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Faz Bem!

Um ano depois, perdi uma pessoa, mas ganhei outra com dobro de chances de viver

Liziane Berrocal | 11/01/2016 06:56
Há um ano eu carregava meus 170 quilo.
Há um ano eu carregava meus 170 quilo.

Ao olhar no espelho hoje, eu vou dizer uma frase: Feliz Aniversário! Feliz Aniversário! Há um ano (no dia 14 de janeiro, mais precisamente dito) eu entrava num centro cirúrgico para sair de lá uma nova pessoa. Também há um ano estou escrevendo aqui no Lado B e dividindo com vocês as dores e delícias do #VaiGordinha.

Há um ano eu carregava meus 170 quilos para cima e para baixo. Há um ano eu encarava o desafio de enfrentar uma UTI (foram as piores 24 horas que eu tenho lembrança), enfrentar o meu próprio corpo se modificando em frente ao espelho – que eu só fui ter um grande mesmo, depois de quase um ano de cirurgia. E também um ano em que todas as segundas-feiras busquei inspiração e melhores assuntos para trazer para os leitores. Claro, que nem sempre agradamos a todos, mas como acompanho de perto esse trabalho (hahaha, claro, é meu!) um ano em que escrevendo religiosamente toda semana ficamos apenas três delas longe das “mais lidas”.

Nesse meio tempo, acredito que a principal modificação que pude notar foi a mudança não só do estilo de vida, mas o amadurecimento que dividir isso com os leitores me trouxe. Me lembro do meu médico Cesar Conte falando que ir para a mídia foi uma escolha minha e que isso traria mais cobranças e também em relação ao trabalho dele. Durante esse período também fiz um balanço de quantas vezes recebi mensagens de mulheres, homens, adolescentes e pessoas de várias partes do Brasil dividindo as dores e superações da obesidade.

Descobri em um ano que a grande mudança é o luto. O luto da comida que “morre” para nós bariátricos durante um bom tempo (algumas comidas até hoje nem sequer posso pensar) e é preciso renascer, tal como fênix. Porque muda tudo, em especial os hábitos. Aquela saidinha básica com os amigos, no começo é tão regrada que eu chegava a desistir de ir para qualquer lugar. E o prato de comida antes tão cheio e tão farto, se torna algo a ser refeito e repensado. Mas quantas e quantas vezes vi a comida indo para o lixo, porque o olho era maior que a barriga? Nem falo literalmente, mas a cirurgia ainda é só no estômago e não há cirurgia para o psicológico ainda. Por isso sempre defendo o acompanhamento psicológico e psiquiátrico de pacientes e de quem pensa em fazer a cirurgia bariátrica (desde sempre, porque é sim punk).

Também nestes 12 meses várias pessoas que conheço vieram falar de mortes por cirurgia bariátrica para mim. E sim, já falamos de morte por aqui, porque ninguém morre de bariátrica e sim das intercorrências que acontecem devido a obesidade mórbida. Que fique sempre o alerta para todos nós, sobre os riscos da obesidade.

E no meio disso tudo, comecei a refletir sobre tantas mudanças. Sobre o “não comer” e sobre o “comer o que me dá na telha mesmo que eu passe mal” e depois perceber que passal mal é tão ruim que eu desisti de comer quibe, por exemplo. E ligar chorando para a minha nutri-super-maravilhosa Mariana Corradi que tantas vezes foi irmã, amiga, psicóloga e até mesmo mãe ao puxar a orelha e pegar no meu pé.

Claro que também me lembro das manifestações de preconceito e de gordofobia, assunto que espero continuar debatendo nesse espaço, porque é um assunto importante e que mata.

Mas a principal delas é sim o ganho de saúde com a perda de peso. Meus exames quase nunca apontaram coisas ruins, mas quando a glicose apontou 130 (o normal é 90) eu fiquei doida. E depois da cirurgia, os lindos índices de 85 me animaram mais ainda!

No entanto, preencher um questionário médico e só ali perceber que sim, você está vencendo a obesidade mórbida, que você está vencendo uma doença que mata, você então percebe que é sim, um Feliz Aniversário!

E eu vi isso quando ao preencher o questionário médico do novo plano de saúde, não tive medo ao preencher o quadradinho que pergunta o peso, altura e IMC. O meu era IMC 65!

O atual? É 38. IMC 38 ainda é considerado obesidade, eu sei, mas antes eu estava num estágio pior. Segundo as orientações médicas, com obesidade mórbida (que era o que eu sofria) o risco de desenvolver doenças associadas ao excesso de peso, como diabetes, reumatismos, câncer, apneia do sono, hipertensão e outros problemas cardiovasculares chega a até 90%. Nesse estágio, a cirurgia de redução do estômago era o mais indicado!

Atualmente, com esse IMC os riscos “caíram” para 40% e a orientação médica, aliada a uma vida regrada é a principal indicação. E sim, eu ainda continuo uma defensora da cirurgia, apesar de sempre pedir cautela para quem tem 90 quilos, o que é muito diferente de quem tem 130 quilos, mas isso não sou eu quem tem que medir, e sim equipe médica.

E terminar esse texto me faz chorar, porque eu fico relembrando tudo que já passei para chegar a comemorar o fato de ter 101 quilos e não mais 170! E falta tão pouco para que eu consiga chegar aos dois dígitos, apesar de tudo tão lento como está.

Hoje minha vida é menos sedentária e até mesmo cozinhar se tornou uma terapia para mim. Andar não é mais um sacrifício e gosto tanto de dançar que onde eu estou eu acabo dançando, na igreja, no supermercado, com meu passarinho – dançamos como se não houvesse amanhã, eu e Pedro quando entramos numa loja e toca algo dançante, com meu marido na fila (devem pensar que somos loucos). E meu passatempo hoje é subir escadas sem morrer ao chegar ao topo! Fora andar de salto, que é tão bom...

E é tão bom falar disso, não porque eu defenda que todo mundo tem que ser magro, nem seria coerente, até porque eu mesma ainda não sou magra – e nem vou ser, mas porque a mudança na minha vida é tão nítida, que eu queria nesse momento abraçar o mundo e dizer: Muito obrigada!

E parafraseando minha amiga e editora do Lado B, Ângela Kempfer, eu em quilos já perdi uma pessoa. Mas acredite, ganhei uma Liziane renovada e cheia de energia, que acredita que cada passo é importante para alcançar o objetivo dos 98 quilos, que está tão pertinho...

E feliz aniversário para nós!

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