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Meio Ambiente

Estudo investiga se superstição motiva matança de tamanduás em MS

Na área rural, ainda é muito forte a crença de que a espécie atrai azar, o que estimularia atropelamentos e agressões.

Anahi Gurgel | 11/02/2018 12:02
Tamanduá-bandeira com filho nas costas, registrado na região do Pantanal. (Foto: Mariana Catapani)
Tamanduá-bandeira com filho nas costas, registrado na região do Pantanal. (Foto: Mariana Catapani)

Uma pesquisa inédita desenvolvida em Mato Grosso do Sul investiga até que ponto a superstição da população interfere na matança desenfreada de tamanduás-bandeira no estado. Parece mentira mas, em pleno 2018, muitas culturas preservam o hábito de agredir esses animais por acreditar que eles “atraem” azar. 

A exemplo de animais como o gato preto e sua relação com má sorte, em países como o Brasil, Bolívia, Colômbia e Costa Rica é muito forte a crença de que o tamanduá-bandeira é portador de mau-agrouro. 

“As crenças folcóricas levam a uma visão negativa da espécie”, explica a bióloga Mariana Catapani, à frente do projeto de doutorado “Da superstição à perseguição: os motivadores dos conflitos humano-fauna motivados por crenças de mau-agouro” pela USP (Universidade de São Paulo). 

O trabalho foi motivado pelo alto número de relatos de moradores de áreas rurais sobre a ligação do animal como símbolo de azar, bruxarias. 

“São quase dez anos conversando com trabalhadores rurais. Há superstição de que se encontrar um tamanduá antes da pescaria, não terá peixe algum, ou que se o bicho aparecer no meio do caminho, é melhor voltar para casa”, explica. 

A bióloga pretende realizar 300 entrevistas, Já foram ouvidos cerca de 70 trabalhadores rurais no Cerrado e Pantanal e mais de 80 caminhoneiros no estado.

Mariana Catapani durante análise de tamanduá-bandeira, no MS. (Foto: Arquivo Pessoal)
Mariana Catapani durante análise de tamanduá-bandeira, no MS. (Foto: Arquivo Pessoal)

Atropela de propósito- “Acreditamos que muitos atropelamentos de tamanduás sejam intencionais, motivados pela crença de que se o animal atravessar na frente do carro, o condutor terá azar”, conta.

Vale ressaltar que o tamanduá-bandeira (Myrmecophaga tridactyla), consta na categoria “Vulnerável” da Lista Nacional das Espécies da Fauna Brasileira Ameaçadas de Extinção. As maiores causas do declínio das populações de tamanduás-bandeira são a perda e fragmentação de hábitat, queimadas e caça.

“Como a espécie já é ameaçada de extinção, com baixo crescimento populacional, os atropelamentos propositais e perseguição humana contribuem para a retirada de mais indivíduos da natureza”, concluiu. 

Em Mato Grosso do Sul, o animal está entre as espécies com maior incidência de atropelamentos nas rodovias. Entre 2013 e 2014, o tamanduá-bandeira foi a terceira espécie mais atropelada, depois do cachorro-do-mato e do tatu-peba, com 135 carcaças encontradas. 

“O estudo investiga os fatores psicológicos e socioculturais associados à assimilação dessas crenças e como isso se desenvolve ao ponto de matar um animal. A compreensão desses fatores pode auxiliar em intervenções para a conservação dessas espécies”, acredita.

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