Agentes somem das ruas e vale tudo no trânsito:de fila dupla a furar sinal
De janeiro a setembro, o trânsito de Campo Grande ganhou mais 15.962 veículos e apenas seis agentes municipais de trânsito. A discrepância numérica se revela em muitas irregularidades pelas ruas. Por volta das 11h desta terça-feira, no Centro da cidade, não se via agentes, mas muitos abusos.
No cruzamento da Rua 14 de Julho com a Barão do Rio Branco, a pedestre, segurando uma criança no colo e outra ao lado, tem que correr para concluir a travessia na faixa de pedestre. O semáforo abriu enquanto a travessia estava na metade, mas o direito de concluir a passagem, previsto no CTB (Código de Trânsito Brasileiro), não vale nas ruas.
Sem fiscalização, também se vê filas duplas e muitos pedestres transitando em meio aos veículos e fora da faixa. Na Barão do Rio Branco, motocicletas invadem espaço do estacionamento regulamentado para cadeirante.
Longe da região central, no cruzamento da avenida Ernesto Geisel com a rua Santa Adélia, não são necessários mais do que dez minutos para ver o semáforo vermelho ser “furado” por diversos condutores.
Na mesma esquina, uma semáforo com botoeira deveria facilitar a passagem das pessoas. Mas, o dispositivo fecha apenas o sinal da avenida, expondo o pedestre ao risco de ser atropelado poe veículo que sai da Santa Amélia para entrar na Ernesto Geisel.
Melhor possível – Em janeiro, logo após assumir o comando da Agetran (Agência Municipal de Trânsito), Jean Saliba, apontou déficit de 250% no quadro de agentes de trânsito. À época, eram 57, enquanto a cidade precisava de 200.
Passados noves meses, o efetivo teve aumento de apenas seis agentes. “Foram chamados 10, mas compareceram seis”, afirma. Segundo ele, o prazo legal de validade do concurso já acabou e, atualmente, diante de problemas financeiros, a prefeitura não tem condições de lançar novo edital.
“Estamos fazendo o melhor possível com o efetivo”, afirma o diretor-presidente da Agetran. Jean Saliba explica que a agência tem duas fontes de receita: arrecadação própria e recursos do Tesouro municipal. “Essa parte, em função da situação, está sofrendo contingência e estamos absorvendo as outras despesas”, diz.
Enquanto as finanças da prefeitura não melhoram e o efetivo da Agetran segue sem perspectiva de aumento, a estratégia é apelar para a consciência dos condutores. Para Saliba, parte dos condutores gosta de transferir a responsabilidade de sua conduta para o poder público. “A pessoa bate o carro de forma irresponsável e o que agente tem a ver?”, questiona.
Sobre as diversas infrações, ele afirma que a conduta pessoal do motorista pode fazer diferença. “Não têm paciência, furam o sinal vermelho, param em fila dupla de forma arrogante, dificultam a passagem de uma pista para a outra. Isso tudo é educação no trânsito”, diz.
Jean Saliba afirma que apesar do déficit de agentes houve redução nos acidentes de trânsito. “Mas queremos que diminuam mais. O prefeito é muito sensível a essa questão e deve fazer um investimento muito maior com a Agetran a partir do próximo ano”, salienta. Conforme o projeto Placar da Vida, foram 67 mortes no trânsito de Campo Grande entre os meses de janeiro a agosto deste ano. No mesmo período do ano passado, foram 75 óbitos.
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