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Diversão

Brasil, crença, natureza, lixo, luxo e número no Carnaval de Campo Grande

Elverson Cardozo | 15/01/2013 08:25
Escolas entram na avenida nos dias 8 e 9 de fevereiro. (Foto: Arquivo/João Garrigó)
Escolas entram na avenida nos dias 8 e 9 de fevereiro. (Foto: Arquivo/João Garrigó)

As oito escolas de samba de Campo Grande que vão desfilar no carnaval de Campo Grande já definiram seus enredos, conforme informado à Lienca (Liga das Entidades Carnavalescas), incluindo a agremiação mirim que realiza abertura, mas não compete. O Lado B ouviu os presidentes e carnavalescos responsáveis pelos temas.

Os Herdeiros do Samba, da Aresm (Associação Recreativa Escola de Samba Mirim), primeira a entrar na avenida, depois do bloco Afoxé Ilêomôaiye, vai falar sobre “Respeito”.

Presidente da escola, Fátima de Luz, de 59 anos, explicou que a inspiração surgiu de problemas notados no Carnaval do ano passado. Como a agremiação é convidada, afirmou, os integrantes geralmente não tem “voz”.

“Foi um desrespeito geral. Eu senti que as escolas grandes desrespeitaram. Quando chegamos na avenida o desfile havia sido cancelado e nem sabíamos”, disse, ao comentar que o respeito, tema central da agremiação, é um sentimento que todo humano deve ter. “É um princípio básico, desde que você nasce”, completou.

Grupo de acesso - A Cinderela Tradição do José Abrão, que integra o grupo de acesso, tem como tema “Sou Brasileiro e não desisto nunca”. O enredo foi pensado na trajetória da própria escola. A perseverança é o foco principal. “Fomos rebaixados e estamos lutando, perseverando”, explicou o primeiro tesoureiro e diretor de alegoria, Márcio Marques Soares, de 44 anos.

Unidos do Aero Rancho apostou na numerologia, com “Os segredos e a magia do número 7”. A idéia inicial foi falar sobre a abolição, mas o algarismo se mostrou mais fácil no quesito assimilação, explicou a presidente, Maria Benites Filartiga, de 51 anos.

“Tem várias coisas com o número 7, a branca de neve e os sete anões, os sete pecados capitais, por exemplo. Vamos falar de algumas coisas do número 7, mas coisas alegres, conhecidas pelo público, que poderá interpretar. Por enquanto, a única informação confirmada é que, de fato, haverá uma ala sobre o conto infantil e uma sobre as sete novas maravilhas do mundo.

Mestre sala e porta bandeira da Vila Carvalho. (Foto: Arquivo/João Garrigó)
Mestre sala e porta bandeira da Vila Carvalho. (Foto: Arquivo/João Garrigó)

A Unidos do São Francisco fala sobre “As quatro estações”. Na hora de explicar, de defender o enredo, o presidente, Ale Mahmud Tlaes, de 59 anos, não teve dúvida. Foi sucinto: “Veio na cabeça. É uma coisa diferente. Vai chamar atenção”.

A Estação Primeira do Taquarussu se voltou à comunidade quilombola, com o tema “Tia Eva – um canto em louvor a São Benedito”. O presidente da escola, Gregório Ferreira T. Neto, foi procurado por duas vezes pela reportagem, mas não estava disponível para entrevistas.

Grupo especial - As quatro escolas do grupo especial também se inspiraram no Brasil, em crenças e no fascínio da natureza. A Vila Carvalho, campeã do ano passado, faz um pedido: “Brasil, mostra sua cara”. O apelo é pelas coisas boas que o país tem a oferecer.

“Mas também vai ter uma ala do Brasil ruim. Na parte boa vamos falar da miscigenação, a religiosidade, nosso futebol, do carnaval. Todo mundo quando fala do Brasil quer falar da parte ruim. Nós temos muitas coisas boas”, justificou.

A Deixa Falar aposta nas “Crenças e crendices – os mistérios da fé”. O foco são as heranças das religiões afro-brasileiras, do sincretismo, a fusão de doutrinas. “Vamos falar mais dos antepassados”, disse. A África e a Bahia vão receber destaque, mas a fé do Índio não vai ficar de fora, garantiu o carnavalesco responsável, Francis Fabian, de 52 anos.

A intenção, completou, era falar sobre o desafio de se levar uma escola de samba para a avenida, com o tema “Utopias – arquitetando folias”, mas a mudança no Legislativo Municipal e a indefinição com relação ao apoio e o alto custo inviabilizaram o projeto. O enredo ficou guardado para 2014.

“Do Lixo ao luxo – tenha fé, que até no lixão também nascem flores”, é o enredo da Unidos do Cruzeiro. O presidente da escola, Luiz Alex da Silva Guedes, disse que se inspirou na letra de um rap e “na onda do momento, onde tudo se recicla e pode virar material de primeira linha“.

A agremiação pretende falar sobre a reciclagem de papel, alumínio, plástico e lixo orgânico. As quatro primeiras alas serão repletas desses materiais. As quatro últimas trazem as transformações proporcionadas pelo reaproveitamento. “A gente vai falar que o que vem do lixo pode virar artigo de luxo”, salientou.

Maioria das agremiações apostaram em temas universais. (Foto: Arquivo/João Garrigó)
Maioria das agremiações apostaram em temas universais. (Foto: Arquivo/João Garrigó)

Os Catedráticos do Samba sem voltaram à natureza, com o tema “De encanto e fascinação – o mundo mágico de uma floresta em festa”.

Na composição de alas, o imaginário infantil ganhará força. “Vamos falar de bruxas, gnomos, fadas e as espécies de animais que tem nas florestas”, informou o carnavalesco Paulo Mathias, de 42 anos. A agremiação, ressaltou, está apostando na renovação.

Desde 2005, Os Catedráticos vinham fazendo homenagens. Entre os nomes que foram parar na avenida estão Délio e Delinha, Almir Sater, Helena Meirelles e o Instituto do Cego.

Temas universais - Sobre a justificativa de enredo fornecida pela Herdeiros do Samba, o presidente da Lienca, Eduardo de Souza Neto, afirmou que o assunto foi discutido à época e que a decisão de cancelar os desfiles foi tomada em conjunto, com a maioria das agremiações.

Eduardo não considera apropriado levar a discussão para avenida em forma de tema, mas diz defender a liberdade de expressão e a democracia.

Com relação aos enredos oficializados pelas oito escolas que vão desfilar em Campo Grande, o presidente da Liga afirmou que a maioria das agremiações apostaram em temas de fácil entendimento, tanto para os jurados quanto para o público, o que ele considera ser ponto positivo.

“Esse ano as escolas optaram por fazer mais enredos universais, mas todos eles são desenvolvidos muito bem. São temas que dizem respeito a nossa realidade”, disse.

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