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Política

Acabou favoritismo na eleição para governador em MS, avalia cientista

Josemil Arruda | 14/05/2014 15:10
Tito vê fragilidades na candidatura Delcídio e prevê avanço do PSDB (Foto: arquivo)
Tito vê fragilidades na candidatura Delcídio e prevê avanço do PSDB (Foto: arquivo)

O cientista político Tito Machado considera que no atual cenário político acabou o favoritismo na eleição para governador em Mato Grosso do Sul. “Há um mês atrás, falar em vitória de Delcídio era algo seguro. Hoje é extremamente difícil apontar que vai vencer”, afirmou Tito, que é doutor em geografia política e econômica pela USP e professor dos cursos de Geografia, Administração e Jornalismo da UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul).

Para ele, o pré-candidato do PT, Delcídio do Amaral, tem imensas dificuldades de alianças externas e internas, que são fundamentais no processo eleitoral. “Aliança interna é importante tanto no aspecto da comunicação, da divulgação na TV, quanto da militância, que hoje tem a ver com financiamento da campanha, não sendo aquela outra que praticamente desapareceu. Hoje tem de ter financiamento para viabilizar a militância”, apontou.

Considera que a candidatura de Delcídio é muito mais pessoal do que partidária. “O nome dele é forte. Não é como a candidatura do Zeca do PT, que era o nome de partido”, comparou, asseverando que, por isso, o senador vai ter dificuldade no sentido de organizar sua estrutura no sentido de empolgar o partido para sua candidatura. “Não se consegue ainda ver empolgação efetiva com candidatura do Delcídio. Vai ter trabalho muito intenso de conseguir alinhavar internamente um bloco monolítico com ele”, avaliou.

Outro problema, segundo Tito, é aliança do PT com outros partidos, já que caiu definitivamente a expectativa, já pouco provável, de coligação com o PSDB. “Sobra muito pouco. Só partidos pequenos”, afirmou o cientista, admitindo, porém, que talvez Delcídio consiga atrair algum partido de nível médio como o PR.

Quanto ao pré-candidato a governador do PSDB, deputado federal Reinaldo Azambuja, o professor entende que hoje é o mais favorecido pelo cenário nacional, em razão da queda na popularidade da presidente Dilma Roussef e do senador tucano Aécio Neves estar ocupando espaços e se colocando efetivamente como alternativa real de poder.

Onda tucana - Na opinião de Tito, a candidatura de Reinaldo Azambuja é natural. “A tendência era dele ser candidato. O PSDB não ficaria sem candidato local. E é correto do ponto de vista partidário. Se tem candidato forte aqui tem de lançar e até mesmo para puxar votos para o candidato a presidente da República”, disse.

Azambuja é expressão não muito recente no cenário político estadual e, para Tito, vem recentemente sendo o homem que está resgatando a classe que Lúdio Coelho deixou órfã. “A classe pecuarista estava desprovida de um representante. Reinaldo representa essa classe, carreando também parte do setor rural, agricultores”, opinou, acrescentando, porém, sua crença de que os pecuaristas estão perdendo espaço tanto no poder quanto em votos.

No aspecto nacional, Tito prevê Azambuja ganhando dividendos com o PSDB disputando com mais força a sucessão presidencial. “O PSDB deve ir para o segundo turno. Efetivamente é mais estruturado que o PSB, de Eduardo Campos. É muito possível que o PSDB ganhe a eleição no Brasil. O PSDB não veio para concorrer , vai disputar. Campos veio para concorrer, não mostrou vitalidade suficiente”, sustentou. “E o Azambuja vem com força interna e força externa. É um candidato muito forte nessas eleições”, acrescentou.

PMDB é incógnita – O cientista político Tito Machado considera que o PMDB é uma “incógnita” nas eleições deste ano em Mato Grosso do Sul. “Nelsinho tem força em Campo Grande. É um candidato de Campo Grande. Foi prefeito por oito anos, fez boa administração e saiu com certo nome, porém Campo Grande é tradicionalmente o local onde mais se divide votos. Provavelmente vai sair daqui com um terço dos votos”, argumentou. “Embora eu ache que ganhe de Delcídio e Reinaldo, não vislumbro que vá fazer vitória esmagadora sobre os dois”, emendou.

Embora a Nelsinho tenha conquistado apoio do PSB, o que pode garantir-lhe apoio do prefeito de Dourados e até um vice da região, Tito não vê nisso uma grande vantagem, fazendo uma leitura nacional. “O PSB comete um erro estrutural aparente, que é trazer a Marina Silva, o que afugenta todo o agronegócio que existia dentro dele”, justificou.

Indagado se do ponto de vista estadual não seria diferente, já que Murilo tem grande força na Grande Dourados e sul do Estado, o cientista político respondeu: “No Brasil muito felizmente, o nacional interfere no local. O contrário também acontece, mas em menor proporção. Olha quem é vice do Eduardo Campos. Num Estado como o nosso, conservador, essa escolha não ajuda. A Marina é defensora natural de índios e sem terra e nosso problema maior aqui é esse, principalmente questão indígena. Nosso Estado é do agronegócio, embora comércio seja principal fonte de renda. Isso faz com que agro vá para lado do Aécio e não para Campos”.

Para conseguir empolgar o eleitorado, Nelsinho, apesar de ser um político respeitado no Estado, vai ter de “correr muito a estrada”, na opinião de Tito Machado. Questionado se o fator de ter o apoio do governador André Puccinelli não pesa favoravelmente ao ex-prefeito, o cientista respondeu com outra pergunta: “Será?”.

Vice-governador – Até agora nenhum dos três principais pré-candidatos a governador, Nelsinho Trad, Delcídio do Amaral e Reinaldo Azambuja, definiu quem será o candidato a vice-governador. Por enquanto, tudo não passa de convites ou ofertas de partidos como condição para aliança eleitoral.

Na avaliação de Tito Machado, a escolha do candidato a vice-governador tem efeito muito mais midiático do que carreador de votos para o cabeça-de-chapa. “Vice pouco vai importar. Historicamente tem importado muito pouco”, declarou, citando como exemplo o atual vice-presidente da República, Michel Temer, teve 1% dos votos para governador de São Paulo e hoje é sucessor constitucional de Dilma em caso de afastamento ou vacância.

Tito argumentou ainda, para comprovar que vice não traz voto para o candidato principal, o fato de Eduardo Campos ter “errado”, na avaliação dele, em pensar dessa forma e escolher Marina Silva como vice. “Vice do agronegócio traria mais dinheiro. Foi escolha em que errou, tanto que parou de crescer quando trouxe a Marina”, sustentou.

Apesar dessa opinião, Tito entende que é preciso mudar o papel do vice no Brasil. “Acho que quem ganhara para presidente deve mexer na Constituição Federal para definir papel do vice no Brasil. Hoje é muito frágil, só substitui o presidente da República, mas tem tomado proporção significativa, tanto formal, como ideológica, quanto do ponto de vista da arrecadação”, disse. “O vice antigamente servia para o palanque. Hoje o vice tem uma possibilidade de aproximar categorias da população ou distanciá-la”, finalizou.

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