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Capital

"Só Deus julga", desabafa mãe com dois filhos vítimas de júri de facção

Daniele Pacheco denunciou à polícia o desaparecimento de Maykel, de 19 anos, depois de receber recado de que está morto

Marta Ferreira e Viviane Oliveira | 09/12/2019 13:31
A mãe de Maykel, desaparecido desde quinta-feira passada, mostra o celular em que recebeu mensagem falando sobre "tribuinal do júri" do PCC. (Foto: Marcos Maluf)
A mãe de Maykel, desaparecido desde quinta-feira passada, mostra o celular em que recebeu mensagem falando sobre "tribuinal do júri" do PCC. (Foto: Marcos Maluf)

“Não tem cabimento, quem julga é Deus”. A afirmação é da mulher de aparência frágil, de 36 anos, que, em menos de um ano, vê o segundo filho vítima da ação das facções criminosas e seu “tribunal do crime”.

Nove meses atrás, Daniele Martins Pacheco, de 36 anos, morava em Rondonópolis (MT) quando o filho mais velho, Igor, 20 anos, foi encontrado morto na cela de presídio local. A investigação, segundo ela, indicou suicídio simulado pela facção CV (Comando Vermelho), em represália ao fato de o filho ser do grupo criminoso inimigo, o PCC (Primeiro Comando da Capital). Agora, é o mais jovem, Maikel, 19 anos, desaparecido em Campo Grande desde quinta-feira (5) e, para a polícia, alvo do justiçamento do PCC por ser “simpatizante” da facção rival.

A situação chegou ao absurdo de ser enviado, pela namorada do jovem, um recado para a mãe de que ele havia sido morto pelos integrantes do PCC. A jovem, segundo o relato da mulher, chegou a perguntar se ela queria uma foto. Sem saber se o rapaz estava “vivo ou morto”, ela conta ter preferido não ver a foto.

Isso foi na quinta-feira. No dia seguinte, relata, quando foi registrar boletim de ocorrência do desaparecimento do filho, a namorada não quis mais passar a imagem. Depois, teria feito novo contato pedindo “notícias”.

Daniele admite que o filho “fazia coisa errada”. Vendia droga na região do Jardim Nhá-Nhá e do Jockey Clube, para onde havia se mudado há um mês, diz a mãe, para morar com a viúva do irmão.

Mas, segundo a mulher, ele nunca falado de participação em facções criminosas tampouco de ameaças recebidas. Ela afirma ser estranho que um filho tenha sido apontado como integrante de um grupo criminoso e o outro justamente do rival.

A Polícia Civil está procurando Maykel Martis Pacheco, 19 anos, e já trabalha com a possibilidade de encontrar apenas o corpo. Quatro pessoas já estão presas pelo crime. Daniele se diz aliviada em saber que pelo menos há gente sendo responsabilizada, mas mantém a esperança de o filho estar vivo. 

A mãe pede ajuda. Implora que se alguém tiver informação, que denuncie à polícia. Afirma já ter sido confrontada com a pergunta sobre medo de ser também alvo de ameaças e o conselho de Deixar Campo Grande.

Responde convicta: “Não vou sair daqui enquanto não encontrar meu filho”.

Os dois filhos de Daniele: Igor, à esquerda, morreu nove meses atrás. Maykel está desaparecido. (Foto: Arquivo pessoal)
Os dois filhos de Daniele: Igor, à esquerda, morreu nove meses atrás. Maykel está desaparecido. (Foto: Arquivo pessoal)

Segundo caso – Segundo ela, o mais velho, Igor Martins Rocha, cumpria pena por roubo em Rondonópolis para onde a família havia, 4 anos atrás. Nove meses atrás foi achado enforcado e a investigação, segundo Daniele, identificou assassinato.

Cinco meses atrás, ela decidiu voltar para Campo Grande, afirma. “Voltei para esquecer isso [a morte do filho], embora não tenha como esquecer”. O outro filho tinha vindo antes.

Ela comenta que Maikel desapareceu depois de sair de casa para ir à casa da namorada. Inicialmente, relata, o telefone do filho recebia mensagens de Whatsapp e aparecia como visualizado. Agora, nem isso. As ligações sempre dão na caixa de mensagem.

“Eu estou perdida, ao mesmo que eu acho que ele está vivo, eu acho que ele está morto”, desabafa.
No meio da conversa, diz que já tinha ouvido falar disso de julgamento, mas não acreditava. Daí vem a afirmação de teor religioso. “Quem julga é Deus”.

Na conversa com a reportagem, Daniele não citou que ela mesma já teve problemas com a Justiça. A consulta ao site da Justiça Estadual mostra que ela foi processada e já cumpriu pena no Estabelecimento Penal Feminino Irmã Irma Zorzi, em Campo Grande. Constam dois processos, um por furto e outro por tráfico de drogas.

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