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Meio Ambiente

Estudo sugere uso de camalotes para produção de bioenergia

Edmir Conceição* | 13/10/2011 18:26

Os pesquisadores calculam que entre 700 mil e 1,7 milhão de toneladas de camalotes são exportadas ao longo do ano na região.

Camalotes retirados do rio para a pesquisa. (Foto: Ivan Bergier)
Camalotes retirados do rio para a pesquisa. (Foto: Ivan Bergier)

O uso de plantas aquáticas para a produção de bioenergia vem sendo estudado pela Embrapa Pantanal desde 2008. Os resultados de uma dissertação associada ao projeto sugerem a viabilidade do uso de camalotes que descem pelo rio Paraguai para a produção de bio-óleo, biocarvão e gases quentes.

O trabalho acadêmico foi apresentado ao público interno da Embrapa Pantanal na terça-feira, dia 4 de outubro, pela mestranda Luz Selene Buller, da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas). Ela é orientada pelo professor Enrique Ortega, da Unicamp, e co-orientada pelo pesquisador Ivan Bergier, da Embrapa Pantanal.

Segundo ela, apenas 1% dos camalotes produzidos na subregião do Paraguai e em parte das subregiões de Cáceres, Poconé e Paiaguás (totalizando uma área de 17.948,5 km²) passa pela frente do Porto Geral de Corumbá. Desse volume que passa pela cidade, o estudo mostrou a viabilidade econômica e socioambiental de utilizar entre 20% e 40% para a produção de bioenergia.

Os pesquisadores calculam que entre 700 mil e 1,7 milhão de toneladas de camalotes são exportadas ao longo do ano na região. Essa fração poderia resultar ainda na redução de emissões naturais de metano, originado pela decomposição dessas plantas no ambiente aquático, o que poderia ainda render créditos de carbono.

A produção de bioenergia a partir dessas plantas se mostra sustentável, pois seria utilizada apenas uma fração com base em instrumentos e políticas de gestão. Um sistema de suporte à tomada de decisão de produção de bioenergia em áreas úmidas deverá ser concebido em breve por projeto aprovado no GEO (Grupo de Observações da Terra) que ainda aguarda financiamento.

Um dos aspectos interessantes, identificado por Selene e ligado ao elevado grau de renovabilidade, é que os ventos e próprio rio se encarregam de movimentar as plantas que flutuam livremente, não havendo a necessidade de se utilizar combustíveis fósseis no transporte. O mesmo vale para insumos como fertilizantes não renováveis, os quais são dispensáveis, já que a produção ali é natural. O sistema de produção de bioenergia e biomateriais poderia ser feito por meio de biorrefinarias instaladas próximas à margem do rio.

Segundo Ivan e Selene, é fundamental que haja uma política pública regulamentando a exploração dessas plantas, assim como o Pantanal já tem uma legislação que regula a pesca. “É preciso normatizar o período de coleta, os locais, a quantidade. A pesquisa norteia a parte técnica e fornece subsídios para que as políticas públicas garantam a sustentabilidade do sistema”, disse o pesquisador da Embrapa Pantanal (Corumbá-MS), Unidade da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária - Embrapa, vinculada ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento.

A dinâmica de deslocamento desses aguapés pelo rio Paraguai vem sendo estudada por imagens de satélite pela Embrapa Pantanal. Sabe-se, por exemplo, que existe relação entre a área ocupada pela planta aquática na planície de inundação e a altura do rio Paraguai, que todos os anos passa por períodos de cheia e de seca. “Quanto mais o rio enche, maior a produção dessas plantas na planície inundável”, afirmou Ivan.

Com ajuda de uma câmera de vídeo, o pesquisador coleta imagens do transporte das plantas pelo rio Paraguai desde 2008. São mais de 50 mil imagens diárias.

O beneficiamento da planta em biorrefinaria ocorreria por meio de um processo conhecido como pirólise, uma queima sem a presença de oxigênio, que altera as propriedades da matéria (conversão termoquímica).

A pesquisa de Selene mostra que do total de camalotes processados, 30% poderiam se transformar em bio-óleo, 40% em biocarvão e 30% em gases quentes, energia térmica que poderia realimentar todo o sistema.

O processamento começa com a secagem da planta, que tem em sua composição 90% de água. Esse processo poderia utilizar a energia solar, o que exigiria extensas áreas, ou energia térmica produzida na própria planta de pirólise. A produção em pequena escala pode ser iniciada assim que houver regulamentação da atividade. Existe tecnologia nacional para isso desenvolvida pela empresa Bioware, incubada na Unicamp e parceira do projeto financiado pelo CNPq.

Os pesquisadores já apresentaram proposta preliminar a representantes da Prefeitura de Corumbá. A biorrefinaria poderia processar, além dos camalotes, lixo urbano e restos de poda de árvore, gerando empregos, renda e reduzindo problemas ambientais. Corumbá produz 60 toneladas de resíduo urbano orgânico por dia. A biorrefinaria poderia, portanto, atender às demandas das Políticas Nacionais de Resíduos Sólidos e de Mudanças Climáticas do governo brasileiro.

PRODUTOS - Um dos produtos que pode ser obtido a partir da pirólise do camalote é o biochar (tipo de carvão), um condicionante de solo de interesse agronômico. Também é possível se obter combustíveis de segunda geração, como gasolina e diesel sintéticos, além da energia térmica.

O carvão pode ser prensado ao bio-óleo para a obtenção de briquetes de alta densidade energética, interessantes para fornos de cimenteiras e, provavelmente, de siderurgias. O carvão pode ser utilizado ainda por padarias e pizzarias, que na região pode ter origem em madeira de mata nativa. Os tradicionais churrascos também podem aproveitar esses briquetes.

(*) Com informações de Ana Maio/Área de Comunicação e Negócios-ACN

Embrapa Pantanal

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