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Política

Orçado em mais de R$ 9 mi, projeto de consulta por telefone não sai do papel

Bruno Chaves | 05/09/2013 18:05
Presidente da CPI, Amarildo Cruz, acredita que população sai perdendo porque R$ 9 milhões foram gastos e programa continua inativo (Foto: Bruno Chaves)
Presidente da CPI, Amarildo Cruz, acredita que população sai perdendo porque R$ 9 milhões foram gastos e programa continua inativo (Foto: Bruno Chaves)

Comprado em 2009 por R$ 9.983.000,40, o novo sistema de trabalho dos postos de saúde de Campo Grande não saiu do papel até hoje. Na época, entre as melhorias divulgadas estava a marcação de consultas médicas por telefone, o que eliminaria as grandes filas nas unidades básicas de saúde da Capital.

Para questionar o fato de tanto dinheiro ter sido utilizado em um programa que não funciona, a CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) da Saúde da Assembleia convocou o diretor presidente do IMTI (Instituto Municipal de Tecnologia da Informação), Luiz Alberto de Oliveira Azevedo, e o antigo gestor da pasta, João Mitumaça Yamaura, para prestarem depoimentos nesta quinta-feira (5) sobre o funcionamento do Sistema Gisa (Gestão de Informação da Saúde).

O atual diretor presidente do IMTI afirmou que o sistema está congelado por falta de estrutura. Ou seja, Luiz afirmou que a rede de tecnologia dos postos de saúde não comporta a instalação do novo programa, considerado moderno. Para que o novo sistema entre em operação, é necessário que ele seja instalado na rede. Mas ele não pode ser colocado em prática porque a rede não suporta dois programas ao mesmo tempo, o antigo e o atual.

“Se eu tirar o programa antigo para colocar o novo, a rede vai congestionar e eu vou parar o atendimento da saúde na cidade”, explica o diretor. Nas palavras dele, o sistema é altamente complexo e foi comparado como um carro de Fórmula 1. “Temos um carro moderno para andar em uma estrada de terra”.

De acordo com Luiz, 95% do sistema está pronto. No entanto, ele não pode ser colocado para funcionar porque diversas variáveis surgiram ao longo do projeto. O maior empecilho, para o atual diretor, é a questão do código fonte do programa, código que permite possíveis alterações e modificações na estrutura do sistema.

A atual gestão da Sesau (Secretaria Municipal de Saúde) chegou a emitir relatório solicitando modificações na estrutura. Alterações que, segundo Luiz, só poderiam ser realizadas com o acesso ao código fonte.

Luiz contou que o Consórcio Telemídia, contratado para desenvolver o Programa Gisa, não fornece o código fonte do programa. “É impossível alterar o programa sem o código”, disse.

Questionado pelos deputados sobre o motivo de a prefeitura não ter esse código, ele disse que não poderia responder por falta de conhecimento, já que o consórcio foi contratado na gestão passada.

Durante o depoimento, o presidente da CPI, deputado Amarildo Cruz (PT), divulgou que a empresa Alert, que faz parte do consórcio, informou que não forneceria, em momento algum, o código fonte do programa, uma vez que estava protegida pela lei de direitos autorais.

“Eu estou entendendo que a compra do sistema foi um mau negócio porque cria uma dependência da prefeitura, que comprou o sistema e vai ter que ficar com a empresa para o resto da vida”, falou.

Durante seu depoimento, o ex-diretor presidente do IMTI, João Mitumaça, revelou que, em 2009, no começo da implantação do sistema, a equipe não tinha ideia do tamanho e da complexidade do programa Gisa. “Como foi evoluindo, fomos sentindo as necessidades de modificação”, disse.

Para explicar a contratação do consórcio que implantaria o novo programa, João disse que o sistema de saúde da prefeitura era muito antigo e precisava ser trocado. “Era defasado. Tínhamos problemas e precisávamos trocar. Se ficássemos esperando melhorar a rede e as máquinas não teríamos começado o novo sistema”, afirmou.

Ele disse que a antiga gestão aproveitou a oportunidade do convênio com o Ministério da Saúde, que disponibilizou R$ 8 milhões para o sistema, e começou a execução do novo projeto.

João lembrou que o sistema de marcação de consultas por telefone começou a ser utilizado na cidade. “Ao todo, 18 mil pessoas deixariam de ir para as filas e marcariam as consultas por telefone”, lembrou.

Luiz Alberto afirma que infraestrutura e liberação do código fonte do programa impedem seu funcionamento (Foto: Bruno Chaves)
Luiz Alberto afirma que infraestrutura e liberação do código fonte do programa impedem seu funcionamento (Foto: Bruno Chaves)
Para João Mitumaça, o novo sistema já poderia estar em pleno funcionamento (Foto: Bruno Chaves)
Para João Mitumaça, o novo sistema já poderia estar em pleno funcionamento (Foto: Bruno Chaves)

O diretor também foi questionado sobre a fiscalização da União na implantação do sistema, já que grande parte do dinheiro utilizado foi de recursos federais. O ex-diretor disse que o Ministério da Saúde fez diversas auditorias na instalação do programa.

Na primeira delas, em 15 de maio de 2012, três funcionários do Governo Federal, entre eles dois analistas de sistemas, informaram que a Solução Gisa era eficiente e que o Ministério da Saúde, inclusive, estudava implantar o mesmo sistema de Campo Grande em outros municípios do País.

Após vários questionamentos e respostas que escapavam pela tangente, ficou constatado que dos 12 módulos do Programa Gisa, apenas quatro estão funcionando, como projeto piloto, em quatro postos de saúde da Capital. O atual diretor do IMTI não soube informar quais unidades contam com esse atendimento.

O que ficou anunciado é que o módulo de marcação de consultas por telefone, o mais anunciado na época da implantação, não está em atividade em nenhum posto de saúde da cidade.

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