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Política

Vídeo: Sidney prevê corte de comissionados e mais qualificação

Kleber Clajus | 02/08/2014 08:00
Candidato a governador do PSOL encerra a primeira série de entrevistas do Campo Grande News (Foto: Marcelo Victor)
Candidato a governador do PSOL encerra a primeira série de entrevistas do Campo Grande News (Foto: Marcelo Victor)

O candidato do PSOL ao governo, professor Sidney Melo, é o sexto da rodada de entrevistas do Campo Grande News com os postulantes a sucessão de André Puccinelli (PMDB). Em sua segunda tentativa para cargo no Executivo, uma vez que concorreu a prefeitura de Campo Grande em 2012, ele pretende reduzir o número de comissionados e investir em escolas de ensino integral para formação técnica de mão de obra no Estado.

Pouco conhecido no interior, Sidney pretende investir nas redes sociais para conquistar visibilidade ao seu plano de governo que ainda prevê redução da desigualdade pela continuidade de políticas de assistência social, escoamento de produção mais eficiente com uso da Rota do Pacífico, investimento em infraestrutura logística com reformulação do Fundersul (Fundo de Desenvolvimento do Sistema Rodoviário de Mato Grosso do Sul) e redução do impacto da tarifa resultante da privatização de rodovias.

Durante a entrevista, que possui 45 minutos, o candidato do PSOL ressalta ser preciso construir hospitais regionais nas 11 microrregiões do Estado para desafogar o atendimento realizado na Capital. Quanto a segurança, ele entende ser necessário um plano de cargos e carreiras, além de investimento na qualificação dos profissionais para fazer frente ao crime organizado nas áreas urbanas e de fronteira. Em relação aos presídios, destaca que são necessárias mais vagas para, posteriormente, se pensar em projetos alternativos para que o detento produza, por exemplo, sua própria comida.

Sidney, que é graduado em história e sociologia, quer investir dinheiro do orçamento estadual na construção de casas, em agências públicas de turismo para “vender” os atrativos do Estado e captar investidores, além de se pensar o desenvolvimento local com base na “vocação” de cada região produtiva.

Aos 44 anos, o candidato nascido em Guarulhos (SP), reforça também que a solução para os conflitos indígenas precisa ser resolvida sem afetar a produção rural que sustenta a economia sul-mato-grossense, ao respeitar em consonância o direito indígena de reaver sua terra tradicional.

Confira a entrevista na íntegra:

Transcrição dos principais trechos da entrevista:

Estratégia de campanha - Vamos explorar as redes sociais e que canais que se abrirem, como este, para mostrar nossas ideias.

Luta contra desigualdade – Para reduzir, do nosso ponto de vista, é preciso inverter prioridades, criar as mesmas condições para que todos tenham acesso a bens, serviços, produtos e qualidade de vida. Temos uma série de empecilhos tradicionais. Quem sempre esteve na posição de dominador não quer sair disso ou reduzir seu poder de mando. Temos que começar a fazer com que o Estado destine mais recursos as políticas sociais e menos dinheiro para o pagamento das dívidas que enriquecem tanto os banqueiros. Sabemos da importância do movimento econômico do comércio e da produção, mas entendemos que é hora de dar chance para os trabalhadores.

Escoamento da produção - Temos um problema diagnosticado que não é preciso ser nenhum expert para saber. Primeiro temos a questão das ferrovias que trabalham de forma sofrível e sucateadas, por isso precisamos fiscalizar para que melhorem. Quanto as nossas estradas, nos últimos 20 anos, não vimos nada [de melhorias]. A estatização com a instalação de pedágios vai demorar muito para surtir os resultados que precisamos para ontem.

Rota para o Pacífico - A opção de um estudo de rota comercial para o Pacífico não é uma utopia. Aproveitando nossa posição geográfica e potencial temos como colocar nossa produção para fora de fato mais longe, rápido, garantindo mais lucro para produtor, que garante mais salário para o trabalhador e mais qualidade de vida para todos mundo. Um bom projeto, garanto, vai trazer recursos e parcerias suficientes para viabilizá-lo. O que falta é boa vontade política de resolver e deixar a fogueira de vaidade de lado.

Fundersul - A gente viu que, mesmo com somas altas, a nossa malha viária não melhorou, e as estradas vicinais não tiveram grande avanço. Ou seja, o Fundersul não foi aplicado com inteligência para que surtisse o efeito desejado, mas acreditamos que deve continuar existindo com algumas ressalvas. O pequeno produtor e agricultor familiar precisa ter uma cota menor de peso tributário. O Fundersul é importante para que a gente consiga viabilizar condições de logística.

Privatização de rodovias - Não somos a favor da privatização porque entendemos que o Fundersul poderia ter cumprido esse papel e projetos inteligentes trariam recursos para que a estrada da morte [BR-163] pudesse ser a estrada da produção, geração de emprego e renda. A privatização vai atender a outros interesses e os resultados vão demorar bastante para a gente conseguir sentir se foi positivo ou não. O que podemos fazer agora é tentar minimizar isso no bolso do trabalhador.

"Não somos a favor da privatização porque entendemos que o Fundersul poderia ter cumprido esse papel", diz o candidato (Foto: Marcelo Victor)
"Não somos a favor da privatização porque entendemos que o Fundersul poderia ter cumprido esse papel", diz o candidato (Foto: Marcelo Victor)

Arrecadação tributária – Nós vamos trabalhar essa questão da tributação de uma forma que seja para atender as necessidades de investimento e inverter a lógica do orçamento que se destina muito ao pagamento da dívida. Não estou tratando de calote, mas temos que repactuar essa dívida. Boa parte do que a gente arrecada está destinado para isso e não para investimento em áreas estratégicas como a produção, saúde, indústria e educação. Falta no sistema tributário daqui um projeto que seja para investimento no cidadão e não para pagamento de conta.

Modificação de alíquotas – Tratar hoje seria, de certa forma, leviano. É fato que assumindo o governo, a partir de janeiro do ano que vem, vamos rever as alíquotas de tributação até para que consigamos dar mais dinâmica para o comércio que carrega carga tributária imensa, mas sempre olhando a qualidade de vida das pessoas. Não é fazer isenção fiscal ou redução de alíquota apenas para beneficiar empresários ou grandes comerciantes.

Corte de comissionados - A medida é, de certa forma, antipática, mas temos que reconhecer que a máquina pública é inchada de muitos cargos comissionados que, infelizmente, não são indicação técnica, mas política. Nós vamos reduzir drasticamente os comissionados porque pretendemos investir muito mais no servidor com plano de cargos e carreiras para que desenvolva ainda melhor seu trabalho e temos que dar oportunidade para que ele ocupe, inclusive, os cargos de direção, desde que ele tenha condição técnica para isso.

Projeto para o campo - Há um hábito político de deixar que o produtor produza, escoe a safra e pronto. Não há um projeto nos últimos 20 anos para alavancar nossa capacidade produtiva e identificar ainda mais vocações dentro do campo. Queremos fazer esses estudos técnicos e garantir investimento maior para o setor. Temos que ter a clareza que sem a tecnologia de ponta e investimento vamos ficar sempre no mais do mesmo. Ter mais comida não significa apenas produzir mais. É aquela conta fácil de fazer: produziu mais o custo diminuiu e o preço final para o consumidor também ficou mais acessível. A gente garante qualidade de vida.

Saúde - Muito do que temos hoje é do Governo Federal e de projetos que a gente faz com contrapartida. Temos 11 microregiões no Estado que precisam ter e vão ter a presença mais forte do SUS (Sistema Único de Saúde) regionalizado fora de Campo Grande, que sofre verdadeiro caos por atender praticamente o Estado inteiro. Vamos começar, desde primeiro dia de governo até o final, para que as 11 microregiões tenham estrutura física de saúde e profissionais para isso. Evidentemente temos que ter mais concurso público para a área, atrativos para os médicos que se formem venham atuar na rede pública.

Atuação preventiva - Não podemos falar de saúde pensando apenas no jaleco branco de um médico. Temos que pensar que isso começa na escola preparando esse estudante na prevenção de doenças que são muito comuns e se repetem a cada geração.

Qualificação de mão de obra - O primeiro ponto é garantir para a UEMS autonomia de gestão e implementação de pesquisa, sem interferência do objetivo político. Temos no PSOL projeto para a educação do ensino médio, onde as escolas integrais saiam do discurso e o estudante possa fazer curso técnico. Boa parte dos postos melhor remunerados são ocupados por pessoas que vem de fora porque estão mais qualificadas que os daqui que não tiveram oportunidade de qualificação pública. Ainda que se fale do Pronatec e de pequenos incentivos, é muito pouco para nossa densidade populacional de juventude. Temos que apresentar mais oportunidades para esse jovem se qualificar com centros de treinamento tecnológico, com apoio da UEMS, que vai servir para nos ajudar e parcerias com outras instituições. Acho que a gente precisa fazer mais instalação de escolas técnicas e não de cursos técnicos sazonais quando a cana está indo muito bem. Aí você preparou só para um setor, enquanto há toda uma gama de oportunidades para a juventude que não tem condição técnica.

Habitação - Temos uma série de espaços dentro das cidades que são propositalmente reservados como vazios urbanos, que servem depois para as empresas que tem mais capital fazerem ali um grande empreendimento habitacional onde ela lucra e a população não. O Estado precisa fazer mais moradias destinando recurso de fato para a habitação, porque as populares que construiu nos últimos anos vem com recurso do federal, contrapartidas do Estado e dá-se a impressão de que o Estado fez as casas. Isso não tira o mérito do administrador que consegue esse recurso, mas a gente precisa começar ter mérito pelo nosso próprio recurso. Vamos começar a destinar recurso do orçamento para construção de casas e a gente pretende para dar uma zerada no déficit habitacional. Essa lenda urbana, de que ele não aumentou, só existe na cabeça de quem já está dentro de uma casa. Famílias que ganham até três salários mínimos tem dificuldades de conseguir a casa própria e vamos mudar isso.

Situação prisional - Isso toca em um ponto que tratamos em nosso plano de governo que é o respeito aos direitos humanos, independente de sua condição. Entendemos que o sistema prisional há muito se demonstra falido porque não tem a menor intenção de recuperar ninguém, é extremamente degradante e não respeita prazos judiciais. Temos hoje superlotação desde a delegacia do bairro até a penitenciária de segurança máxima. Primeiro, temos que criar mais vagas para incentivar [posteriormente] o trabalho, a produção do próprio alimento, a contribuição com a sociedade.

Segurança pública – Entra governo, saí governo e a novidade é a cor da viatura que mudou, o modelo e o armamento que está sendo entregue. A gente já viu que isso não resolve o problema da segurança pública. Para resolver o problema é preciso valorização do servidor que precisa de um plano de cargos e carreira e mais qualificação profissional que lhe garantam aprender como lidar com o desenvolvimento do crime que evolui a cada dia e o nosso aparato de segurança fica no passado vivendo de viatura e arma.

Política de fronteira - Temos divisas enormes que trazem coisas boas e ruins. Precisamos de uma polícia de fronteira preparada para fazer o trabalho e isso não existe hoje em Mato Grosso do Sul. Para os grandes centros e cidades, uma polícia cidadã que entenda a necessidade de respeitar o direito humano. Mais do que ter profissionais, armas e viatura é preciso aparato tecnológico e de conhecimento para s trabalhadores da segurança.

Pantanal - O que a gente vê com o Pantanal é um completo descaso das gestões públicas. Isso porque se fala de proteção ambiental, mas isso não existe. A população ribeirinha também fica muitas vezes refém da falta de presença do Estado. Não tem assistência médica, jurídica, social e é difícil chegar, mas não se trabalha logística eficaz.É necessário que a gente cuide do ribeirinho para que ele possa continuar cuidando do Pantanal como sempre fez. A produção de cana-de-açúcar, em algumas regiões, chegou muito próximo e mais uma vez vemos o lucro em detrimento da qualidade de vida e do meio ambiente. O desenvolvimento de pesquisas nunca houve, senão por iniciativa de universidades ou por iniciativa de uma instituição de fora que vem conhecer o que nós temos de capacidade biológica e o Estado não explora isso.

Turismo - Trabalhar o vender o Estado para fora deveria ser, em que pese que a produção de alimentos seja o nosso forte, tarefa primeiro porque agrega valor e traz também o futuro investidor. Para resolver o problema do turismo falta, de novo, vontade política. A ideia é que sejamos capazes de vender essa imagem com agências públicas de turismo instaladas nos grandes centros do país. Não há outra forma de atrair para cá se não for buscar lá fora o turista e aí passa, antes de mais nada, por uma reforma de nossa logística de transporte de pessoas. Nós temos um aeroporto, e vamos precisar fazer gestão junto com a Infraero e órgãos federais, para que se adeque e possa receber mais turistas também.

Desenvolvimento regional – Entendemos que bolsões com população mais vulnerável não são regiões que temos que entendê-las como condenadas ao fracasso eterno. Pode haver desenvolvimento a começar por descobrir a vocação de cada região e investir para que gere emprego. É claro que para que a pessoa possa trabalhar ela tem que ter condição de sobreviver. Tem pessoas nesses bolsões de pobreza que sequer fazem duas refeições das quatro obrigatórias por dia. Por isso, não pretendemos cortar o Vale Renda, mas aprimorá-lo e fazer com que ele chegue as pessoas que realmente necessitam e que tenham condição de ser cidadã.

Conflito indígena – O que falta é garantir que o povo nativo tenha acesso a sua terra tradicional e possa ocupá-lo sem que isso prejudique a produção que já existe e é uma das vertentes que garante a economia do Estado. Partindo para a prática, o Estado que titulou a terra é responsável por essa titulação e não dá para dizer que índio é problema, mas faz parte da nossa população e a Funai tem responsabilidade de cuidar da questão macro e nós de resolver o que é terra indígena e o que é terra do produtor rural.

Considerações finais - Espero que Mato Grosso do Sul reveja esses seus últimos 24 anos e veja o que já fizemos aqui. O que tem é resultado do que fizemos através do voto na urna em cada eleição. Podemos mudar, melhorar e fazer ainda mais. Vai depender só de nós, de novo.

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