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Cidades

Após 8 anos tentando vaga pública, José só conseguiu pagar Medicina no Paraguai

José Eduardo teria que pagar mais de 60 mil por semestre em MS, mas agora a graduação sai 1.800 ao mês no Paraguai

Aline dos Santos | 06/08/2020 15:36
José Eduardo é de Campo Grande e foi estudar Medicina em Pedro Juan Caballero. (Foto: Arquivo Pessoal)
José Eduardo é de Campo Grande e foi estudar Medicina em Pedro Juan Caballero. (Foto: Arquivo Pessoal)

O Mapa do Ensino Superior no Brasil mostra que Medicina é o segundo curso mais buscado na internet, mas cursar a graduação exige tanto dinheiro quanto dedicação aos estudos.

O curso é em período integral (tanto na pública quanto na privada), o que por si só já repele quem precisa trabalhar em expediente comercial, e custa tão caro em Campo Grande que a opção de muitos tem sido estudar a 300 quilômetros de casa.

Em Pedro Juan Caballero, no Paraguai, gastos com mensalidade, moradia e alimentação não chegam a 50% do que precisariam pagar por mês em universidade particular.

A jornada de José Eduardo Ramos de Carvalho, 32 anos, retrata a dificuldade do ingresso e, principalmente, de se manter no curso de Medicina.

“Fiz cursinho [pré-vestibular] em metade de 2010, em 2011 e em 2012. Como não ingressei, acabei indo fazer Farmácia. Segui estudado, mas sempre batendo na trave. Sempre faltavam aqueles por centos que exigiam mais dois, três anos de estudos porque a concorrência é gigante”, conta.

Quando finalmente conseguiu, a aprovação em Medicina veio em universidade particular, com mensalidade em torno de R$ 10 mil por mês. o que exigiu que recorresse ao Fies (Fundo de Financiamento Estudantil) , um empréstimo para começar a pagar o curso 18 meses depois de formado.

O financiamento foi de 100%, mas como muitos ficavam inadimplentes com o governo, foi definido um teto por semestre, que ia de R$ 30 mil a R$ 50 mil. “A instituição privada acatou o teto de R$ 30 mil. Muitos desistiram. É triste, lamentável mais foi isso”, afirma José Eduardo.

O custo do semestre era de R$ 60 mil, com o empréstimo arcando com metade do valor, ainda restavam R$ 30 mil a ser pago. Mesmo diluídos em seis meses, era equivalente a R$ 5 mil por mês. Em valores atuais, por exemplo, R$ 5 mil correspondem a 4,7 salários mínimos.

“A classe tinha a parte bem abastada e o time Fies. Tinha rico, pobre, branco, negro, mas dentro das proporções e do contexto histórico. Mas, em resumo, era o pessoal que tinha mais dinheiro. Pessoas que já saíram de ótimos cursinhos”, afirma.

Com as finanças estranguladas pela realidade, em 2018 ele foi buscar o sonho de criança em Pedro Juan Caballero, na fronteira com Ponta Porã. “Desde criança tinha o sonho de cuidar do próximo. É uma profissão pela qual criei gosto, paixão, amor”, afirma.


Em janeiro, faculdade de Medicina, localizada na fronteira com Ponta Porã, tinha obra de ampliação. (Foto: Marcos Maluf)
Em janeiro, faculdade de Medicina, localizada na fronteira com Ponta Porã, tinha obra de ampliação. (Foto: Marcos Maluf)

Para estudar na cidade paraguaia, ele paga mensalidade de dois milhões e 100 mil guaranis. Vertido para o Real, o valor varia de R$ 1.750 a R$ 1.850 por mês. Com aluguel de imóvel em Ponta Porã e alimentação, gasta mais R$ 1.500. Ou seja, gasto mensal inferior a R$ 3.500.

“Morar em Pedro Juan é até mais barato, mas a energia lá cai bastante e a internet oscila demais”, afirma.

Sobre o fato de estudar no Paraguai, José Eduardo avalia que questionamentos sobre a qualidade faz parte da tradição de preconceito dos brasileiros em relação ao País vizinho.  “O modelo é muito bom. Já fiz federal, particular. O nível cobrado lá é tão alto quanto cobrado aqui”, afirma.

Com a pandemia do novo coronavírus, as aulas teóricas são a distância, com desconto de 25% concedido pela instituição de ensino.

De acordo com a edição 2019 do Mapa do Ensino Superior no Brasil, o valor médio da mensalidade para quem cursa Medicina em instituição particular é de R$ 8.775. Em Mato Grosso do Sul, esse valor supera R$ 10 mil.

A estimativa é de que 15 mil estudantes estão matriculados em oito faculdades de Medicina de Pedro Juan Caballero.

Fronteira entre Pedro Juan Caballero e Ponta Porã. (Foto: Marcos Maluf)
Fronteira entre Pedro Juan Caballero e Ponta Porã. (Foto: Marcos Maluf)

Como ingressar - Para estudar nas universidades paraguaias, a documentação é simples. O estudante só precisa estar em dia com os documentos pessoais, histórico escola e documentos de imigração.

A regulamentação é feita no consulado do Paraguai em Campo Grande, ou qualquer outra capital do Brasil.

Não há vestibular para ingresso. Qualquer estudante que queira frequentar pode fazer matrícula, mas elas são limitadas. Então, há fila de espera. Quem já fez algum curso na área de saúde, entra logo no 1º ano. Já os estudantes que acabam de sair do Ensino Médio, precisam fazer o chamado "curso de nivelação", que dura entre 1 e 2 meses, depende da instituição.

No Paraguai, a quantidade de horas aula é superior ao Brasil. A média é de 1.500 horas a mais. O curso tem duração de 5 anos, mais 10 meses de "internato", dois deles para cada especialidade médica, como clinica médica, ginecologia e obstetrícia, pediatria, clínica cirúrgica e até estágio rural, que seria em unidade básica de saúde. Depois dos 6 anos concluídos, vem a residência médica, assim como no Brasil, o que pode levar de 2 a 5 anos, dependendo da área escolhida.

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