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Sabor

Bolo de fubá, crepe com geleia e comida mineira. Que sabores lembram sua mãe?

Paula Maciulevicius | 11/05/2014 07:13
Um ingrediente e um cheiro de longe pode fazer a gente voltar no tempo. Num tempo que não volta mais, de um sabor que já não é mais o mesmo. (Fotos: Cleber Gellio)
Um ingrediente e um cheiro de longe pode fazer a gente voltar no tempo. Num tempo que não volta mais, de um sabor que já não é mais o mesmo. (Fotos: Cleber Gellio)

Pode ser um pedaço de bolo de fubá, o doce de banana, um crepe com geleia e a comida mineira. Que sabores lembram sua mãe? Não deixa de ser um encanto o que a comida faz. Um ingrediente e um cheiro de longe pode fazer a gente voltar no tempo. Num tempo que não volta mais, de um sabor que já não é mais o mesmo.

A culinária tem o poder de deixar um gosto, um cheiro e uma cena gravados eternamente na lembrança. Basta ver uma assadeira saindo do forno ou um prato posto à mesa que tudo aquilo volta à memória. Para este domingo, Dia das Mães, o Lado B perguntou: “que comida lembra sua mãe?” às pessoas ligadas à gastronomia, exemplos do alcance da culinária, de deixar gostos e cheiros na nossa história.

“Para mim, bolo de fubá no final de tarde ou num fim de semana. Vem o gosto na boca, a lembrança e a imagem da infância”. Talvez esse fascínio dos sabores preparados pela dona Aneusa Batalha, moradora de Aparecida do Taboado, tenha levado Carlos Batalha à paixão por receitas caseiras. Proprietário do Firula’s Café ele prova, para a reportagem, o bolinho de fubá feito por eles. A receita é da família, mas o gosto, não consegue ser aquele mesmo. Por quê? Creio que seja porque a gente cresce e aquele lanche do fim da tarde não acompanha o tempo.

Carlos Batalha relembrando o sabor do bolo de fubá da mãe, dona Aneusa.
Carlos Batalha relembrando o sabor do bolo de fubá da mãe, dona Aneusa.

E um cheiro leva à outra lembrança, a de um doce de banana. “É com um creme, tipo um merengue, não provo há muito tempo. Ela nunca mais fez, eu sempre cobro e ela diz que não sabe mais fazer. São as pequenas coisas que a gente vai lembrando”, comenta Carlos.

Os doces eram feitos esporadicamente. As sobremesas não ficavam restritas a uma data específica. Não precisava ser dia de festa para aquela refeição ser especial.

O tal doce de banana, Carlos não come há anos. A receita ele nunca pensou em recriar no café. “Estou com 32 anos, tem uns 15 anos que não como. E olha como marca? Fica na lembrança até hoje. Esses momentos, eles passam a ser mais valorizados do que a própria comida. Acho que a comida passa a ser mais saborosa é por esses momentos”, explica. Cenas em que a comida era só coadjuvante da história. As conversas, os sorrisos e o que envolvia o antes e o depois é que eram os protagonistas.

Alain recria o crepe de geleia de morango e frutas vermelhas. Sabor que o faz voltar à infância.
Alain recria o crepe de geleia de morango e frutas vermelhas. Sabor que o faz voltar à infância.

Meio francês, meio brasileiro, Alain le Cornec, tem na lembrança o crepe com geleia feito pela mãe Maria de Fátima, que quanto mais fazia a pilha de crepes crescer, mais aberto ficava o sorriso de Alain. Hoje, aos 27 anos, ele está a um passo de recriar a receita da mãe. À frente da Maison Cheesecake, deve, em breve, acrescentar ao cardápio o gosto da infância.

“Minha melhor lembrança era da merenda: um crepe francês com geleia natural. Meus avós colhiam as frutas do jardim. Era uma coisa bem artesanal. A gente chegava e comia tudo. Era de geleia de morango, framboesa, doce de leite. Eu tenho até hoje essa ligação”, descreve.

À época, Alain tinha entre 10 e 12 anos e o prato geralmente vinha depois do esporte que ele e os irmãos praticavam. “Não tem como explicar o cheiro. É uma lembrança que eu tenho e que hoje não é o mesmo. Por mais que eu coma, não é. Eu já fui em muito restaurante e essa lembrança não apaga”, tenta resumir.

Os olhos acompanhavam o fazer dos crepes e a pilha da massa crescendo antes de passar pelo recheio. “Eu nunca consegui reconquistar essa memória. Um crepe artesanal quentinho, saindo na hora, não tem preço. Se eu pudesse voltar naquela época, eu queria agradecer minha mãe por aquela comida”.

Na lembrança de Natália, o sabor que não se esquece vem das panelas da avó: comida mineira em fogão de lenha.
Na lembrança de Natália, o sabor que não se esquece vem das panelas da avó: comida mineira em fogão de lenha.

Há cerca de uma década, a recordação de chef de cozinha do Cantinho Gourmet, Natália de Barros Borges, de 29 anos, persiste: da avó na beira do fogão fazendo comida mineira.

Se era à lenha ou não, o fato é que o sabor era único. Por mais que os ingredientes se repetissem em outras receitas, até hoje, para ela, ninguém fez a carne de porco com tutu de feijão e feijão tropeiro igual à da dona Onete.

Mãe duas vezes, era ela a responsável pelo cardápio das reuniões familiares. Envolvida na cozinha, era o sabor mineiro com a pimenta como característica marcante que conduzia o paladar daquele momento e que hoje é lembrança boa da infância de Natália. “Ela cozinhava muito bem. Eu já comi em restaurante típico mineiro, até feito por parente dela mas não é igual. Ela fazia sempre do mesmo jeito, eu acho difícil alguém fazer igual”.

Ninguém faz mesmo. Nem o doce de banana da dona Aneusa, nem o crepe da Maria de Fátima e muito menos a carne de porco da dona Onete. As receitas delas têm como ingrediente principal o amor e pitadas de carinho. É um pedacinho do céu.

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