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Consumo

Relíquia na garagem, jipe da 2ª Guerra é sonho de criança realizado após 29 anos

Aline Araújo | 07/02/2015 07:23
Hoje o Jipe ajuda na lida com o campo. (Foto: Arquivo pessoal)
Hoje o Jipe ajuda na lida com o campo. (Foto: Arquivo pessoal)

Histórias de amor entre o homem e o carro são até comuns, mas algumas são tão legais que merecem ser contadas. Para alguns, o bem de quatro rodas representa muito mais que um veiculo. É um sonho mantido por anos, um sentimento de conquista e lembrança de um desejo de menino que ficou perdido no tempo, com gosto de saudade.

O caso entre José Barbosa Ferreira, de 58 anos, e seu jipe militar, de 1943 (dois anos antes do fim da 2ª Guerra), começou quando ele tinha 11 anos e vendia picolés na rua. Quando viu o veículo pela primeira vez, se encantou. “Eu encontrei o major com esse jipe, ele pagou uma rodada de picolé para os eletricistas que estavam ali e o carro ficou desenhado na minha cabeça. Eu falei para ele. Quando eu crescer vou ter um jipe igualzinho ao do senhor”, lembra.

Barbosa comprou o Jipe em 1986. (Foto: Arquivo pessoal)
Barbosa comprou o Jipe em 1986. (Foto: Arquivo pessoal)

O tempo passou e o “sonho de menino” continuou presente na cabeça de Barbosa. Quando completou 29 anos, trabalhava em uma oficina mecânica e o objeto de desejo sonho ficou um pouco mais perto. “Na época fui olhar os classificados do jornal. E vi lá: 'Vende-se Jipe Militar no Posto Santa Emília. Meu coração acelerou, eu sai na hora e fui lá com o macacão de mecânico mesmo, todo sujo”.

Mas não deixaram o moço nem ele ver o jipe, já que não estava com “cara” de que iria comprar. Um rapaz que estava no local deu a dica sobre a origem da relíquia. O dono o veículo morava no bairro Nova Campo Grande e tinha um carro com uma águia na porta. Persistente, Barbosa andou no bairro de casa em casa até encontrar o carro com a tal águia.

"Quando eu vi, o coração disparou! Era o meu sonho de menino que estava ali. Quando eu vi eu falei é ele, o mesmo jipe que eu vi com 11 anos na rua” conta, empolgado

Diz que foi muito bem recebido pelo proprietário, os dois conversaram por horas sobre coleção de coisas antigas e a negociação começou. "Ele falou que o jipe só estava a venda se fosse completo com o reboque. Só vendia os dois juntos, por 70 mil cruzados", detalha. E não adiantava cheque ou pagamento parcelado, tudo tinha de ser à vista.

Como na época não tinha todo o montante, o sonho ficou na saudade. 

Quem acredita em destino pode afirmar que o dele e o do veículo estavam traçados, na mesma estrada. O jipe não foi vendido e tempos depois o dono ligou para Barbosa, para fazer uma proposta. A negociação por telefone foi presenciada por um parente que era fazendeiro no Pantanal e cliente na oficina.

Curioso, perguntou sobre o que se tratava a negociação, Barbosa contou a história e ele decidiu que queria ver o Jipe. Os dois retornaram à casa do dono e lá se foi mais uma tarde de conversa sobre antiguidades.

“O parente me disse que tinha aprendido a guiar em um jipe como esse e se eu não comprasse ele iria comprar. Eu disse que não tinha como, mas que ele podia fechar o negócio que pelo menos o sonho ia estar mais perto”, mas o amigo fez melhor, apresentou Barbosa para o gerente do banco e de lá saiu o empréstimo que precisava para comprar o Jipe. No final das contas acabou pagando mais de 110 mil cruzados.

O carro faz parte da rotina diária do fazendeiro. (Foto: Arquivo pessoal)
O carro faz parte da rotina diária do fazendeiro. (Foto: Arquivo pessoal)

Ela estava com o carro há pouco mais de dois meses e recebeu a proposta de trocar por um Monza novo, que na época valia 130 mil cruzados. Depois de tanta luta, é claro que recusou a proposta, "porque dinheiro nenhum pagava o sonho de moleque na garagem".

Barbosa e a família se mudaram para uma chácara no município de Aquidauana, a 135 quilômetros de Campo Grande. Passados 46 anos da compra, o jipe é companheiro inseparável na lida do campo. “Sai do canavial lotado até a tampa”, comenta, com bom humor.

Hoje, se oferecerem R$ 50 mil na relíquia militar especial para a guerra, ano 1943, motor 4 cilindros, traçado reduzido com um guincho com tomada de força, Barbosa diz que até pensar na proposta. Mas só pensar, o valor sentimental é maior até que toda a pompa de peça de colecionador.

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