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Capital

No Nova Lima, moradores saem sem celular e lojas investem em câmeras

Segundo os relatos, criminosos não se intimidam de agir em plena luz do dia e costumam abordar as vítimas em locais ermos

Maressa Mendonça* | 25/01/2020 09:33
Moradoras do bairro Nova Lima conversam sobre insegurança no bairro (Foto: Paulo Francis)
Moradoras do bairro Nova Lima conversam sobre insegurança no bairro (Foto: Paulo Francis)

Invasão de casas e lojas, assaltos em pontos de ônibus e abordagens violentas de ladrões nas ruas do Nova Lima, bairro da região norte de Campo Grande, têm se tornado rotina. Os moradores tentam escapar construindo muros mais altos ou deixando celulares e outros pertences em casa enquanto comerciantes investem em grades e câmeras de segurança.

No quadrilátero da Avenida Bartolino Cândido com as Ruas Nefe Pael, Monte Alegre e Celina Baís Martins é difícil encontrar morador que não tenha sido roubado ou furtado.

É o caso da aposentada de 69 anos. Ela pediu para não ter o nome divulgado, mas os momentos de tensão vividos nestes 17 anos em que mora no bairro. “Já fui roubada umas três vezes”.

O último “susto” foi na terça-feira enquanto ela fazia crochê na varanda de casa e foi surpreendida por ladrão que pulou o muro e a segurou pelo pescoço.

Ele invadiu a moradia em busca de objetos de valor e fugiu levando o celular da vítima. “Tentei ligar para a polícia, mas não conseguia digitar o número “de nervoso. Eu até hoje não estou bem”, diz. Um vizinho auxiliou a idosa, mas o criminoso não foi localizado.

No dia seguinte outra vizinha de 38 anos foi roubada enquanto estava a caminho do shopping para pagar contas. O ladrão, que estava armado com faca ordenou que a dona de casa entregasse bolsa, celulares e dinheiro. Ele se escondeu em matagal nas proximidades e foi localizado pela Polícia Militar. Segundo eles, o criminoso é menor de idade.

De um lado adolescentes cometendo crimes e do outro sendo vítimas. É o caso de Bruna Silva, de 19 anos, assaltada quanto tinha 17 anos e estava a caminho da escola. “Foi coisa de segundo. Colocou a faca na minha barriga e pegou o celular. É chato sair de casa sem saber se vai voltar com o que é seu”, diz.

A mãe de Bruna, a dona de casa Maria Aparecida, de 38 anos, conta que depois desse episódio evita ao máximo sair de casa com celular e até com os documentos pessoais originais. “Fiz cópia de tudo. Deixo a bolsa, carteira, celular, tudo em casa”.

Mas isto não é sinônimo de segurança porque o interesse dos ladrões não está só nos celulares ou eletrodomésticos da casa. “Levaram a minha lixeira”, conta Maria que lembra ter visto também um homem carregando os vasos de orquídea da vizinha e só depois entendeu que se tratava de mais um roubo.

Quando a dona de casa Josita Ramona Silva, de 58 anos, teve a casa invadida “até a mistura levaram”, diz. “Roubaram meu botijão de gás, minha batedeira, a mistura, os temperos, tudo. A gente brinca, mas é sério”, diz.

Moradora aponta para muro usado como "escada" para ladrão invadir casa (Foto: Paulo Francis)
Moradora aponta para muro usado como "escada" para ladrão invadir casa (Foto: Paulo Francis)
A dona de casa Josita Ramona Silva também teve a casa invadida por criminosos (Foto: Paulo Francis)
A dona de casa Josita Ramona Silva também teve a casa invadida por criminosos (Foto: Paulo Francis)

Comércio - Os empresários e comerciantes também sofrem com a situação, conforme explica Michel Mello. Ele aluga estabelecimentos para duas igrejas localizadas na Avenida Gualter Barbosa e conta que os dois locais já foram invadidos.

De uma das igrejas, os ladrões levaram cestas básicas que estavam sendo arrecadas e seriam distribuídas para a comunidade carente da região. De outra, foram os fios de cobre.
“É um prejuízo muito grande”, lamenta.

Na mesma avenida teve proprietário de ótica, de farmácia e loja de materiais de construção roubados. “Os comerciantes investem em blindex para o estabelecimento ficar bonito, mas depois precisam colocar grades”, comenta o também empresário Michel Mello Júnior.

Um centro comercial ainda em construção na mesma avenida também já foi invadido. Os criminosos levaram os motores das betoneiras e os empresários decidiram então instalar câmeras de segurança, antes mesmo da inauguração. “É para monitorar a obra”, dizem.

Trabalhador coloca grade para tentar impedir furto de medidor de energia e de fios de cobre (Foto: Paulo Francis)
Trabalhador coloca grade para tentar impedir furto de medidor de energia e de fios de cobre (Foto: Paulo Francis)
Câmera de segurança foi instalada antes do término da obra (Foto: Paulo Francis)
Câmera de segurança foi instalada antes do término da obra (Foto: Paulo Francis)

Policiamento - Tanto os moradores quanto os comerciantes reclamam da falta de policiamento na região, apesar de haver um posto da Polícia Militar no bairro.

O subcomandante da 11ª Companhia Independente de Polícia Militar da região do Segredo, capitão Antunes, confirma que “furtos, roubos, violência doméstica e perturbação do sossego são os crimes que mais acontecem na região” e diz que há um monitoramento da situação com base “nos registros dos moradores para ter informações exatas e fazer operações e abordagens”.

Segundo ele, vias onde passam os ônibus e os estabelecimentos comerciais são, sim, os locais mais visados pelos criminosos. No primeiro caso, porque há maior concentração de pessoas e no segundo pela maior probabilidade de eles encontrarem dinheiro. A PM orienta os moradores a sempre registrarem boletins de ocorrência.

Em se tratando dos crimes no quadrilátero da Avenida Bartolino Cândido, os moradores atribuem também aos terrenos abandonados na região. Isto porque o matagal se torna esconderijo para os criminosos.

Terreno Baldio

De acordo com a Semadur (Secretaria Municipal do Meio Ambiente e Gestão Urbana), as denúncias relacionadas a terreno baldio devem ser formalizadas junto ao Disque Denúncia 156 para que a fiscalização seja acionada e efetue a vistoria no local. 

Uma vez identificado o imóvel/lote urbano baldio sem a devida manutenção o proprietário é notificado para realizar a limpeza num período de 15 dias.

Transcorrido o prazo, o fiscal da Semadur retorna ao local para vistoria, caso não tenha sido cumprida a notificação, o proprietário é multado em valores que variam de R$ 2.339,00 a R$ 9.356,00. Em 2019 foram emitidas 8.989 notificações para limpeza de terrenos. 

*Colaborou Aletheya Alves

Terreno baldio no quadrilátero da Avenida Bartolino Cândido com as Ruas Nefe Pael, Monte Alegre e Celina Baís Martins é usado como esconderijo por criminosos (Foto: Paulo Francis)
Terreno baldio no quadrilátero da Avenida Bartolino Cândido com as Ruas Nefe Pael, Monte Alegre e Celina Baís Martins é usado como esconderijo por criminosos (Foto: Paulo Francis)
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