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Capital

Sob pressão, motoristas buscam meio de aliviar e reduzir acidentes

Zana Zaidan | 11/07/2014 17:45
Encerramento do curso aconteceu hoje, após dois meses de capacitação (Foto: Marcelo Calazans)
Encerramento do curso aconteceu hoje, após dois meses de capacitação (Foto: Marcelo Calazans)
Motorista há 8 anos, Robson já foi assaltado e comenta "pressão" da profissão (Foto: Marcelo Calazans)
Motorista há 8 anos, Robson já foi assaltado e comenta "pressão" da profissão (Foto: Marcelo Calazans)

Trânsito lento e tumultuado, condutores e pedestres imprudentes, passageiros mal educados e impacientes e horários a serem cumpridos. Não são favoráveis as condições de trabalho de um motorista de ônibus do transporte coletivo de Campo Grande, dizem os próprios profissionais, fator que contribui significativamente para a incidência de acidentes fatais - somente neste ano foram quatro.

A pedido do consórcio Guaicurus - que detém a exclusividade do serviço na Capital - 960 motoristas do quadro passaram por dois meses de capacitação, oferecida pelo Sest/Senat (Serviço Nacional de Aprendizagem do Transporte). Foram aulas de direção defensiva, até o tratamento e postura na lida com os usuários, além de outros conceitos. O encerramento do curso aconteceu hoje (11).

“Nem sempre é fácil. Temos um horário a cumprir, a partir do momento que saímos do terminal, não pode atrasar, mas também não pode passar antes no próximo ponto, ou podemos ser punidos. Fora o compromisso com os passageiros, que também têm seus compromissos. É uma pressão e responsabilidade muito grande e, quando acontece um acidente, imagino que seja uma decepção tremenda, marca o motorista”, conta Robson Alves, 45 anos, sobre a rotina que segue há mais de 7 anos.

No currículo, um assalto a mão armada ao ônibus que dirigia no Jardim Botafogo, em 2007, logo que ingressou na profissão. “Era umas dez da noite, estava escuro na rua, fizeram sinal no ponto, parei. Era um gurizão novo, uns 18 anos. Apontou a arma na cabeça do cobrador, enquanto o amigo ficou me vigiando na porta. Depois fugiram com o dinheiro. Mas não me abalou. Na hora, dá medo, a gente não sabe qual vai ser a reação, mas no dia seguinte já estava trabalhando”, conta.

Instrutor comenta que motoristas de ônibus precisam de preparo diferenciado (Foto: Marcelo Calazans)
Instrutor comenta que motoristas de ônibus precisam de preparo diferenciado (Foto: Marcelo Calazans)
Gerente do consórcio Guaicurus diz que muitos motoristas precisam de tratamento psicológico depois de se envolver em acidentes (Foto: Marcelo Calazans)
Gerente do consórcio Guaicurus diz que muitos motoristas precisam de tratamento psicológico depois de se envolver em acidentes (Foto: Marcelo Calazans)

Abalo psicológico - Não é o que acontece com todos os profissionais que se envolvem em episódio que fogem da rotina de dirigir. Conforme o gerente operacional do Guaicurus, Carlos Lopes, apenas um dos quatro motoristas envolvidos nos acidentes com morte deste ano voltou a trabalhar – os outros estão afastados e sob acompanhamento psicológico e, em um dos casos o destino do funcionário não decidido, já que a ocorrência foi há dois dias.

“Em 90% dos casos constatamos que o motorista não foi o culpado pelo acidente. Temos câmeras em todos os carros, e ouvimos testemunhas que confirmam isso. Nos que aconteceram este ano, três sabemos que fatores externos causaram o acidente, e o último está em análise”, diz Lopes. Por “fatores externos”, ele refere-se à conduta do motorista do outro veículo envolvido.

“O que vemos no dia a dia é que as pessoas não têm muito respeito às leis de trânsito, atravessam fora da faixa de pedestre, não param em sinal vermelho, correm como se fossem tirar o pai da forca”, confirma Sebastião Alves Sales, 53 anos, motorista de ônibus 30.

Instrutor do Sest/Senat, Herivelto Moisés reforça que os profissionais da categoria trabalham sob forte stress e, por isso, precisam de preparo diferenciado. “Exige mais que de um motorista 'amador', precisa ter um preparo técnico para lidar com determinadas situações de emergência”, explica.

Mortes – De maio até hoje, foram quatro mortes no trânsito da Capital envolvendo veículos do transporte coletivo. No dia 16 de abril, Ivete Ferreira Santos, 70 anos, descia do ônibus, no bairro Coophatrabalho, pela porta traseira. Por estar lotado, além da rua mal iluminada, o motorista não a viu e saiu com o ônibus.

No dia 17 de junho, a moto de Geraldo de Souza da Silva, 46 anos, foi atingida por um ônibus que saía do terminal Julio de Castilhos. Ele estava em alta velocidade e furou o sinal vermelho. Uma semana depois, Valentim de Souza, 66 anos, foi atropelado no São Conrado, ao atravessar a rua sem olhar, conforme testemunhas. Na última quarta-feira (9), Deátrio da Silva, 63 anos, foi atingido também enquanto atravessava a rua, ao sair do terminal Coronel Antonino, no bairro de mesmo nome. O caso ainda está sendo apurado.

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