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Esportes

Russos e brasileiros, diferenças e semelhanças entre dois países

A Rússia preserva sua história, tem orgulho do passado, e avança, o Brasil renega sua história, só fala em futuro, e anda para trás

Paulo Nonato de Souza | 15/07/2018 11:31
Em rua esburacada na região central de Moscou, motorista deixou o carro estacionado no sentido contrário da via (Foto: Paulo Nonato de Souza)
Em rua esburacada na região central de Moscou, motorista deixou o carro estacionado no sentido contrário da via (Foto: Paulo Nonato de Souza)

A Copa do Mundo na Rússia chega ao seu final neste domingo com o confronto inédito na história do mundial da Fifa, entre França e Croácia, às 11h (no horário de Mato Grosso do Sul), e volto para o Brasil com a certeza de que russos e brasileiros têm suas peculiaridades e semelhanças, apesar dos contrastes históricos na política e na economia dos dois países.

Desde a minha chegada na Rússia para a cobertura da Copa do Mundo, no dia 11 de junho, cruzei o país anfitrião do Mundial de 2018 acompanhando a Seleção Brasileira desde Rostov on Don, no sul, depois São Petersburgo, Moscou, Samara e Kazan.

Sem o vício do maniqueismo muito em moda entre os brasileiros, em cada uma dessas cidades pude ver afinidades e diferenças entre Brasil e Rússia. Na comparação, vi um país que preserva sua história e se orgulha do seu passado, e avança em setores importantes como saúde, educação, transporte e comunicação, a Rússia, diante de outro que renega sua história e seu passado, só fala em futuro, e cada vez mais anda para trás, o Brasil.

Mesmo assim há muito em comum entre os dois países. Por exemplo, tal qual no Brasil, na Rússia o respeito às vagas de estacionamento destinadas aos idosos e portadores de deficiência física ou visual em vias públicas e estabelecimentos comerciais, também são motivos de polêmicas, disputas e até de multas, nem sempre pagas pelo infrator.

“Aqui na Rússia há uma lei que exige espaços de estacionamento para idosos e deficientes físicos, mas as pessoas não obedecem, são multadas e não pagam, há protestos de quem defende o cumprimento da lei, e nada acontece”, disse o paulista Paulo Auricchio, que há 10 anos vive em Rostov on Don, referindo-se à lei federal em vigor desde 24 de novembro de 1995. Suas palavras soam como se estivesse falando do Brasil.

Vagas ocupadas em estacionamento de estabelecimento comercial, mas a maioria dos veículos não era de deficientes
Vagas ocupadas em estacionamento de estabelecimento comercial, mas a maioria dos veículos não era de deficientes
Em Moscou, conversão em lugar proibido. Outra semelhança com a postura dos brasileiros (Foto: Paulo Nonato de Souza)
Em Moscou, conversão em lugar proibido. Outra semelhança com a postura dos brasileiros (Foto: Paulo Nonato de Souza)

Conversões proibidas - Ainda no trânsito, mesmo com a presença constante e abundante da polícia especializada, circulando em seus veículos azuis, em Moscou vi vários motoristas fazendo conversões em lugares proibidos. No bairro Meshchansky, próximo da estação de metrô Dostoyevskaya, em uma via esburacada (outra semelhança), um Audi vermelho foi estacionado no sentido contrário da rua.

Desconfiança sobre o caráter alheio é outra afinidade entre russos e brasileiros. Lá como cá, à primeira vista ninguém é digno o bastante para merecer confiança, e todo mundo é visto como um suspeito em potencial.

Por exemplo, na hora de pagar a conta no caixa de supermercados ou lojas, também na Rússia o cliente tem que passar pelo constrangimento de esperar a análise da cédula para verificação se o dinheiro é falso ou verdadeiro.

Alma socialista - Fora isso, apesar do capitalismo cada vez mais forte a partir de 1991 após o fim da União Soviética, que inclui até banheiros públicos politicamente corretos, mas com o uso a um custo de 50 rublos (R$ 3), a Rússia ainda tem alma do período socialista, que a induz à preocupação com igualdade, altruísmo e respeito às instituições, e nisso não há nada em que o Brasil possa se enquadrar.

Na Rússia, o povo preserva alguns costumes consuetudinários de fazer inveja, como o jovem se levantar em um ônibus ou no metrô para uma pessoa mais velha se sentar. Pude ver isso seguidas vezes em todas as cidades russas por onde andei ao longo da Copa do Mundo.

“Não creio que isso tenha a ver com educação formal que se ensina nas escolas, mas com os costumes do povo russo. Não seria um gesto ilegal porque não há lei que exige isso, mas os mais jovens se levantam para ceder seu lugar aos mais velhos”, disse a goiana Letícia Avelina, de 24 anos, há três anos estudando medicina na Universidade Federal do Sul, em Rostov on Don.

A brasileira Letícia Avelino, à esquerda, com a colombiana Laura Garzón e o guatemalteco Alonso Maldonado, também estudantes de medicina em Rostov on Don (Foto: Paulo Nonato de Souza)
A brasileira Letícia Avelino, à esquerda, com a colombiana Laura Garzón e o guatemalteco Alonso Maldonado, também estudantes de medicina em Rostov on Don (Foto: Paulo Nonato de Souza)
Banheiro público com opção para deficientes físicos e o uso a um custo de R$ 3 (Foto: Paulo Nonato de Souza)
Banheiro público com opção para deficientes físicos e o uso a um custo de R$ 3 (Foto: Paulo Nonato de Souza)

A autoridade, o professor - Segundo ela, visitar uma família russa e entrar na casa de sapatos é um ato visto como falta de respeito, e na sala de aula o aluno tem que se levantar quando o professor chega. “Não estou falando de escola primária. Na faculdade onde estudo também é assim. O professor é uma autoridade e tem que ser respeitada”, frisou Letícia.

Isto sinaliza que para os russos a “questão da educação”, termo tão em moda entre os brasileiros há décadas, e um problema sem perspectiva de solução, vai muito além de números e indicadores educacionais, sociais, demográficos ou coisa do tipo.

O Campo Grande News esteve na Universidade Federal do Sul. A instituição mantida pelo governo tem 6.179 alunos, todos de medicina nas mais variadas especialidades, vindos de várias partes do mundo.

“Já tivemos alunos de mais de 120 países, e antes de ser admitido o aluno tem que passar por uma fase preparatória, que inclui o estudo do idioma russo. Anualmente admitimos 110 alunos estrangeiros”, disse a reitora Irina Anatolevna.

Na Universidade Federal do Sul, em Rostov, a brasileira Letícia Avelino, foi a tradutora na entrevista com a reitora Irina Anatolevka e a vice-reitora Elena Sergebna (Foto: Paulo Nonato de Souzsa)
Na Universidade Federal do Sul, em Rostov, a brasileira Letícia Avelino, foi a tradutora na entrevista com a reitora Irina Anatolevka e a vice-reitora Elena Sergebna (Foto: Paulo Nonato de Souzsa)

Na Rússia, os números e indicadores educacionais são altamente expressivos. Tem apenas 0,6% de analfabetismo, ou seja, 99,4% da população sabe ler e escrever, e isso em um país de 144 milhões de habitantes (censo de 2010), considerado o maior do planeta com mais de 17 milhões de quilômetros quadrados.

Em todo o país, são 618 universidades mantidas pelo governo, além de 619 instituições de ensino superior privadas, mas com participação governamental. O sistema da educação russo é dividido em Básico (9 anos), Segundário (3 anos) e Superior (4 anos).

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