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Sabor

Vatapá da Vó Brandina é receita para juntar pessoas até nascer histórias de amor

Paula Maciulevicius | 24/10/2016 07:02
Vatapá virou receita pelas mãos da nora, que anotou as medidas de dona Brandina.
Vatapá virou receita pelas mãos da nora, que anotou as medidas de dona Brandina.

Quando em Bela Vista não se encontrava camarão fresco, a saída para matar as saudades da Paraíba foi adaptar a receita. O vatapá que seu Félix trouxe do Nordeste virou prato pelas mãos da esposa, Brandina, e receita pelos dedos da nora, Zuleica. Na família há décadas, até hoje é o vatapá que une os Gabínio ao redor da mesa.

"Meu pai veio da Paraíba e chegando aqui, de certo, ele teve saudade das comidas, quis fazer e não tinha todos os ingredientes", acredita o filho do casal, seu Alseu Loureiro Gabínio, hoje com 79 anos. 

O pai, Félix, veio para o Estado servir o Exército e aqui conheceu Brandina, de família bela-vistense. "Como não tinham condições de ter camarão fresco, ele substituiu a receita por camarão seco e aí minha mãe foi fazendo e acomodando ali a situação", completa. 

Só que dona Brandina não tinha medida de nada. Era no "olhômetro" que montava o prato. "Ela fazia de cabeça, então para a gente aprender, eu que era nora, era difícil, porque ela ia pondo. Um dia a chamei para almoçar na minha casa e enquanto ela fazia, eu pegava a medida e anotava ligeiro", conta Zuleica Souza Gabínio, de 79 anos.

Zuleica e a sobrinha Maura no vatapá feito neste domingo.
Zuleica e a sobrinha Maura no vatapá feito neste domingo.
Prato é servido com arroz, batata frita e salada.
Prato é servido com arroz, batata frita e salada.

Quando dona Brandina saiu, a nora juntou o que havia escrito e sistematizou a receita em medidas. Testou e repassou para a família. E neste domingo, foi o prato que reuniu parte da família, mas a estreia na cozinha foi de Maura, neta de Brandina e que não só fez questão de aprender, como também digitalizou a receita e imprimiu para toda família.

"Eu queria deter esse conhecimento para passar depois. Só a tia Zuleica quem sabia fazer. Foi uma emoção muito grande", descreve a administradora Maura Gabínio, de 59 anos.

A receita é a original da adaptação do casal de avós, mas que nas mãos da neta ganhou um pouquinho de poesia.

"Esta é uam receita de família e para nós, a turma dos Gabínio, um verdadeiro legado. Tudo começou com um jovem paraibano chamado Félix Gabínio da Costa Machado que veio parar em Bela Vista, Mato Grosso do Sul, e lá encontrou sua alma gêmea, a Brandina Loureiro, que depois virou Gabínio.

Desse caso de amor nasceram: Tereza, Antônio, Gabínio Mauro e Alseu e esses contraíram matrimônio respectivamente com Gélio, Honorina, Jurema, Daisi e Zuleica. A família começou a aumentar e assim a Gabinada cresceu e vem se multiplicando... 

Hoje alguns já estão em outra dimensão, e nós aqui, continuamos nos reunindo em torno dessa comida que alimenta muito mais que o corpo físico, alimenta a alma, pois em torno do seu preparativo, vem a lembrança de como tudo começou, das pessoas que amamos e a vontade de ficar junto com quem queremos compartilhar, relembrar e dividir esse momento.

Esta receita já é adaptada para mais ou menos 20 Gabínios, o que significa almoçar, jantar e perguntar para a dona da casa se pode levar um pouquinho para quem, por algum motivo muito justificado, não pode estar presente". 

O que tem de bonito, tem de sabor e história.
O que tem de bonito, tem de sabor e história.

Maura, que já aprendeu a receita com a tia, tratou de contar junto dela a história de família. "Eu entreguei uma cópia da receita para as tias e primos, para passar para frente", afirma. Até então, ninguém dividia a tarefa com dona Zuleica. 

Neta dela, Deborah explica que o prato é para reunir os familiares. "Sempre que tem aniversário de algum Gabínio ou Dia das Mães, é a receita que une todo mundo", comenta a publicitária Deborah Gabinio Paraná, de 29 anos. A mãe emenda "e quando faz, já chama todo mundo para aproveitar", diz Rita de Cássia Gabínio, de 54 anos. 

Dona Brandina fez o prato até os últimos meses de vida e morreu com 87 anos, 22 anos atrás. E se o gosto muda? A família afirma que sim e explica o porquê. Além da facilidade em encontrar os ingredientes, quando o vatapá vai para a panela, a receita é feita na medida dos convidados. Ao contrário do que acontecia na casa de vó Brandina.

"A vovó, na casa dela, além dos filhos e noras, iam sobrinhos. Então eu acho que ela ia aumentando a receita no meio, para aquele monte de gente. Ela fazia milagre, a comida que era para 20, virava 40", brinca Rita.

O segredo do vatapá é, segundo a família, o pão amanhecido, comprado no dia anterior. "Eu comprei ontem, deixei para descansar. O pão dela, coitadinha, ela comprava no dia, então era muito difícil de descascar, porque não pode ter nenhuma casquinha", explica a nora Zuleica. 

Ao final da receita impressa e que agora está com toda família, o pedido é um só: elevar o pensamento aos donos do prato, seu Félix e dona Brandina. "Envie um pensamento de amor ao vô Félix e à vó Brandina e compartilhe com quem gostar e quiser aprender, para que esta comida continue aproximando as pessoas e quem sabe, desses encontros nasçam outras estórias de amor tão duradouras quanto a nossa".

E de brincadeira, Zuleica diz toda vez que vai para a cozinha: "vó Brandina, vou fazer o vatapá, a senhora pode vir me ajudar!"

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E ao final da receita, o último pedido.
E ao final da receita, o último pedido.
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