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Capital

Desníveis, velocidade e tragédias fazem moradores reféns do medo

Neste ano, três pessoas morreram em acidentes, mesmo número de óbitos em 2013

Aline dos Santos | 14/07/2014 11:06
Morador põe obstáculo para proteger casa de tragédias constantes em avenida (Foto: Marcelo Calazans)
Morador põe obstáculo para proteger casa de tragédias constantes em avenida (Foto: Marcelo Calazans)

Há treze anos a cabeleireira Lindinalva Néris Campos, 59 anos, leva a vida amedrontada dos reféns. Morando ao lado da avenida Ernesto Geisel, ela conhece bem os perigos da via, cenário de acidente com duas mortes ontem. Em 2001, um Monza invadiu a varanda da casa e atingiu seus três filhos – de 1, 2 e 12 anos.

O mais velho ficou 15 dias internado em estado de coma. Se tivesse para onde ir, Lindinalva conta que já teria deixado seu endereço dos últimos 30 anos. Sem opção, se protege como pode.

“Coloquei esse tocos em 2003, quando um Gol derrubou o poste de energia. Falaram que era proibido. Mas é proibido proteger a minha casa, a minha família? Na igreja aqui do lado, já entraram quatro carros”, relata. Em frente ao imóvel, uma dezena de tocos de madeira atuam na linha de frente para proteger o lar da cabeleireira.

Se Lindinalva tem medo e mal consegue dormir à noite, a curva acentuada, próximo ao cruzamento com rua Xavir de Toledo, os buracos, os desníveis dos remendos do asfaltos não intimidam os condutores. No sentido ao bairro Aero Rancho, carros, caminhões e motocicletas passam em alta velocidade, a poucos centímetros dos tocos de madeira.

A faixa branca permite o estacionamento, mas ninguém se arrisca a deixar o veículo parado. Do lado oposto à casa de Lindinalva, as ameaça são a ausência de proteção metálica às margens do rio Anhanduí e a erosão que se aproxima da via.

A moradora espera há mais de uma década pelo poder público. As inúmeras reclamações resultaram em um semáforo antes da curva.

Lindinalva conta que teve casa invadida por carro e hoje mal consegur dormir com medo de novo acidente. (Foto: Marcelo Calazans)
Lindinalva conta que teve casa invadida por carro e hoje mal consegur dormir com medo de novo acidente. (Foto: Marcelo Calazans)

A poucos metros do acidente fatal de ontem, Pedro Almeida de Souza, 54 anos, aponta os desníveis da pista e o excesso de velocidade como os principais fatores de risco. “O carro passa ali e flutua se estiver em alta velocidade. É como uma aquaplanagem”, descreve.

Trabalhando o dia todo de frente para a avenida, a atendente Rosimeire de Oliveira, 37 anos, conta que acidentes são constantes e também culpa a velocidade. “Nem escuta freada, só as batidas”, diz.

A esteticista Rosilene Trajano da Rocha, 32 anos, afirma que já viu diversos condutores perderem o controle dos veículos e irem parar no rio. “Não tem proteção nenhuma. Perdem o controle e caem lá dentro”.

A tragédia de ontem, em frente a um imóvel que está à venda, próximo ao cruzamento da avenida e da rua Aquário, deixou dois mortos: Bruno Castro de Oliveira, 24 anos, e Fausto Gauto Vasques, 38 anos. Testemunhas disseram que o condutor perdeu o controle do carro ao passar por desnível na pista.

Hoje, no local do acidente, restam parte do veículo, um muro quebrado, o portão amassado e mais uma história para contar dos perigos da Ernesto Geisel. Conforme dados da Agetran (Agência Municipal de Transporte e Trânsito), foram três acidentes com mortes na avenida em todo o ano passado. O mesmo número de óbitos já registrados até ontem.

Sem data para a obra chegar, a pista segue com a pintura esmaecida e ladeada pelo processo erosivo do rio Anhanduí. No período de chuva, os problemas ganham o reforço dos alagamentos. As intervenções para canalização e revitalização são orçadas em R$ 47 milhões.

A previsão é que a via seja canalizada na altura do Shopping Norte Sul Plaza até o ginásio do Guanandizão. O recapeamento da avenida também faz parte do projeto, além de calçadas, ciclovia e partes com área de lazer, com quadras e um playground.

De acordo com o titular da Seintrha (Secretaria de Infraestrutura, Transporte e Habitação), Semy Ferraz, a obra depende de aprovação do projeto pela Caixa Econômica. O banco não tem prazo para se manifestar. Depois do aval, ainda é necessário abrir licitação. Também não há previsão de ações emergenciais antes dessa obra. “Seria perder dinheiro”, diz o secretário.

Asfalto é marcado por retalhos de tapa-buraco. (Foto: Marcelo Calazans)
Asfalto é marcado por retalhos de tapa-buraco. (Foto: Marcelo Calazans)
Buraco em curva não intimida condutores, que passam em alta velocidade. (Foto: Marcelo Calazans)
Buraco em curva não intimida condutores, que passam em alta velocidade. (Foto: Marcelo Calazans)
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