ACOMPANHE-NOS     Campo Grande News no Facebook Campo Grande News no Twitter Campo Grande News no Instagram
ABRIL, QUINTA  25    CAMPO GRANDE 23º

Diversão

"Dono" dos maiores shows que a cidade já viu, Josimar não se enquadra ao mercado

Ângela Kempfer | 01/11/2011 16:18
Josimar conversou com o Lado B, em distribuidora de revistas que mantém na Vila Sobrinho.
Josimar conversou com o Lado B, em distribuidora de revistas que mantém na Vila Sobrinho.

Na programação de TV a chamada “Josimar Promoções apresenta” fazia qualquer jovem parar para ouvir qual era o show da vez em Campo Grande. Durante anos foi assim, a marca cultural do maior produtor de espetáculos musicais que a cidade já teve.

Há 2 anos ele fez a despedida, com Julio Iglesias no Rádio Clube, “era um sonho meu, uma realização pessoal”, conta. Agora, ele prepara a vida para deixar de vez o Estado e o País. O destino provável é Nova York, onde uma das filhas estuda.

Abrir mão de uma marca consolidada, com credibilidade junto ao público e no auge, é algo que aguça a curiosidade de quem viveu a época dos grandes shows de Josimar, que pagou para ver os Menudos e o Legião Urbana no Ginásio Guanandizão, ou levou a irmã mais nova para o show da Xuxa no Morenão.

Para lembrar o que fez o empresário desistir de Campo Grande, o Lado B entrevistou Josimar na distribuidora de revistas da editora Abril, que ainda mantém na Vila Sobrinho.

Foi exatamente o trabalho que o levou a promover o primeiro grande show que a cidade já viu, em 1985. “Percebi que a revista Contigo vendia muito com os Menudos na capa e ainda tinha o sucesso do programa do Gugu (SBT), descobri que eles vinham para o Brasil e decidi comprar o show”.

Os Menudos, ao lado do ex-prefeito Lúdio Coelho, durante desembarque em Campo Grande. (Foto: Roberto Higa)
Os Menudos, ao lado do ex-prefeito Lúdio Coelho, durante desembarque em Campo Grande. (Foto: Roberto Higa)

A estréia não poderia render experiência maior. "Até hoje encontro com senhoras que reclamam do tormento que eu provoquei, da dor de cabeça com as filhas chorando para ir ao show”, lembra.

Os meninos desceram do avião e da pista de pouso partiram direto, sem nenhum contato com as fãs enlouquecidas no saguão. “Foi uma loucura. A garotada queria me matar porque não deixei ninguém chegar perto".

Quase monossilábico ao falar de mudanças, o homem alto, um pouco grisalho, de vestimentas sóbrias, resume o motivo que o afastou do backstage. “Não dá mais dinheiro. Não aceito mais a forma como funciona hoje”, justifica.

De uma só vez, ele chegou a comprar 30 shows de Fábio Júnior, no início dos anos 90, quando o cantor ainda era topo das paradas de sucesso. Com o pacote fechado, viajava por Mato Grosso do Sul, Mato Grosso e estados do Norte, com uma equipe de 30 comandados.

Ele fez assim com bandas como Roupa Nova, Skank, RPM, Sandy e Júnior, Paralamas do Sucesso, Engenheiros do Hawaii, Lulu Santos e até com o Legião Urbana. Tudo o que os anos 80 e 90 renderam de bom para a música brasileira, o empresário trouxe para Mato Grosso do Sul, assim que o sucesso estourava nas rádios.

De repente, surgiu a baiana Ivete Sangalo e uma nova forma de produção.

“Não consegui mais comprar shows fechados, os empresários dos artistas passaram a querem mais e mais e lucrar com a bilheteria também. Acabei tendo de arcar com todas as despesas do artista aqui e ainda repartir o lucro. Ficou inviável”, reclama.

Josimar não fala de valores, mas diz que antes “pagava X por um show e lucrava 4X. Depois, passei a trabalhar para os caras, não dava mais dinheiro”.

Para produzir algo hoje em dia, ele diz que cobraria alto. "Não menos de R$ 100,00 o ingresso. A coisa tem de ter qualidade, não dá para cobrar R$ 20,00 e não dar estrutura".

Legião Urbana foi um dos shows que mais marcou os anos 80.
Legião Urbana foi um dos shows que mais marcou os anos 80.

No total, Josimar Promoções ficou 29 anos na ativa, com 5.036 shows em Campo Grande, Cuiabá, Manaus, Porto Velho e Belém, e muita briga com os estudantes.

“Eles me odiavam porque eu nunca aceitei isso da meia-entrada. Criei um sistema que cada um só podia comprar um ingresso com preço menor, eles não me suportavam. Na verdade, ninguém gostava de mim.”

Mas apesar das disputas que iam parar até na Justiça, Josimar se considera um “mal necessário, porque eu só trazia o que eles queriam e precisavam”.

O homem era realmente tido como “intragável” até pela imprensa, mas apesar das inimizades, não faltaram convites à vida política. “Mais de mil vezes me chamaram, mas acho nojento, nunca vou entrar nessa”.

Uma das características que preserva, mesmo afastado da música, é a discrição sobre os bastidores. “Não comento porque a maioria virou amigo. Até hoje viajo para o exterior com o Paralamas e sou muito amigo do povo do Roupa Nova. Sempre que alguém lança um CD ou DVD eu recebo o convite”.

Sobre o show que marcou uma geração em Campo Grande – Renato Russo e Legião Urbana em 1988, ele diz apenas “não foi a minha maior bilheteria, ganhei muito mais com o RPM, por exemplo”.

Depois de “largar mão” do show business, Josimar sugere que até o fim do ano deve deixar Campo Grande, para morar nos EUA. “Mas se for fazer algum show lá, é só de brincadeira”, conclui.

Nos siga no Google Notícias