse assunto”

Ela criou 10 peças mas, para apresentar na banca, confeccionou 5: um vestido de camurça, inspirado na Igreja de São Francisco, com manga bufante, que traz a imagem da torre do templo, feita por Aleijadinho. A estampa do meio representa o teto da igreja, cuja pintura foi feita pelo pai do escultor. Os detalhes em crochê representam o minimalismo das pinturas que, na época, eram feitas à mão.

Cinco modelos foram confeccionados para a banca. (Foto: Marcelo Calazans)
Cinco modelos foram confeccionados para a banca. (Foto: Marcelo Calazans)

O segundo look é um top cropped com detalhes dourados e imagens da Igreja Matriz de Nossa Senhora do Pilar. Acompanha um saia longa preta. O terceiro é composto por uma saia dourada, acima dos tornozelos, e outro top cropped, mas com estampa exclusiva do teto da Igreja do Pilar, feito a partir de desenhos multiplicados no computador.

O mais trabalhoso foi um vestido longo com transparência no tecido tule ilusione, aplicação de pedrarias e uma imagem de São Francisco coberta com glitter. Teve outro, longo também, mas na cor marrom, característica do Barroco, e detalhe dourado, para evidenciar as riquezas dos altares.

“Petit” - A acadêmica Emily Buchara, de 27 anos, preferiu trabalhar com uma coleção infantil feminina, batizada de “Petit”. São looks inspirados nas camisolas vitorianas do século XIX, na época da Rainha Vitória.

Emily quis resgatar a "infância perdida"  e se inspirou nas camisolas vitorianas.  (Foto: Marcelo Calazans)
Emily quis resgatar a "infância perdida" e se inspirou nas camisolas vitorianas. (Foto: Marcelo Calazans)
Peças tem cores claras, aplicações de pérolas e  rendas. (Foto: Marcelo Calazans)
Peças tem cores claras, aplicações de pérolas e rendas. (Foto: Marcelo Calazans)

“É um protesto contra essa imposição da mídia de sensualizar as crianças”, explica. Três peças, de um total de 10 criadas, foram confeccionadas: um vestidinho branco com renda guipir e aplicação de pérolas, que é utilizado junto com um shorts bege, com botão de pérola.

O segundo é um vestido de babados, com renda tule e com detalhes em tom verde erva-doce. O terceiro é um macacão de tule, que também leva aplicações de pérolas. Trata-se, esclarece, de uma coleção provençal.

O objetivo é resgatar a pureza e ingenuidade de meninas de 2 a 4 anos, por isso os looks são mais românticos.

“Liberdade” - Talita Queiroz, de 19 anos, criou a “Coleção Liberdade”, composta por peças masculinas, deslocadas, com uma pegada mais urbana e bem despojada. A estudante desenhou 10 looks, mas elaborou 2 para apresentar aos professores: uma regata com estampa de gaiola, lata de spray e frases como “mais amor por favor”, além de um calça marrom de sarja.

Talita preferiu as roupas masculinas, em uma coleção mais descolada. (Foto: Marcelo Calazans)
Talita preferiu as roupas masculinas, em uma coleção mais descolada. (Foto: Marcelo Calazans)

O segundo é composto pela mesma calça de sarja, mas a parte de cima é uma jaqueta com aplicação de couro ecológico e com forro também estampado com gaiolas. A regata traz o mesmo desenho.

Na cartela de cores tem marrom, branco, preto, vermelho, amarelo, cinza e azul. Talita trabalhou o urbano a partir do grafite e dos trabalhos desenvolvidos pelo grafiteiro Igor Nunes, do Rio de Janeiro.

“Ele grafita pássaros pela cidade”, conta, ao dizer que o conceito da coleção buscou a liberdade por meio da arte. Mas a referência também tem relação com a própria história. “Eu tenho um grupo de dança e música e sempre me colocavam como responsável pelo figurino. Eu não entendia muita coisa, mas tinha afinidade”.

Camisa regata tem estampa de gaiola. (Foto: Marcelo Calazans)
Camisa regata tem estampa de gaiola. (Foto: Marcelo Calazans)
Jaqueta tem aplicação de couro ecológico. (Foto: Marcelo Calazans)
Jaqueta tem aplicação de couro ecológico. (Foto: Marcelo Calazans)
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