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Política

Candidato quer ser o primeiro cadeirante a ter vaga na Câmara de Veredores

Luciana Brazil | 23/08/2012 08:25
Na rampa do plenário David testa a acessibilidade.
Na rampa do plenário David testa a acessibilidade.

Em 1998 um mergulho no rio Aquidauana mudou a vida. Ao bater a cabeça em uma pedra, uma das vértebras se quebrou e David Marques ficou paraplégico. A mudança, como ele mesmo diz, “foi da água para o vinho”.

Hoje, com 32 anos, o cadeirante está disposto a brigar pela causa dos que, assim como ele, convivem com a limitação a todo instante. Com bom humor, ele contou histórias de constrangimento que, infelizmente, acontecem rotineiramente.

Candidato a vereador, quer será o primeiro parlamentar cadeirante da história da câmara de Campo Grande.

Na época do acidente, David conta que momentos tristes, claro, existiram, mas a palavra depressão nunca fez parte do seu vocabulário. “Eu devo muito a Deus e minha família. Minha mãe foi tudo para mim. O bom humor é a chave de tudo”. Antes do acidente, David dava aula de dança e fazia salto ornamental.

O jovem faz questão de lembrar que segue uma vida normal apesar da limitação. “Eu não deixo de sair, trabalhar, ir para balada, mas às vezes a gente parece invisível. Eu sofro com certos constrangimentos. Quem gosta de ser constrangido?”, indaga.

Em um bar da cidade, ao lado do amigo, agora assessor, Alessandro Cacho, 30 anos, David sofreu um dos mais inesquecíveis momentos desagradáveis.

“O dono do bar não quis colocar a rampa por uma questão estética. Mas o elevador não funcionava direito. Quando nós chegamos, queríamos entrar sem ser percebidos, mas o elevador fez tanto barulho, um barulho tão grande que até a banda parou de tocar e perguntou se estava acontecendo alguma coisa”, lembra rindo.

Os elevadores de ônibus, geralmente não funcionam, segundo ele. “As pessoas, as empresas gastam dinheiro para colocar coisas que não funcionam, facilite coloca uma rampa”.

Depois de muitos anos andando a pé e utilizando os coletivos, hoje David tem uma van adaptada, veículo que usa para fazer campanha.

Na van adaptada o candidato chega à câmara.
Na van adaptada o candidato chega à câmara.
David quase some atrás da bancada.
David quase some atrás da bancada.

O pequeno empreendedor, dono de um espetinho, critica as vagas para deficientes físicos na cidade. "Eles dão a vaga, mas não dão o espeço para a gente descer com a cadeira. O que adianta?".

Câmara X Acessibilidade: Mas será que o plenário está pronto para receber um candidato como David? Durante um tour pelo local, ele constatou que alguns detalhes ainda precisam ser refeitos.

O púlpito é um dos exemplos. O local deverá ser mais baixo para atender os cadeirantes, como constatou o nosso personagem. A entrada da rampa, também deverá ser repensada, já que para subir David precisou da ajuda do segurança do local. “A entrada ainda está apertada, apesar de ter acessibilidade”, explica.

Além de avaliar as instalações do Legislativo Municipal, David pretende levar o debate até a câmara.

“Faltam políticas públicas na cidade que promovam a acessibilidade. Os bairros deveriam ser mapeados para sabermos em quais regiões estão os deficientes. A partir do momento que se sabe onde eles estão, é possível trabalhar com as prioridades”.

Segundo ele, Campo Grande é uma cidade 30% acessível aos deficientes, e muita coisa ainda precisa ser feita. “As novas edificações estão sendo construídas com acessibilidade, mas a maior parte dos comércios, que são antigos, não possui acesso para os deficientes”, lembra.

Ser cadeirante não significa ser um bom político, como disse David. A vontade de lutar pelos deficientes tem sido criticada por uma minoria, e alguns chegam a dizer que ele está usando a limitação para se promover. “Ainda tem gente que pensa assim. Não estou nem aí”, dispara.

Com o slogan “Quem sente na pele faz melhor”, ele diz que o segredo é não se apegar as coisas ruins. “Deus disse: vai acontecer isso com você, mas vou mandar os anjos da guarda para cuidar de tudo. É assim que me sinto”.

O jovem termina dizendo: “Não existe demagogia, minha causa é justa. Depois de ganhar não vou largar a cadeira e sair andando”.

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