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No baú de memórias, descobri que nem era tão gorda, mas a gordofobia piorou tudo

Liziane Berrocal | 14/12/2015 06:56
Fotos antigas, das memórias de gordinha.
Fotos antigas, das memórias de gordinha.

No baú da memória, vem uma moça já gordinha, adolescente, sorridente. Aos 15, 16, 17... Tantos planos e tantas coisas de uma garota que acreditava piamente que ia mudar o mundo. Minha mãe morou quase duas décadas na mesma casa, e agora, um ano após a morte dela, minha irmã que morava junto também está se mudando e nesse "monta-desmonta" que uma mudança de casa requer, surge então um baú de memórias...

Ao pegar no baú da memória minhas fotos de adolescência e início da vida adulta, tentei perceber porque me achavam gorda. Fiquei ali, me namorando, e não sei se pelo fato de ter como memória antes da bariátrica a foto de 170 quilos, eu realmente não consegui entender porque eu era considerada "tão gorda".

Adolescência é uma época terrível, onde a auto-aceitação é mais difícil e complicada até mesmo que a aceitação do outro. Falo isso, porque ser adolescente, gordinha e do cabelo crespo não foi nada fácil. Nas fotos que encontrei, os cabelos longos e encaracolados, eram considerados "bombril" e, apesar disso tudo, viver para mim não se resumia a ser gorda ou magra...

Lembrei das vezes em que eu ia para a balada e minhas amigas sempre tinham vários garotos atrás delas, mas eram sempre os mais descolados que se aproximavam de mim. Acho também que sempre me dei muito bem com meu corpo, sempre gostei de mim, e nesse baú de memórias, vi que isso era nítido pelas roupas que eu usava. Sempre decotadas, curtas, justas e descoladas, mesmo sendo a mais gorda da turma.

Sim, eu sempre fui a mais gorda da turma. Pesava mais 90, e se um dia eu pesei 50 quilos, eu deveria ser criança ainda e o peso não era um problema para mim. A não ser quando minha irmã praticava bullying e me fazia sofrer por não conseguir subir na árvore.

E nessa de ser a gorda da turma, eu tentava ser a mais legal, mais ligada, mais inteligente e mais aprazível possível e vejo o quanto eu "judiava" de mim. Em especial olhando essas fotos agora...

Eu pergunto hoje, por quê? Por que a sociedade como um todo condena uma mulher a ser infeliz por um simples padrão de beleza? Como seria eu com o "corpo de 17" na cabeça que tenho hoje, muito mais empoderada e com um auto-entendimento bem mais amplo sobre mim mesma?

Ao mesmo tempo, também me pergunto quantas meninas lindas, com um corpo igual ou mais gordo não devem sofrer hoje em dia? E tem horas que me bate uma tristeza tão grande em saber que o que deveria ter evoluído – a questão da aceitação do outro, só piorou e ficou mais forte com o advento da mídia mais amplas e em especial das redes sociais. E é por isso que devemos falar sobre gordofobia, com tantas meninas ali, só acima do peso, tratadas como pessoas imensas, por gente que quando chega em casa é infeliz por ser o que é, mesmo sendo magra.

E ao namorar as minhas fotos de quando eu era adolescente, consigo entender que não, eu não merecia ter passado pelo que eu passei e ter com isso aumentado mais ainda a doença chamada obesidade.

Tem dias, que eu faço praticamente um "stand up comedy" da minha vida de gorda. Como quando eu conto durante uma conversa que meu sonho era ir na nave da Xuxa, quando era o final do programa da Rainha dos Baixinhos, mas que minha irmã Lais dizia que eu não poderia ir, porque eu era muito gorda e a nave não ia subir. Dou risada junto com quem ouve, isso é fato, mas o grande X da questão (para aproveitar a Xuxa) é que não, isso não é nada bacana, considerando que tem adolescentes que se trancam no mundo simplesmente porque não conseguem ser magras.

E hoje, olhando para o passado, eu só posso agradecer não só pela bariátrica – que me deu a oportunidade de voltar a ter o peso de quando eu tinha 19 anos, como também em agradecer a mim mesma por ter vencido em um mundo onde ser "gordinha" é uma ofensa e se amar pode ser uma ofensa maior ainda.

Para finalizar, vou dar uma dica para vocês: Não, aquela gordinha não é feia. la é uma moça normal e que merece todo respeito do mundo, tal qual uma mulher que você quer namorar só porque é magra. E se você pensa diferente, seja você homem ou mulher, eu só posso te dizer que você é um tremendo de um babaca! E uma terrível previsão te espera: toda família tem um gordo e no futuro pode ser vocês.

Por isso, temos que pensar bem antes de estragar a auto-imagem de alguém e fazer com que essa pessoa sofra simplesmente porque ela não é magra. E tem tanta gorda linda por aí, que só de pensar eu já consigo sorrir de novo! (Em tempo, poxa que coxa e meus peitos... ah os meus peitos...)

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