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Capital

Rapidez, conforto e economia do transporte particular boicotam o "Dia Sem Carro”

Paula Vitorino | 22/09/2011 11:52

Falta de consciência é apontada como principal causa do boicote ao Dia; pequenas iniciativas, como ir à padaria perto de casa, são o começo

Dentro do veículo, motorista diz que não troca seu carro por nada. (Fotos: João Garrigó)
Dentro do veículo, motorista diz que não troca seu carro por nada. (Fotos: João Garrigó)

Deixar o carro ou moto em casa e optar por ir trabalhar utilizando algum dos transportes alternativos é algo raro, até impossível, pelo menos para a maioria dos condutores. Em Campo Grande o costume já parece “lei” e o reflexo pode ser visto mais nitidamente nesta quinta-feira (22), quando os motoristas são convidados a comemorar o Dia Mundial na Cidade Sem Meu Carro, mas as ruas continuam abarrotadas de veículos.

Também vale considerar que todos os motoristas que a reportagem conversou nesta manhã afirmaram não ter nem ao menos conhecimento de que hoje o movimento acontece em todo o mundo.

“Já ouvi fala desse Dia, mas não sabia que era hoje. Nem ouvi fala”, garante a aposentada Vera Mattiello, de 59 anos.

Mas quando a pergunta é sobre deixar o transporte particular por um alternativo, a resposta negativa é unanimidade. A maioria tem argumentos fortes, que vão desde a segurança, rapidez, economia até o conforto. Todos, ainda, garantem que alternariam o uso do transporte coletivo se este oferecesse as características citadas acima.

O contabilista Marcio da Silva, de 33 anos, anda pela cidade de motocicleta e explica que optou por comprar o veículo para economizar dinheiro e tempo.

Pelas contas de Marcio, o gasto em uma semana com combustível para pilotar a moto até o trabalho ou outros locais é de R$ 20. Se tivesse que pagar a passagem de ônibus teria que desembolsar R$ 50.

“É uma economia de R$ 30. Só deixaria meu veículo em casa se o transporte coletivo fosse mais barato e de qualidade, aí poderia alternar. E também não troco minha moto por um carro”, frisa.

A frota de veículos na Capital já beira os 400 mil para uma população de cerca de 800 mil, o que equivale a um veículo para cada duas pessoas. As motocicletas representam mais de 90 mil deste total, sendo o transporte considerado pelos órgãos de segurança com o maior número de vítimas em acidentes de trânsito.

São considerados meio de locomoção alternativa todos que contribuem para a fluidez do trânsito e menor emissão de poluentes – bicicleta, metro, ônibus e a pé.

De carro é melhor - O comerciante Antonio Fagiolo, de 79 anos, diz com toda certeza que não troca o seu carro por ônibus ou qualquer outro transporte alternativo pela agilidade que consegue utilizando o veículo particular.

“Com o carro eu vou mais rápido onde quero, se tivesse que pegar um ônibus ia demorar muito”, diz.

Ele conta que já usou muito o metro e ônibus no estado de São Paulo, mas há 30 anos, quando segundo ele o trânsito não era um caos. “Aquele tempo dava para usar. Se aqui o transporte público fosse bom quem sabe poderia alternar o uso”, diz.

Só duas quadras - Já a auxiliar de serviços gerais Derci de Assunção, de 43 anos, admite que às vezes deixa de caminhar algumas quadras para ter o conforto do carro. Hoje ela foi ao mercado a duas quadras do serviço a pé, mas conta que muitas vezes o motorista do serviço alivia o esforço das funcionárias e leva de carro para fazer as compras.

No entanto, ela afirma que nem sempre foi assim. Há alguns anos atrás quando não tinha carro a locomoção era feita a pé.

“Ia de a pé, bicicleta, a gente se virava, não tinha preguiça. Agora com o carro é raro deixar ele em casa para ir a pé”, confessa.

Aposentada garante que prefere independência de andar a pé.
Aposentada garante que prefere independência de andar a pé.

Independência e consciência andando a pé - “Coloco meu tênis e vou para todo quanto é lugar. Na minha casa tem três carros, dos meus filhos e marido, mas prefiro andar a pé”, garante a aposentada Vera.

Ela diz que não gosta de andar de ônibus porque não sente segurança no transporte da Capital e por isso seus pés são o melhor meio de transporte. “Em Porto Alegre você vê todo mundo pegando ônibus, executivo, trabalhador. Aqui o coletivo não tem qualidade, segurança”, frisa.

Vera também ensina que o desapego ao carro é uma questão de costume e o primeiro passo é ir aos locais perto de casa a pé. “Eu acho um absurdo ver vizinhas que vão à padaria que fica a duas quadras de carro. A pessoa tem que ter consciência, andar faz bem”, alerta.

Se fosse lei? - O motociclista Marcio admite que o único para fazer os motoristas trocarem o veículo particular é a medida virando lei.

Mas a chefe da Divisão de Educação para o Trânsito da Agetran (Agência Municipal de Transporte e Trânsito), Ivanise Rota, explica que a legislação não cabe ao trânsito da Capital, que segundo ela ainda não apresenta grandes entraves.

Ela frisa que o principal é seguir o conselho da aposentada Vera, e começar mudar a consciência em pequenos hábitos. “A pessoa tem que sentir bem em ir até a padaria a pé, em deixar o carro em casa, com a consciência de que está contribuindo para o bem do coletivo em que vive”, diz.

Para a educadora de trânsito, a adesão ao Dia Sem Carro ainda não muito grande na Capital porque os motoristas ainda não sentiram o caos nas ruas, como já acontece em grandes metrópoles. “Os motoristas só começam a dar importância a campanha quando sentem o problema”, frisa.

E o caminho para conscientizar a população e deixar o trânsito mais seguro é o investimento no transporte coletivo e campanhas como a desta quinta-feira.

“A população tem que ter pelo menos um dia para pensar, refletir sobre o problema e o governo tem que fazer sua parte nos investimentos do transporte”, frisa.

O Dia Mundial na Cidade Sem Meu Carro será comemorado na Capital com passeio ciclístico às 19h, saindo da Orla Morena e com a presença de autoridades. A programação por todo país pode ser conferiada no site:

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