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Política

Com afastamento, Mario desistiu do "sonho maior" e se voltou a Deus

Antonio Marques | 26/11/2015 17:40
Mario Cesar voltou ao trabalho de vereador após 91 dias afastado pela Justiça (Foto: Gerson Walber)
Mario Cesar voltou ao trabalho de vereador após 91 dias afastado pela Justiça (Foto: Gerson Walber)

Depois de 91 dias afastados das atividades parlamentares e impedido de se aproximar do local de trabalho por decisão judicial, em razão da operação Coffee Break, deflagrada no dia 25 de agosto passado, o vereador Mario Cesar (PMDB) voltou nesta quinta-feira à Câmara Municipal, após nova decisão da justiça que autorizou o retorno. Fora da cadeira da presidência, ele se diz preocupado com a criminalização da política.

No início da sessão, o vereador Carlos Augusto Borges, o Carlão (PSB), que secretariava a Mesa Diretora, leu a carta de renúncia de Mario Cesar ao cargo de presidente da Casa, que foi prontamente acatada pelo presidente em exercício, Flávio César. Mário entrou no plenário com o semblante leve e sentou ao lado de diversos colegas, conversou com outros ali e aqui e foi se ambientando ao local depois de três meses afastados.

No momento que a sessão foi interrompida para que houvesse uma apresentação na área de medicina sobre transfusão sanguínea e hemoderivados, Mario Cesar voltou ao seu gabinete e recebeu a reportagem do Campo Grande News para uma rápida conversa.

O peemedebista revelou nesse período procurou se afastar de tudo e de todos. Admitiu que a saúde ficou abalada, mas o contato com a família e com os amigos foi importante no período. Disse que foi um tempo para rever os conceitos e fazer uma reflexão sobre a vida. “Tive me ocupar de coisas boas, li muito e fiquei praticamente em casa todos os dias”.

Prestes a completar 51 anos no próximo dia 1º de dezembro, Mario revelou que se agarrou muito com Deus lendo a bíblia para ter um pouco de conforto e palavras encorajadoras. "Foi essa a minha meta", comentou ele com a voz embargada. Aproveitou, também, para avaliar as decisões sobre o futuro político.

O ex-presidente da Câmara lembrou que a decisão de não sair a reeleição já havia tomado antes de ser afastado, até porque ele alimentava uma vontade de ser candidato a prefeito da Capital. “Havia um sonho maior que seria a candidatura a prefeito, mas também já abri mão desse projeto”, contou. Porém disse que ainda pode contribuir com a gestão municipal, pela experiência que tem. O vereador é auditor fiscal de carreira do município.

Pai de três filhos, já grandes, ele lembrou que filhos nunca crescem e citou o fato de uma tia de 96 anos sempre ligar para ele “para saber se durmo sem camisa, se põe o pé no chão”, e que, mesmo grandes, nunca deixa de curtir os filhos.

Sobre a demora pela decisão de renunciar ao cargo de presidente da Câmara, Mario Cesar que preferiu se preservar ao máximo e atendeu o mínimo de pessoas possíveis sobre isso e até evitou a alguns lugares. “Fiz uma autocrítica e procurei muito a família, pois nos primeiros dias foram muito difíceis”, e disse que estava construindo a ideia da renúncia interiormente e junto com a família.

O vereador lembrou que estudou para ser gestor público, fez faculdade e duas pós-graduações de políticas públicas. E isso também influenciou nesta decisão e foi construindo a ideia paulatinamente para não ser muito traumática, mas ao mesmo tempo considerando a atuação de seu advogado com os recursos para que pudesse retornar à Câmara e as decisões do Tribunal de Justiça em cada uma das ações realizadas.

Segundo ele, juntou esses resultados no âmbito da justiça e seu amadurecimento de se “despir do cargo da presidência” e tão somente continuar o mandado de vereador, que culminou na decisão do advogado e chegou ao momento de apresentar a renúncia.

Processo – Mario Cesar disse ficar muito preocupado com o fato de as pessoas saírem falando em cima “do ouvir dizer... Se você é acusado de alguma coisa, você tem a responsabilidade de provar que não é culpado de algo. O que está me deixando triste neste cenário todo é a criminalização da política”.

Para ele, a continuar essa criminalização, com as pessoas tendo uma distorção dos valores pode vir uma censura para todo mundo, “a própria imprensa vai ser censurada”. Mário disse considerar a democracia a melhor forma de governo que existe, mas que questiona que diante da atual situação que passa o país “estamos criminalizando a política e cerceando as pessoas do direito de pensar, de fazer juízo de valor, de poder discutir assuntos”, ressaltou.

No atual momento, segundo o vereador, vive-se um momento que é pernicioso fazer reuniões, quando na democracia reuniões acontecem em todos os momentos, na família, no trabalho e, especialmente, no parlamento. “Na própria Câmara, quando não há consenso para votação de um projeto realizamos várias reuniões para encontrarmos uma saída que atenda a maioria”, explicou, mas destaca que em determinado momento se perde na criminalização do parlamento.

Mario Cesar citou a fala do presidente do Senado, Renan Calheiros, na sessão histórica dessa quarta-feira que votou a manutenção da prisão de um membro daquela casa, em que ele destacou a necessidade da autonomia e independência dos três poderes que são distintos. “Ele observou que a hora que um começar a interferir no poder do outro haverá uma bagunça generalizada e ninguém mais vai se entender”, questionou.

O vereador reclama do MPE (Ministério Público Estadual) que apontou na operação CoffeeBreak que os vereadores realizaram reuniões para combinar a cassação do prefeito Alcides Bernal (PP). “Nós perdemos os valores uns dos outros. Ninguém confia mais em ninguém. Estamos vivendo em um estado de exceção”, considerou.

Mario Cesar admitiu que ocorreram as reuniões dos dois lados, mas foram naturais. “Não foram reuniões unilaterais”. O vereador negou que tenha havia pagamento de vereadores para votarem na cassação do Bernal. Disse ficar preocupado por conta dos os crimes políticos e administrativos que aconteceram na gestão do prefeito. “O Ministério Público Federal aceitou a denúncia e ele (Bernal) está sendo investigado pelos crimes”, lembrou.

E a própria situação em si, a cassação, “não montamos nada, não fabricamos. Grande parte dos vereadores já tinham seu juízo de valor formado. Foram fatos concretos e verdadeiros”, garantiu. Neste ponto, Mário voltou a destacar que a preocupação maior é o “ouvir dizer”. Ele explica que da mesma forma que uma pessoa ouviu dizer de um lado, ele também ouvir dizer do outro lado. “Qual que é o ouvir dizer que é verdadeiro”, questiona.

Futuro – Mario Cesar diz que quer terminar o mandato de vereador e tem algumas bandeiras que ele pretende continuar defendendo que é o acompanhamento da duplicação da BR 163 no entorno da Capital, que ele quer reduzir ao máximo os impactos à população e garantir a segurança no trânsito. Também gostaria muito que fosse criada a Secretaria de Acessibilidade, já aprovada na Câmara, mas disse entender que a situação financeira do município no momento não comportaria mais esta pasta.

Porém, o vereador afirma que isso não vai impedi-lo de avançar nas políticas públicas voltadas para acessibilidade. “A meta é tornar Campo Grande mais acessível”, ressaltou.

Como é auditor de carreira, ao terminar o mandato, se não puder contribuir com outra pessoa ou grupo politicamente vai voltar para a prefeitura, pois ainda tem sete anos para cumprir antes da aposentadoria. Mario Cesar defende que no momento que Campo Grande “grita por socorro” e não podemos pensar no que é melhor para grupo A ou B, mas os nomes que estão dispostos a comandar a gestão municipal devem se unir.

Ao final, ele disse que continua no PMDB, partido que lhe deu apoio, mesmo preferindo ter ficado afastado das questões partidárias. O vereador riu ao comentário de que seu partido não tem nome a prefeito da Capital. E como tem muito tempo pela frente, ele entende que ainda tem “muita água para passar debaixo da ponte”.

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