ACOMPANHE-NOS     Campo Grande News no Facebook Campo Grande News no Twitter Campo Grande News no Instagram
ABRIL, TERÇA  16    CAMPO GRANDE 23º

Reportagens Especiais

Comissão de revisão histórica quer mudar data de aniversário para junho

Documento entregue no dia 9 de novembro na Câmara de Vereadores defende aniversário na data em que foi criado o Distrito de Paz de Dourados, em 15 de junho de 1914

Helio de Freitas, de Dourados | 17/12/2015 07:27
Comissão de revisão histórica quer mudar data de aniversário para junho
Cidade de Dourados, que neste domingo completa 80 anos; comissão quer mudar data de aniversário (Foto: Eliel Oliveira)
Cidade de Dourados, que neste domingo completa 80 anos; comissão quer mudar data de aniversário (Foto: Eliel Oliveira)

Neste domingo, 20 de dezembro, Dourados comemora 80 anos de emancipação. Mas, para a Comissão de Revisão Histórica que há anos vasculha documentos sobre o surgimento do povoado e da emancipação da cidade, o aniversário deve ser em 15 de junho, data em que foi instalado o Distrito de Paz de Dourados, no ano de 1914. Ou seja, além da mudança da data de aniversário, esse grupo de historiadores defende também a tese de que a cidade deveria comemorar agora 101 e não 80 anos.

O Campo Grande News teve acesso ao “Relatório 01, A História da gênese da formação de Dourados”, elaborado pelo professor e historiador Carlos Magno Mieres Amarilha, presidente da Comissão de Revisão histórica de Dourados. O documento foi entregue à Câmara de Vereadores no dia 9 de novembro deste ano.

Segundo ele, o relatório é uma análise dos documentos oficiais – leis, decretos e resoluções – instituídos pelo governo do Estado de Mato Grosso e relacionados com a cidade de Dourados no período de 1900 a 1935, bem como sobre povoado do Patrimônio de Dourados, que se tornou a sede do território do Distrito de Paz de Dourados, em 1914.

“Conforme as pesquisas realizadas até o momento, tudo indica que foi no final do século XIX e início do século XX que começa a efetivar-se uma população não índia entre fazendeiros e agregados nos contornos do território que daria origem ao município de Dourados. Após a Guerra do Paraguai, há uma ocupação efetiva por fazendeiros das terras conquistadas e das demais terras nas faixas de fronteiras; essas terras eram conhecidas como ‘devolutas’.

Praticamente, em todo o território do extremo sul do estado de Mato Grosso, desde o final do século XIX e início do século XX, as terras devolutas eram cedidas para uma empresa que ficou conhecida como a ‘Companhia Mate Larangeira’, que extraía a erva mate nativa desta região para levar até Buenos Aires, capital da Argentina”, afirma o relatório.

Decreto do Distrito de Paz – O documento aponta como prova cabal para embasar a proposta de alteração na data de fundação da cidade a Lei nº 658, de 15 de junho de 1914, criando o Distrito de Paz de Dourados com sede no “Patrimônio dos Dourados”, constituída no governo de Joaquim Augusto da Costa Marques.

Outras leis e decretos estabelecidos desse ano em diante, até a fundação oficial, em 1935, também são relacionados no documento, entre eles o decreto nº 401, de 3 de setembro de 1915, assinado pelo governador Caetano Manuel de Faria Albuquerque, criando a “colônia de índios de Dourados”, em uma área reservada de 3.600 hectares de terras, em limite com o “Patrimônio de Dourados”. A área é a atual reserva de Dourados, formada pelas aldeias Bororó e Jaguapiru.

Também é citado o decreto nº 402, de 3 de setembro de 1915, reservando 3.600 hectares de terras para a criação do povoado de Dourados. Oito anos depois foi editado o decreto nº 616, de 20 de janeiro de 1923, assinado pelo governador Pedro Celestino Corrêa da Costa, reservando 50 mil hectares de terras para a colonização de ‘não índios’, situada entre os rios Brilhante e Panambi, no então município de Ponta Porã, em área pertencente ao distrito do Patrimônio de Dourados.

“A lei 658 é o primeiro documento oficial mais antigo relacionado ao atual município de Dourados e o qual se cria oficialmente o Distrito de Paz de Dourados, pertencente ao município de Ponta Porã, com sede no Patrimônio de Dourados. O município de Ponta Porã foi criado por meio da Resolução n.º 617, de 18 de julho de 1912, sancionada pelo governador Joaquim Augusto da Costa Marques e instalada a Prefeitura de Ponta Porã em 25 de março de 1913, sendo nomeado como primeiro Intendente (na época os prefeitos eram chamados de intendentes) o Major Ponciano de Mattos Pereira, fazendeiro da região do Patrimônio de Dourados”, afirma o relatório.

Resultado de lutas e desafios – “O Distrito de Paz de Dourados, criado pela Lei n.º 658 de 15 de junho de 1914, é o primeiro documento oficial relacionado com a cidade de Dourados e o reconhecimento como a sede do distrito de um lugar que efetivamente tinha um aglomerado de pessoas, o pequeno povoado conhecido como Patrimônio de Dourados. Sendo assim, o dia 15 de junho é a data mais antiga em termos oficiais que se refere à atual cidade de Dourados, uma conquista dos moradores desta região. É o resultado de muitas lutas, entreveros, desafios, atitudes, coragens, armas, sangues e muitas articulações políticas, com as lideranças de Cuiabá e de Ponta Porã para poder se efetuar de fato em um Patrimônio conhecido como Dourados. Daí a importância de se comemorar o dia da criação do Distrito de Paz de Dourados em 15 de junho”, diz trecho do relatório da comissão.

Magno Mieres Amarilha conclui o estudo com um apelo aos atuais legisladores: “Temos que incluir na História de Dourados o dia 15 de junho, um dia de Dourados, de cantar a sua história e a sua cultura, com beleza, paz e amor. Afinal o dia 15 de junho representa o reconhecimento do Patrimônio de Dourados como sede oficial do Distrito de Paz de Dourados, significa lembrar-se de onde viemos, a nossa origem, na sociedade ervateira e de famílias que enfrentaram as barbáries, as matas fechadas, com coragem, determinação e lutaram para transformar em uma primorosa cidade”.

Nos siga no Google Notícias