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Capital

Velozes e perigosos: álcool e direção são exibidos nas ruas e redes sociais

Aline dos Santos | 14/06/2012 14:37

Os que mais se envolvem em acidentes, também são os que mais menosprezam os riscos

No Facebook, jovem mostra foto de velocímetro marcando 170km/h.
No Facebook, jovem mostra foto de velocímetro marcando 170km/h.

Álcool e excesso de velocidade: a mistura que garante tragédias quase que diárias nas ruas de Campo Grande também faz sucesso na internet. Além das exibições no trânsito, os adeptos ao estilo “velozes e furiosos” fazem questão de mostrar os "feitos" nas redes sociais.

No perfil do Facebook, uma tarja de luto pelo amigo que se foi aos 23 anos em acidente na Afonso Pena, mas nas fotos, o mesmo jovem exibe imagem de um velocímetro, se gabando por ter atingido 170 km em um Gol 1.0 a caminho da praia. Em frente ao mar, novas fotos, dessa vez, consumindo cerveja.

Nos comentários das fotos, há quem critique, recomendando responsabilidade, mas também quem incentive e ache até graça.

Um passeio pela rede de amigos mostra que esse comportamento de culto à combinação que pode ser fatal é um traço comum.

Para a chefe de Educação para o Trânsito da Agetran (Agência Municipal de Transporte e Trânsito), Ivanise Rotta, o exibicionismo nas redes sociais faz parte da autoafirmação. “Quer mostrar poder, se exibir, mostrar que é melhor do que o outro, mais corajoso”, afirma.

Nos últimos 15 dias, a perigosa ligação de bebidas e “pé quente” no acelerador provocou três mortes na avenida Afonso Pena. Recapeada, e sinalizada, a principal via da cidade, registrou 66 acidentes no mês passado. Mais do que o triplo da avenida Mato Grosso, segunda colocada.

Ao todo, conforme dados do Detran/MS (Departamento Estadual de Trânsito), foram 1.016 acidentes em maio. A maioria dos condutores de veículos em acidentes com vítimas é homem, na faixa etária de 18 a 24 anos. Das 18 mil infrações de trânsito registradas no último mês, 7.234 foram por excesso de velocidade.

Os que mais se envolvem em acidentes, também são os que mais menosprezam o perigo. “Eles falam que quem morre no trânsito é mané, que não sabia beber”, relata Ivanise Rotta, ao reproduzir os comentários que ouve nas palestras destinadas aos jovens de 18 a 25 anos.

“Junta imaturidade e a redução do julgamento crítico, provocada pelo álcool. O jovem sai da balada já se sentindo poderoso e encontra o carro, que é um objeto de poder”, afirma o psiquiatra Marcos Estevão Moura.

Sem noção - Ele defende tolerância zero, ou seja, que nenhum percentual de álcool seja aceito no organismo do condutor de veículo. Segundo ele, não existe um padrão matemático. Desta forma, uma pessoa que ingeriu pouca bebida já pode apresentar sinais de embriaguez. “Quem não está acostumado a beber pode ter sinais com uma quantidade pequena. Já tem alteração no julgamento crítico”, afirma Marcos Estevão.

Em média, o álcool leva 30 minutos para se espalhar pelo organismo e pelo menos seis horas para ser excretado. “Ele é metabolizado pelo fígado, onde uma enzima tira a parte mais danosa, mais nociva”, explica. A outra parte vai comprometendo a coordenação motora, diminuindo os reflexos e dificultando a fala, que se torna pastosa. Os próximos estágios chegam para quem consumiu muito álcool, com a confusão mental e coma alcoólico.

“Vem a alteração do julgamento crítico. Eu acho que posso correr mais um pouco. Fazer uma ultrapassagem que não faria se estivesse sóbrio”, diz o psiquiatra.

Protagonistas – Em 31 de maio, o estudante de Direito Richard ldivan Gomide Lima, de 21 anos, provocou a morte de Davi Del Valle Antunes, 31 anos, em acidente de trânsito. A moto estava parada no semáforo quando foi atingida pelo Punto, que estava a 83 km/h e furou o sinal, vermelho há sete segundos.

O condutor se recusou a fazer teste do bafômetro, mas foi registrado um termo de embriaguez. Conforme os policiais que atenderam a ocorrência, o jovem apresentava forte odor de álcool, além da voz pastosa e embargada. Richard foi preso por homicídio doloso, por assumir o risco de matar.

Na mesma semana, Israel Gomes Charão, de 28 anos, morreu em um acidente envolvendo o Astra que conduzia e uma moto. Após a colisão, o motorista acabou se chocando contra um semáforo. Ele morreu no local e três pessoas ficaram feridas.

No último dia 8, Luiz Henrique Maffissoni Pinha, de 23 anos, faleceu horas depois de perder o controle de uma Dodge Ram, subir canteiro da avenida Afonso Pena e derrubar um poste de iluminação. Em 2010, Luiz Henrique havia tido a CNH (Carteira Nacional de Habilitação) suspensa por 13 meses por dirigir embriagado e furar bloqueio policial.

Na caminhonete uma caixa de som com amplificador. Equipamento similar ao que caiu ontem de uma caminhonete L-200, que tombou em frente ao Cetremi (Centro de Triagem e Encaminhamento ao Migrante), no Parque dos Poderes.

Doze por quatro – Neste ano, 48 pessoas morreram no trânsito de Campo Grande. Curiosamente, o número segue uma sequencia trágica. A cada mês, são 12 ou quatro mortes. Em janeiro, foram 12 óbitos, em fevereiro, quatro. Em março, o trânsito matou 12 pessoas. Em abril, o número reduziu para quatro. Em maio, voltou a aumentar para 12. Em junho, até hoje, quatro pessoas perderam a vida em acidentes.

“O basta para esses acidentes que poderiam ser evitados depende de uma mudança de cultura. Não é um projeto, mas um processo de vida no trânsito. Afinal, ninguém quer morrer ou matar no trânsito”, salienta Ivanise Rotta.

Imagem que marcou nos últimos dias: caminhonete capotada na avenida Afonso Pena, após derrubar poste. O impacto foi tanto que parte do sistema de som foi parar longe. (Foto: Simão Nogueira)
Imagem que marcou nos últimos dias: caminhonete capotada na avenida Afonso Pena, após derrubar poste. O impacto foi tanto que parte do sistema de som foi parar longe. (Foto: Simão Nogueira)
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