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Capital

“Meu negócio é Jesus”, diz acusado em execução do “tribunal do crime”

Mackson Ferreira dos Santos e Wellington Felipe dos Santos Silva são julgados pelo Tribunal do Júri na manhã desta quarta-feira (1

Izabela Sanchez e Clayton Neves | 11/09/2019 10:10
Mackson Ferreira dos Santos negou envolvimento e disse: "meu negócio é Jesus Cristo" (Foto: Clayton Neves)
Mackson Ferreira dos Santos negou envolvimento e disse: "meu negócio é Jesus Cristo" (Foto: Clayton Neves)

Wellington Felipe dos Santos Silva e Mackson Ferreira dos Santos julgados, na manhã desta quarta-feira (11), por envolvimento na execução de John Hudson dos Santos Marquesa, conhecido como "John John", alegaram ao júri que não estava em Campo Grande entre os dias 13 e 14 de fevereiro, quando o crime ocorreu.

Wellington chegou a declarar que havia fugido ao Paraguai no dia 14 após furtar uma agência bancária do Sicredi na Avenida Bandeirantes na madrugada do dia 13. Já Mackson declarou que estava em Nova Alvorada do Sul, a 120 km de Campo Grande, “trabalhando e vendendo tapetes”.

Mackson tem 27 anos e é acusado de ceder o barraco onde vive no Jardim Canguru – uma área de ocupação irregular – para que John fosse julgado e torturado. O “julgamento” realizado por membros do PCC (Primeiro Comando da Capital) teria ocorrido por videoconferência realizada por presos pertencentes à facção, alojados no Presídio de Segurança Máxima em Campo Grande. John, segundo a investigação, era membro da organização rival, o Comando Vermelho.

Mackson negou qualquer participação e disse que estava em Nova Alvorada do Sul, mas não apresentou, ao longo do processo, nenhuma prova ou testemunha que pudesse confirmar o álibi declarado. “Não tenho coragem de fazer isso nem com bicho”, disse, perante o júri. “Jamais teria coragem de fazer isso com um ser humano”.

O acusado ainda disse não “saber realmente” se o julgamento ocorreu em sua casa e que “se ocorreu, ocorreu sem ele saber”. Declarou que a casa “tem acesso fácil, sem trava na porta e sem cerca no quintal”. “Quando cheguei e encontrei a casa revirada, um vizinho disse que a polícia tinha ido lá e prendido três pessoas”, afirmou.

“Meu negócio é Jesus Cristo” - Ele disse ter permanecido por, aproximadamente, um mês em Nova Alvorada do Sul sem dinheiro ou celular. “Fiquei admirado quando soube da denúncia. Não fui eu, sou trabalhador, meu único defeito era usar minha droga e beber minha cerveja de vez em quando, nunca tive arma. Meu negócio é Jesus Cristo, o senhor é meu pastor e nada me faltará, ele me fortalece”, alegou.

Fuga para o Paraguai – Wellington, por sua vez, é acusado de conduzir e transportar a vítima até a casa onde foi “julgada” e depois levar John para ser decapitado em uma estrada vicinal na saída para Terenos. Ele também negou o crime. Disse que na madrugada do dia 13, às 1h, furtou uma agência do Sicredi na Avenida Bandeirantes e que no dia seguinte fugiu de ônibus para o Paraguai.

Wellington declarou não conhecer a vítima. A alegação do furto já foi alvo de processo judicial e o acusado foi condenado pelo furto, mas segundo os autos, o furto teria ocorrido em horário diferente do que alega Wellington, 6h. No Paraguai, disse ele, “foi preso durante uma abordagem de rotina da polícia paraguaia” e foi “levado para delegacia de Ponta Porã”.

Em Campo Grande, disse, ficou preso “entre 20 e 23 dias no Garras [Delegacia Especializada de Repressão a Roubos a Banco, Assaltos e Sequestros]”, onde afirma ter sido torturado com agressões físicas, choques e uso de saco plástico na cabeça. Todos os dias, alegou, foi interrogado pelos policiais, “além de ter assinado documentos que não leu”.

Wellington foi, então, transferido para o pavilhão 6 da Penitenciária de Segurança Máxima, local que abriga presos que apresentam conflitos com o PCC. O problema que tem com a facção, alegou o acusado, “envolve uma briga por mulher”.

Wellington Felipe dos Santos Silva julgado nesta manhã por envolvimento com o "tribunal do crime" (Foto: Clayton Neves)
Wellington Felipe dos Santos Silva julgado nesta manhã por envolvimento com o "tribunal do crime" (Foto: Clayton Neves)

Crime – Wellington e Mackson figuram entre os setes acusados de envolvimento na decapitação de John Hudson dos Santos Marquesa, o “John John", após submetê-lo a sessão de tortura do “tribunal do crime”. Jhon foi visto pela última vez às 0h30 do dia 14 de fevereiro quando saiu para fumar um cigarro em frente à casa onde vivia, no Bairro Zé Pereira. Desde então, amigos e familiares mobilizaram as redes sociais em busca de notícias sobre o jovem.

Durante as buscas, uma foto do corpo de John, decapitado, foi enviada para a família e o caso passou a ser investigado pela DEH (Delegacia Especializada de Repressão aos Crimes de Homicídios). O crime teria ocorrido porque a vítima pertencia ao Comando Vermelho, facção rival ao PCC, do qual os suspeitos fariam parte.

Segundo as investigações, depois de sequestrado pelos autores, John foi mantido em cárcere privado em um barraco localizado no Jardim Canguru. Após passar por julgamento, foi decapitado em uma estrada vicinal. Os autores foram identificados como Gabriel Rondon da Silva, Tiago Rodrigues de Souza, Wellington Felipe dos Santos Silva, Leonardo Caio dos Santos Costa, Mackson Ferreira dos Santos, Maycon Ferreira dos Santos e Eloinai Oliveira Emiliano.

Leonardo Caio dos Santos Costa e Welington Felipe dos Santos Silva foram presos por tráfico de drogas no município paraguaio de Caacupé. Na data, os dois suspeitos foram presos com outros quatro brasileiros. O grupo foi expulso do Paraguai e deportado para Mato Grosso do Sul.

Já Gabriel Rondon da Silva foi encontrado e preso no dia 9 de março, em frente à uma casa usada como esconderijo no Jardim Aero Rancho, em Campo Grande. Ele ainda “entregou” Maycon Ferreira dos Santos, Igor Antonio Santos Lima e Renata Palmeira dos Santos por envolvimento no crime.

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