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Faz Bem!

Com apoio de personal, a volta por cima de quem perdeu a visão e anos de memória

Elverson Cardozo | 24/06/2014 06:47
Dupla divide uma bicicleta e anda pra todo lado. (Foto: Marcos Ermínio)
Dupla divide uma bicicleta e anda pra todo lado. (Foto: Marcos Ermínio)

Quem vê Felipe Antenor Gehlen, aos 26 anos, correndo e pedalando uma bicicleta na companhia do personal trainer Reinaldo Silva Freitas, de 37, nem imagina que ele é cego, um vencedor.

Um grave acidente de moto, aos 18 anos, fez com que o rapaz entrasse em coma por 6 meses e “deletasse” da memória três anos inteiros de sua vida, dois antes da data fatídica e um depois que “acordou”. O “renascimento” veio junto com a notícia da perda total da visão.

Cego e sem memória recente, ele não acredita nos relatos dos próprios parentes. Não conseguia entender como, do dia para noite, estava com 18 anos e sem poder ver a luz do sol. Só recordava a fase dos 16, quando ainda enxergava e cursava o Ensino Médio.

Mas a realidade havia mudado. Era preciso aceitar. Não foi fácil. “Não tenho memória da reabilitação, mas pelo que me contam, estava sem andar, na cadeira de rodas, com traqueostomia e muito gordo. Fiquei com um apetite incontrolável".

Não é mentira. Filipe, que antes pesava seus 68 quilos e tinha uma vida super ativa como jogador amador de tênis de mesa, chegou aos 120. Precisava andar e se exercitar, mas estava com os músculos praticamente atrofiados.

Cumplicidade de aluno e professor chama a atenção. (Foto: Marcos Ermínio)
Cumplicidade de aluno e professor chama a atenção. (Foto: Marcos Ermínio)

Personal e amigo - O início do tratamento foi com uma fisioterapeuta, mas logo o personal, Reinaldo Silva, entrou na rotina. Ele já era conhecido da família, colega distante, que acabou virando um irmão.

Foi com ele que o rapaz reaprendeu a caminhar e encontrou forças para continuar lutando. Os dois, hoje, não se desgrudam. Se encontram três vezes por semana e andam para cima e para baixo.

A cena deles pedalando em uma única bicicleta, com dois pares de guidão, chama a atenção. A amizade e o companheirismo chegam a impressionar. “As pessoas ficam bastante curiosas e tem gente que nem acredita que não enxergo. Quando eu corro ele me puxa por uma guia, uma cordinha”, conta Filipe.

“Às vezes nem dou aula para ele. Fico conversando, dou um rolê”, diz o personal. Entre idas e vindas, são pelo menos 9 anos de cumplicidade. Atualmente o rapaz está praticamente em forma, com 96 quilos e com mais disposição, mas o começo foi complicado.

“Ele nem lembrava mais de mim. Só depois que começamos a treinar juntos é que a memória foi voltando. Começamos com alongamentos, mas ele estava muito pesadão, não tinha flexibilidade nenhuma”, lembra Reinaldo.

“Mas eu consegui perder peso. Agora faço atividades focadas. A gente corre na esteira, anda de bicicleta pula corda, corre na areia... Nunca pensei, mas hoje ele é meu amigo mais próximo”, relata o aluno. “Já era meu amigo, virou aluno e agora é aluno-amigo. É um irmão”, completa o professor.

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