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Capital

Sem fiscalização, estacionamentos de supermercados viram “terra sem lei”

Elverson Cardozo e Paula Maciulevicius | 26/09/2012 10:37
Tumulto em estacionamentos é cada vez mais comum. (Foto: Simão Nogueira)
Tumulto em estacionamentos é cada vez mais comum. (Foto: Simão Nogueira)

Motorista que ocupa duas vagas em vez de uma, que estaciona nos locais destinados aos deficientes físicos e idosos e aqueles que desrespeitam pedestres. Irregularidades cometidas no trânsito não são exclusividades das ruas e regiões mais movimentadas, pelo contrário. Sem fiscalização, os estacionamentos de supermercados acabaram virando “terra sem lei”.

Não é preciso muito tempo para flagrar situações de desrespeito como as descritas acima. A “cara de pau” chega a assustar. “Você é polícia?”, ironizou o condutor de um carro de luxo que, ao ocupar a vaga destinada aos idosos em um supermercado, foi abordado pela reportagem.

“Pode escrever que estou mesmo precisando de Ibope”, completou, para, no final, se negar a dizer o nome. “Estou esperando uma senhora que está ali no banco”, justificou outro senhor, que cometeu a mesma infração, mas, contradizendo o que havia dito, foi embora sozinho, sem a companhia da idosa.

Respostas e atitudes irresponsáveis como essas são comuns e às vezes terminam em bate-boca ou até mesmo agressão. A confirmação vem de alguém que conhece bem a rotina de um estacionamento de supermercado.

Há dois anos trabalhando como vigilante em um hipermercado Douglas Gonçalves Moura, de 24 anos, já perdeu as contas de quantas vezes abordou motoristas “engraçadinhos”.

Em quase todas ouviu respostas que provam o comportamento agressivo de alguns motoristas campo-grandenses. “Já teve caso de chamar polícia de trânsito aqui”, disse.

Motorista da Kombi estacionou na faixa amarela. (Foto: Simão Nogueira)
Motorista da Kombi estacionou na faixa amarela. (Foto: Simão Nogueira)
O outro, um idoso, parou na vaga de deficiente físico. (Foto: Simão Nogueira)
O outro, um idoso, parou na vaga de deficiente físico. (Foto: Simão Nogueira)

Em um deles, um adolescente, conduzindo o carro do pai, colidiu contra outro veículo. O mais recente foi a do jovem, acompanhado da namorada, que resolveu estacionar na vaga destinada aos idosos e, quando foi avisado, ainda quis discutir. “O pessoal parece bicho. É um desrespeito total”, desabafou.

A faixa de pedestre parece uma simples pintura de decoração e as vias parecem pistas de corrida, tamanho o desrespeito. Na “Quinta Verde”, dia de promoção”, é uma “Deus nos acuda”, declarou.

O gestor administrativo responsável pela área, Daniel Córdoba, de 31 anos, confirma o relato do vigilante e diz que a imprudência é preocupante. “O pessoal, ao entrar no estacionamento, parece que se esquece de todas as leis de trânsito”, afirmou.

“O pessoal parece bicho. É um desrespeito total”, comenta o vigilante Douglas Gonçalves. (Foto: Simão Nogueira)
“O pessoal parece bicho. É um desrespeito total”, comenta o vigilante Douglas Gonçalves. (Foto: Simão Nogueira)

Da central de gerenciamento de vídeos, instalada no prédio, funcionários monitoram o estacionamento do Comper, que tem aproximadamente 340 vagas. Se flagrarem alguma irregularidade, anotam a placa do carro tentam orientar os motoristas. Mas há situações em que o diálogo torna-se impossível. Neste caso, o cliente pode ser processado, explicou.

Para Douglas Gonçalves, o vigilante, falta fiscalização e o poder público poderia ajudar. A presença de agentes de trânsito no local facilitaria muita coisa, destacou. Mas a situação não é tão fácil de resolver.

Juiz aposentando, Jurandir Rodrigues Bastos, de 69 anos, explica que a lei não contempla fiscalização pública em área privada. “Aqui é assim mesmo, não tem como aplicar a lei”, ressaltou, ao dizer que “ninguém respeita nem na rua”.

Mesma opinião tem o aposentando Carlos Borges, de 80 anos, que enfrenta, todos os dias, transtornos no trânsito. “Simplesmente os jovens tomam o lugar dos idosos. Um dia eu fui conversar com uma mulher que estacionou na vaga de deficiente e ela me falou: Estou te incomodando?”, contou.

E o desrespeito se repete em outros cantos da cidade. Porteiro do Mercadão Municipal, Gelson de Arruda, de 30 anos, tem pouco mais de dois meses de trabalho, mas também “já viu de tudo”.

O aposentando Carlos Borges, de 80 anos, enfrenta transtornos todos os dias. (Foto: Simão Nogueira)
O aposentando Carlos Borges, de 80 anos, enfrenta transtornos todos os dias. (Foto: Simão Nogueira)

Ele fica na saída do estacionamento, onde recolhe os bilhetes dos motoristas. Condutor mal educado e irresponsável, afirmou, é o que não faltam. “Esses dias quase fui atropelado. Estava pegando o papelzinho e um senhor de moto trombou em mim”, contou.

Em outro ponta da cidade, também num supermercado, o estacionamento não foge à regra. Há 3 meses, Danubia Rocha Campos, de 29 anos, perdeu o controle da moto que pilotava, invadiu a porta de vidro do supermercado e arrancou um banco que fica no interior da loja.

O objeto acabou acertando uma funcionária, que sofreu luxação no tornozelo esquerdo. Danubia sofreu dois cortes profundos na perna direita. Ela teria se assustando com um carro forte que “apareceu” na sua frente.

Quem vê de fora afirma que o problema está ficando cada vez pior. Para Eunice Tanaka, de 64 anos, os motoristas precisam adotar uma nova postura no trânsito, que vai refletir nos estacionamentos.

A maioria dos condutores tem, sim, consciência sobre as regras, o problema é que não colocam em prática ou simplesmente ignoram, avaliou.

O que diz a Agetran - O chefe do Serviço de Fiscalização de Trânsito da Agetran, Carlos Guarini, explica que não cabe à Agetran fiscalizar dentro de estacionamentos de áreas particulares e o que pode ser feito, neste caso, é o setor de segurança dos estacionamentos pedirem ao órgão, orientação neste sentido.

“Nós podemos apoiar com palestra do setor de fiscalização de trânsito e fazer uma explanação geral para eles. Mas o cabe aos condutores, é que se respeite lá dentro como se respeita na rua às normas do Código Brasileiro de Trânsito. Não estacione em vagas preferenciais, respeite a faixa de pedestre e principalmente, a gentileza”.

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