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Economia

Mercado restrito derruba preços e pecuaristas amargam ano ruim

Renata Volpe Haddad | 11/01/2016 10:38
São nove frigoríficos JBS em Mato Grosso do Sul e pecuaristas temem monopólio. (Foto: Marcelo Calazans/ Arquivo Campo Grande News)
São nove frigoríficos JBS em Mato Grosso do Sul e pecuaristas temem monopólio. (Foto: Marcelo Calazans/ Arquivo Campo Grande News)

Oferta restrita de animais, preço da arroba do boi gordo em dezembro com queda mesmo com o dólar valorizado, frigorífico com o próprio confinamento e pecuaristas reféns de preços baixos. O ano de 2015 não foi um dos melhores para a pecuária em Mato Grosso do Sul e a questão fica pior quando se fala em monopólio. No Estado, já são nove unidades da JBS que abatem gado, segundo a SFA (Superintendência Federal de Agricultura).

Ao longo deste ano, 26 frigoríficos fecharam no Brasil sendo 15 em Mato Grosso do Sul. Mais de seis mil demissões foram feitas, prejudicando economia dos municípios, pois sem emprego, não há consumo.  Com isso, cada vez mais diminuem as opções de mercado para os produtores.

Monopolização é assunto sério e tem preocupado os pecuaristas do Estado. Conforme o pecuarista de Corumbá, José Francisco Pereira Lima, qualquer tipo de monopólio é ruim. "O JBS ganha com exportação, cada contrato firmado em outros países é benefício para eles e com esse poder, eles querem eliminar os frigoríficos pequenos e os pecuaristas ficam reféns de uma só proposta, pois não tem outras opções para negociar", afirma.

Na avaliação de Lima, como a oferta de animais está restrita, o JBS não tem tanta oportunidade de monopolizar. "Com a escassez de produto, fica ruim até para eles, mas já que na pecuária tudo é cíclico, as coisas vão voltar ao normal e corremos o risco de um monopólio", avalia.

Sem frigoríficos na região de Corumbá, pecuarista transporta animais por quase 300 km para negociar com frigorífico de Aquidauana. (Foto: Marcelo Calazans/ Arquivo Campo Grande News)
Sem frigoríficos na região de Corumbá, pecuarista transporta animais por quase 300 km para negociar com frigorífico de Aquidauana. (Foto: Marcelo Calazans/ Arquivo Campo Grande News)

O pecuarista conta que negocia com o Friboi de Aquidauana, por falta de frigoríficos na região. "Minha fazenda é em Corumbá e na região não têm frigoríficos para que eu possa vender meus animais. A melhor solução que eu achei foi separar lotes, pagar um frete até Aquidauana, que são quase 300 km de distância e negociar com o Friboi. Mesmo gastando mais, foi a melhor maneira que eu achei", comenta.

Terenos - "O monopólio acaba dificultando para todos os pecuaristas, pois o JBS coloca o preço que quer, compram bezerro no valor baixo e todos se prejudicam, menos eles", explica o pecuarista de Terenos, Carlos Roberto Neto.

Segundo Neto, existe um frigorífico na região que está pagando R$ 3 a mais pela arroba, enquanto o JBS paga o valor de R$ 130. "O preço da arroba em dezembro está baixo e isso nunca aconteceu antes. Em Terenos, tem um frigorífico pequeno que paga R$ 3 a mais na arroba por causa da oferta restrita, mas isso não deve durar muito tempo porque não tem como competir e a capacidade de abate é bem menor do que o JBS", avalia.

Para o pecuarista e presidente da Acrissul (Associação dos Criadores de Mato Grosso do Sul) Jonatan Pereira Barbosa, o produtor precisa de um mercado livre para ter suas opções de comercialização. "Quando as portas dos pequenos frigoríficos se fecham, os maiores vão crescendo e tomando conta do mercado, se tornam um monopólio e isso não é bom para ninguém", comenta.

Conforme presidente da Acrissul, JBS tem próprio confinamento em MS. (Foto: Acrissul/ Divulgação)
Conforme presidente da Acrissul, JBS tem próprio confinamento em MS. (Foto: Acrissul/ Divulgação)

Confinamento – Barbosa conta que em 2012, a Acrissul lutou contra o suposto cartel que estava se formando na época. "Combatemos sistematicamente, as coisas melhoraram no Estado, passou um tempo e agora me parece que a mesma situação está se repetindo", afirma.

Porém, segundo o pecuarista, o JBS se preparou e instalou confinamento próprio em Mato Grosso do Sul. "O que achávamos que não ia piorar, piorou, pois eles estão vendendo e comercializando os próprios animais, e para eles não existe restrição de gado e o preço do boi pode ficar abaixo do normal que para eles não faz diferença", avalia.

Outro ponto que Barbosa destaca é que em Campo Grande o preço da arroba do boi gordo em dezembro nunca esteve tão baixo. "Ainda mais com o dólar alto isso não podia acontecer. O JBS está com vários contratos de exportação, eles pagam o valor da arroba no real com prazo e vendem à vista em dólar", explica.

Ou seja, além de vender barato, o pecuarista recebe 30 dias depois, enquanto o frigorífico negocia em dólar e recebe à vista. "O produtor que vive do boi gordo não tem outro produto para barganhar, do jeito que o mercado está, não há lucro nas vendas, já que o dono paga por vacinas, peão, manejo, transporte. A única coisa que a gente percebe, é que para o consumidor final, o preço da carne está cada dia mais caro", analisa.

Para ter boi em pasto, o investimento é alto e o lucro no Estado está baixo, além de venderem com prazo de 30 dias para os frigoríficos. (Foto: Gerson Walber)
Para ter boi em pasto, o investimento é alto e o lucro no Estado está baixo, além de venderem com prazo de 30 dias para os frigoríficos. (Foto: Gerson Walber)

Acrissul – A associação está preparando um projeto para criar uma cooperativa dos pecuaristas de Mato Grosso do Sul, sobre orientação e controle da Acrissul. Conforme Barbosa, o objetivo é vender os lotes de animais diretamente para a cooperativa que vai fazer parceria com um frigorífico. "Ao invés de negociar com outros e perder dinheiro, os pecuaristas vendem para a cooperativa que aluga um frigorífico para fazer abate, onde todos os contratos externos e internos serão de responsabilidade da cooperativa. Este é um meio de se ver livre desse cartel", alega.

O presidente explica que a intenção é concluir o projeto ainda em janeiro de 2016. "No Mato Grosso criaram uma cooperativa porque o cartel estava dominando o mercado local e deu resultado", conta.

JBS - A equipe de reportagem do Campo Grande News procurou a assessoria da JBS e foi informada de que não há possibilidades de novas aquisições de frigoríficos no Estado, já que o Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica) não permitiria a ação.

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