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Diversão

Em plena quinta-feira, baile com MC Bin Laden é mundo paralelo em Campo Grande

Nem o frio e trabalho do dia seguinte impediram a galera de amanhecer descendo até o chão

Thailla Torres | 12/08/2016 09:13
Não teve frio que fizesse a galera parar de descer até o chão. (Foto: Fernando Antunes)
Não teve frio que fizesse a galera parar de descer até o chão. (Foto: Fernando Antunes)

Não é novidade balada em véspera de dia útil, mas ao contrário dos lugares que esvaziam logo à meia noite, em festa da periferia o povo encara frio e ônibus para amanhecer ao som de funk, mesmo que tenha de trabalhar no dia seguinte. Na quinta-feira, a festa bombou no bairro José Abrão, região oeste da cidade. No palco, o MC Bin Laden, que estourou com o hit “Tá tranquilo, tá favorável”.

No caminho, o número de carros era inferior ao tanto de pessoas que seguiam a pé em uma rua escura até a festa. Eram 22 horas quando os seguranças liberaram a entrada. Lá dentro, iluminação pronta, um palco pequeno e os primeiros funks estrondando na caixa de som.

E o mais incrível é que nem frio e o vento gelado desanimaram a galera, a maioria jovem. O figurino chamava atenção pela ousadia. As meninas de saia e short curto, algumas até arriscaram ums jaqueta para se proteger do frio, mas muitas não abriram mão das pernas de fora.

MC Bin Laden só ficou no palco durante 40 minutos. O resto da festa quem fez foi o público. (Foto: Fernando Antunes)
MC Bin Laden só ficou no palco durante 40 minutos. O resto da festa quem fez foi o público. (Foto: Fernando Antunes)

Em cima de um salto 15, Carol de Santos, de 30 anos, escolheu um look curto brilhoso para fazer sucesso durante o show. Trabalhando como vendedora, disse que entraria no serviço pela manhã, mas nada impediu a curtição da noite. “Eu gosto de funk, aguento a noite toda em cima de um salto. Mas é claro que vou embora umas 3 horas, se fosse fim de semana, eu ficaria até o fim”, comenta.

De vestido curto e toda animada, a vendedora Giani Vasques estava ali comemorando os 28 anos de vida, porque acha que não existe energia melhor. “O baile funk vale muito a pena, é uma energia boa demais, não abro mão e na hora que o MC entrar no palco, vou tirar meu salto e dançar, que daí esquenta”, comenta.

A noite também teve muito iniciante. As amigas, Jéssica de Oliveira, de 24 anos, e Vanessa Pelopes, de 35, arriscaram uma noite de funk em plena quinta-feira, pela primeira vez. “A gente ficou animada porque gosta do estilo, mas é a primeira vez que venho assim num dia de semana. A gente queria ver como que é e se divertir, só trabalho às 9h”, justifica Jéssica, que é dona de um salão de beleza.

Vanessa diz que se surpreendeu. Achava que iria encontrar “vulgaridade”, mas gostou do que viu. “Eu acho que antes era mais promíscuo, hoje eu não vejo assim. Acho que está bem mais tranquila, a gente é muito mais respeitada”, garante.

Carol prefere o funk e faz questão de ir no estilo. (Foto: Fernando Antunes)
Carol prefere o funk e faz questão de ir no estilo. (Foto: Fernando Antunes)
As amigas Jéssica e Vanessa, quiseram aproveitar a noite em dia de semana. (Foto: Fernando Antunes)
As amigas Jéssica e Vanessa, quiseram aproveitar a noite em dia de semana. (Foto: Fernando Antunes)

Mas a galera não economiza na liberdade. Enquanto o espaço vai enchendo, entre uma dança e outra, rola muita pegação e gente aproveitando na paquera. Para os meninos, ali é garantido que ninguém sai sem beijar alguém. “No funk são as 'minas' mais gatas, a gente vem também para admirar a mulherada e a paquera sempre rola”, diz Michael Douglas Souza, de 23 anos, do bairro Serradinho.

A festa também parece um encontro de bairros, tem gente de quase toda a periferia de Campo Grande. Uma galera da região da Santa Luzia, José Abrão e Nossa Senhora das Graças foi caminhando até a festa. Outros encararam ônibus e esperam até o amanhecer para voltar para a casa.

“Por isso a festa é feita para o povo e, principalmente, para quem curte o funk por aqui. E não é pouco, olha isso, está frio e é quinta-feira, mesmo assim tem uma galera aqui curtindo. Tem muita gente envolvida, fazemos muita divulgação nos bairros e justamente para mostrar que aqui cada um vem do jeito que quer. E consome do jeito que achar melhor”, explica Jean Paçoca, um dos responsáveis pelo evento.

Para lotar mesmo, mulher e bebida são atração da festa. Até meia-noite elas entram de graça, depois, o convite sobe para R$ 20,00. Já o ingresso masculino custou R$ 40,00. Quem quisesse ostentar, podia comprar o camarote a R$ 90,00. Mas como não era grande coisa, muita gente preferiu se apertar na pista.

Mesmo com gente reclamando do preço da bebida, é fato que muitos enchem a cara com os combos baratos. Uma garrafa de vodka Smirnoff, com um litro de energético e 1 quilo de gelo, saia por apenas R$ 100,00. A garrafa de uísque Red Label era vendida por R$ 140,00. O baldinho é daqueles de plástico mesmo, que a gente tem em casa para limpeza.

Galera animada, faz questão de mostrar o combo de vodka no balde de plástico. (Foto: Fernando Antunes)
Galera animada, faz questão de mostrar o combo de vodka no balde de plástico. (Foto: Fernando Antunes)

Antes da atração principal subir ao palco, é o público que busca por atenção. É preciso dizer adeus ao pretinho básico, porque no baile funk quem não usa cor, quase não aparece.

Ao contrário de algumas casas noturnas da Capital, que não permitem mulher entrar de rasteirinha, por ali vale de tudo. De salto alto a chinelo, o que prevalece é a roupa mais chamativa, curta e confortável na hora do rebolado.

Já os homens foram mais espertos e se protegeram do frio, de casacos largos e bonés, muitos faziam questão de mostrar o estilo ostentação, com relógios enormes e colares dourados no pescoço.

Às 2h50 da madrugada finalmente Bin Laden chegou para “aterrorizar” a plateia. Com 25 quilos a menos no corpo e gritando “Cadê Mato Grosso do Sul?”, as pessoas foram ao delírio ao receber o cantor. Com o “Tá tranquilo, tá favorável”, o baile foi à loucura. Na frente do palco, a mulherada rebolava e ao mesmo tempo implorava por um foto com o funkeiro.

Se engana quem pensa que é a única música sucesso de Bin Laden. Em alguns minutos, outros hits ganharam o coro do público. Descobrimos que a preferida é uma música com refrão simples “bololo haha”, sucesso em 2014, que disparou após ser tocada pelo DJ norte americano Skrillex.

Nem deu pra contar quantas vezes MC Bin Laden fez a coreografia. (Foto: Fernando Antunes)
Nem deu pra contar quantas vezes MC Bin Laden fez a coreografia. (Foto: Fernando Antunes)
E ainda revelou no parceria em clipes. (Foto: Fernando Antunes)
E ainda revelou no parceria em clipes. (Foto: Fernando Antunes)

Foram cerca de 5 músicas do MC. Depois, os 40 minutos de show tiveram músicas como “Ela não anda, ela desfila”, “Tava no fluxo” e canções dos Racionais. 

Ao Lado B, o cantor paulista, que esteve pela sexta vez em Campo Grande, revelou a nova parceria com o produtor brasileiro KondZilla, conhecido pelas produções de clipes de funk. Entre os mais conhecidos, estão os sucessos de Baile de Favela e Passinho do Romano. "Estamos em uma nova fase, acredito que esse é momento de mudanças e a gente até pretende investir em algumas produções mais românticas", comenta.

Depois de uma apresentação rápida, teve gente que saiu reclamando, mas a maioria aproveitou o tempo que ainda restava para continuar descendo até o chão.

Mesmo com horário para trabalhar e um dia útil pela frente, parece que na cultura do funk naõ dá para desperdiçar uma boa atração. “Vale muito a pena ficar acordado a noite inteira e ir trabalhar depois. Isso aqui é outra vibe, é o que a gente gosta”, diz Jonathan Souza, de 25 anos.

Podem falar o que quiser, Jean não abre mão de continuar investindo. (Foto: Fernando Antunes)
Podem falar o que quiser, Jean não abre mão de continuar investindo. (Foto: Fernando Antunes)

Em alguns momentos, o nosso estado de alerta rompeu alguns preconceitos e descobriu que literalmente é cada um no seu quadrado.

Durante 6 horas de festa, nenhuma confusão aconteceu. 

A hostilidade diante da equipe surgiu no rosto de alguns, desconfiados da nossa "intenção", acostumados com a discriminação recorrente ao estilo. “Vai escrever o que aí? Aqui é assim mesmo, tudo legalizado (drogas), mas não tem briga não. É claro que tem que respeitar o espaço do outro...”, deixa o recado alguém que nem fez questão de dar o nome.

O empresário e organizador do evento, Jean paçoca, admite que não é fácil fazer os eventos em Campo Grande, mas a teimosia é a motivação para continuar agradando o público. “No começo foi muito difícil, até hoje é. Mas a gente foi se profissionalizando. É claro que eu levo pedrada de todo lado, mas minha única preocupação é agradar ao público. Por isso a gente contrata os artistas de sucesso, se preocupa com a segurança e organização, porque o resto é o povo que faz a festa”, comemora.

Confira na galeria de fotos feitas na festa de sucesso da periferia.

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